Entre os dias 15 e 19 de outubro de 2018, nas dependências do prédio de Ciências Sociais e Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), ocorreu o evento Marx 200, organizado por pós-graduados e pós-graduandos em Sociologia e Ciência Política da USP com o apoio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), do Departamento de Sociologia/USP, do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) e da editora Boitempo.
Na conferência de abertura, o professor Gabriel Cohn (Ciência Política-USP) discorreu sobre a importância que as noções de forma e modo têm no pensamento de Marx. Segundo Cohn, na operacionalização dessas categorias encontraríamos a dialética histórica de Marx em ação. Nesse caso, elas se oporiam às leituras que frisariam as categorias de Marx como cristalizações de entes sociais, como as classes sociais.
No dia seguinte, 16 de outubro, na mesa intitulada “Marxismo e Cultura”, Bruna Della Torre (Teoria Literária – USP) analisou a relação entre o Manifesto Comunista e a literatura, em especial no que diz respeito aos possíveis vínculos de sua forma com aquelas assumidas pelos manifestos vanguardistas posteriores. Já Luiz Renato Martins (Escola de Comunicações e Artes – USP) expôs sua interpretação sobre a relação de Charles Baudelaire e alguns de seus contemporâneos com a derrota operária de junho de 1848. Fábio Mascaro Querido (Sociologia – Unicamp) examinou a particularidade da obra de Roberto Schwarz. Ao final, Daniela Vieira (Sociologia – Unicamp) leu uma carta endereçada a Marx na qual investigava alguns dos principais traços da situação contemporânea.
No mesmo dia, ocorreu a mesa “As obras de Marx”. João Quartim de Moraes (Filosofia – Unicamp) discorreu sobre o lugar da ciência e sua relação com a filosofia na obra de Marx. Ricardo Musse (Sociologia – USP) averiguou o lugar do Estado no primeiro volume de O Capital. Tercio Redondo (Literatura e Língua Alemã – USP) tratou dos escritos literários do jovem Marx.
No dia 18 de outubro, na mesa “Marxismo e Trabalho”, Ludmilla Abílio (CESIT-Unicamp) investigou algumas das principais mudanças no mundo do trabalho atual e as dificuldades que elas acarretam para a teoria marxista. Paula Marcelino (Sociologia – USP) expôs uma periodização acerca da evolução dos estudos sobre as relações entre classes sociais, sindicalismo e reconfigurações do trabalho no Brasil. Ricardo Antunes (Sociologia – Unicamp) destacou o que entende ser as principais pistas lançadas por Marx em sua obra teórica para entender as atuais mudanças do mundo do trabalho.
Mais tarde, na mesa “Marxismo, Política e Crise contemporânea”, Ruy Braga (Sociologia – USP) explorou a relação entre marxismo e conjuntura e destacou que, a partir da crise econômica mundial de 2008, teria havido uma mudança de sentido do neoliberalismo. Segundo Braga, desde então, o neoliberalismo tem se mostrado cada vez mais incompatível com a democracia liberal. Armando Boito Júnior (Ciência Política – Unicamp) comentou os principais recursos fornecidos pelo marxismo e algumas de suas dificuldades para a realização de pesquisas na área de Ciência Política. De acordo com Boito Jr., a tradição economicista e a aversão ao estudo de outras correntes de pensamento, para sua posterior incorporação ao arcabouço teórico marxista, são duas das principais dificuldades para os estudos políticos marxistas. Leda Paulani (Economia –USP) realizou um panorama da relação entre modernidade e capitalismo segundo o marxismo. André Singer (Ciência Política – USP) frisou, por um lado, a importância de reconhecer a especificidade da dinâmica eleitoral como, por outro, os principais riscos da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à democracia brasileira.
Na primeira mesa de 19 de outubro, cujo título era “Marxismo nas periferias do capitalismo”, Gabriel Siracusa (Ciência Política – USP) analisou os escritos de Marx sobre o Oriente. Por sua vez, Leonardo Octavio Belinelli de Brito (Ciência Política – USP) examinou a concepção de marxismo de Fernando Henrique Cardoso. Rafael Marino (Ciência Política – USP) observou a relação entre dialética e negatividade na obra de Roberto Schwarz. Por fim, Karina Fernandes (FASP e FCH) expôs os principais elementos teóricos da chamada Teoria Marxista da Dependência com especial atenção aos aspectos do livro Dialética da dependência (1973) de Ruy Mauro Marini.
Na mesa de encerramento, intitulada “Novas leituras de Marx”, Zaira Vieira (UEMC) fez uma exposição crítica a respeito das principais releituras de Marx no pós-1960, com destaque para a obra de Moishe Postone. Ricardo Pagliuso (UFBA) analisou a contribuição de Robert Kurz, como continuador da primeira geração da Teoria Crítica, para a releitura de Marx. Ao final, Wolgang Leo Maar (Filosofia – UFSCAR) analisou a obra de Marx à luz da interpretação da Teoria Crítica.
No site de compartilhamento Youtube estão disponíveis as filmagens das mesas.