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Início > Política Internacional e Estados Unidos

A Sátira no Campo de Batalha: The Wipers Times como instrumento de sobrevivência na Sociedade das Trincheiras

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Gabriel Pinho Brochado[1]

Figura 1 – Capa da primeira edição do periódico satírico “The Wipers Times”, 12 de fevereiro de 1916. Fonte: British Library; Imperial War Museum. Disponível em: https://www.proquest.com/magazines/cover/docview/1435578602/se-2.

A Great War (1914-1918) foi um conflito que, de modo sem precedentes até então, envolveu uma grande gama de países e impactou milhões de homens, mulheres, idosos e crianças. Como menciona Adams, trata-se de uma guerra que, em alguma medida, mudou “a vida e o futuro de todos os homens e mulheres do planeta”.[2] Discutir o desenvolvimento e impacto da Primeira Guerra Mundial compreende não só analisar documentos oficiais, posições políticas, formação de alianças e estratégias militares, mas também observar a vida nas cidades, as relações sociais, as frentes domésticas de proteção, a atuação de organizações humanitárias e, sobretudo, o funcionamento da vida nas trincheiras e regiões adjacentes.

O que Bloch denominou de “a sociedade das trincheiras” era um ecossistema complexo, onde militares de diferentes patentes eram apenas um entre tantos outros sujeitos que integravam esse ambiente.[3] As trincheiras não se resumiam ao campo de batalha onde soldados se enfrentavam, mas constituíam um espaço social estruturado, no qual indivíduos assumiam diferentes responsabilidades, influenciando a dinâmica de vilas e cidades vizinhas e ocupadas. Enquanto comunidades organizadas, as trincheiras adotaram e preservaram valores e práticas sociais condicionadas por uma experiência comum: indivíduos que compartilhavam a vida e a morte na trincheira.[4] Como menciona Seal, “[u]ma vez que se juntaram às suas unidades, os soldados foram amplamente isolados do mundo exterior, exceto na medida em que o Exército permitisse o contato com o correio e, talvez, períodos curtos e pouco frequentes de licença”.[5]

A vida nas trincheiras, apesar de nova para os seus “membros”, era resultado de expressões e práticas baseadas em aspectos da própria vida cívica e elementos da tradição militar. A construção desse pertencimento também passou pela adoção de atividades de lazer comuns à vida nas cidades, como esportes, jogos de azar, peças teatrais, concertos, cantorias e celebrações festivas.[6] Dentre essas atividades recreativas, importantes para a manutenção da humanidade do combatente e construção de conexões sociais, estava a atividade de leitura (de livros a notícias) e a confecção de jornais próprios dos combatentes.[7]

Os jornais de trincheiras (“Trench newspapers”)

Os jornais de trincheiras foram publicações escritas por, para e sobre soldados.[8] Eram periódicos que variavam em qualidade e frequência, produzidos por qualquer regimento, inclusive por divisões específicas,  tanto no front quanto na retaguarda, em cidades ocupadas, centros de treinamento e outras áreas militares.[9] Por isso, apresentavam diferenças significativas entre si, especialmente na escrita, na qualidade do material e na linguagem utilizadas, refletindo as condições e experiências de cada regimento.[10] Além de funcionarem como meio de comunicação, constituindo uma oportunidade única de diálogo público entre as tropas, eram também uma forma de entretenimento e de terapia para os soldados.

Os jornais britânicos, em particular, destacavam-se pelo tom predominantemente sarcástico, marcado pelo deboche e humor.[11] Editado pelo capitão F. J. Roberts, o The Wipers Time é considerado o principal exemplo desse gênero. Criado após a descoberta de uma imprensa em desuso em Ypres, Bélgica,[12] sua primeira edição data de 12 de fevereiro de 1916. Com o deslocamento da divisão pelos campos de batalha, o jornal assumiu diferentes nomes, como The “New Church” Times, The Kemmel Times, The Somme-Times e The B.E.F. Times. Ao fim da Guerra, passou a se chamar The Better Times,[13] sendo a sua última edição publicada em 1º de dezembro de 1918.

The Wipers Times: uma análise da primeira edição

A análise da primeira edição do The Wipers Times nos permite extrair alguns exemplos do tom satírico da sua linha editorial. Imitando a clássica estrutura dos jornais mainstream, o humor aparece no editorial, nos falsos anúncios publicados e nas supostas cartas enviadas por leitores, nos poemas, crônicas, peças teatrais e histórias curtas. Cada seção é repleta de deboche, críticas e humor.

A primeira linha do editorial já estabelece a proposta do jornal: “Tendo conseguido arranjar um equipamento de impressão (ligeiramente sujo) por um preço acessível, decidimos produzir um jornal.” Há uma evidente ironia em relação ao contexto da Primeira Guerra Mundial. A expressão “slightly soiled” minimiza, com sarcasmo, a situação de destruição da cidade de Ypres devido aos bombardeios. O comentário sobre o “preço acessível”, quando, na verdade, tratava-se de escombros de uma gráfica local destruída pela guerra, transforma a recuperação de destroços em uma espécie de transação comercial costumeira. A passagem revela a estratégia do jornal em aplicar uma linguagem cotidiana da vida civil para descrever o cenário de guerra.

O humor acompanha o restante do texto, especialmente nas desculpas pelo “atraso” da publicação: “[t]ivemos muitas visitas indesejadas perto da nossa gráfica nos últimos dias,” em referência aos frequentes bombardeios inimigos, tratados como meras inconveniências de visitas indesejadas. A menção à suposta dificuldade em “obter um cheque especial no banco local” também transforma o cenário de guerra, através do humor, a um mero problema cotidiano típico de uma empresa gráfica.

Em outro trecho do editorial, encontramos passagens ridicularizando os alemães: “We hope to publish the ‘Times’ weekly, but should our effort come to an untimely end by any adverse criticism or attentions by our local rival, Messrs. Hun and Co.”[14] “Hun” é a forma como os Aliados chamavam os alemães durante a Grande Guerra, por considerá-los bárbaros, um inimigo bestial.[15] A guerra contra o inimigo no front, portanto, é transformada em uma empresa concorrente, em que a morte (“um fim prematuro por críticas maldosas ou interferência do nosso concorrente local”) é reduzida a uma disputa entre empresas. O uso do termo “críticas adversas” podem, ainda, aludir a possíveis censuras internas. Desse modo, os perigos e desafios envolvidos na guerra são tratados como simples desafios editoriais.

A sátira é outro elemento presente em todas as seções do jornal. Na seção de anúncios (falsos), por exemplo, o “Hotel des Ramparts” é anunciado como reformado e redecorado, embora estivesse em ruínas, totalmente destruído pela guerra: “Nenhuma despesa foi poupada pela nova administração na redecoração e reforma deste hotel de primeira classe”. A frase também simula o estilo publicitário presente nos jornais civis, ao mesmo tempo que ridiculariza a normalização da guerra e a sua destruição, satirizando a realidade vivida pelos combatentes. Outro caso que merece menção é a venda de propriedades em Hill 60, descrito como um local “bright, breezy and invigorating”, apesar de ser, em verdade, um dos pontos mais perigosos do front. O terreno com vista privilegiada é, assim, uma descrição de um cenário sombrio de guerra e seus intensos bombardeios na região.

Já na seção de esportes, temos talvez o melhor exemplo do tom jornalístico do jornal. Em “Golf Notes”, o The Wipers Times descreve um “campo de golfe”—que, na realidade, era o próprio campo de batalha devastado, repleto de crateras e obstáculos causados pelos bombardeios. A situação é apresentada como: “The Sanctuary Wood course was opened on Saturday, under delightful climatic conditions, and before a large and representative throng.”[16] O tom irônico é evidente: o campo de batalhas é descrito como um clube elegante; as crateras como meros desafios naturais; e os soldados como espectadores e jogadores. As baixas da guerra são tratadas como bolas de golfe mal jogadas ou acertadas com precisão no buraco. A ridicularização da brutalidade da guerra funciona, aqui, como recurso literário e artístico que, pela perspectiva dos combatentes, constrói uma crítica à própria realidade vivida. Além disso, a seção imita propositalmente o estilo jornalístico das reportagens esportivas tradicionais, satirizando a linguagem e a retórica heroica associada ao esforço de guerra.

O The Wipers Times representa, assim, um meio de resistência simbólica dos soldados. Como apontado, o “principal meio de defesa contra a sensação assustadora de sua mortalidade era rir dela.”[17] Há uma transformação da realidade de guerra por meio da adoção do humor e ironia, transportando elementos da vida civil ao front como meio de crítica, humanização e sobrevivência.

Conclusão: O The Wipers Times e sátira como instrumentos de sobrevivência

Os jornais de trincheiras[18]devem ser vistos como parte fundamental da construção e preservação da vida social nas sociedades das trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial. Mais do que simples publicações, os periódicos produzidos por soldados ampliavam a cultura e humanidade das tropas, auxiliavam nos momentos de lazer e serviam como espaço de expressão de medos, frustrações e críticas dos combatentes.

O The Wipers Times exemplifica como o humor e a sátira eram ferramentas à disposição dos soldados para o fortalecimento da sua identidade coletiva, mesmo no contexto crítico de guerra. Considerando esse cenário, é importante entender como os jornais eram encarados como parte de uma rotina de lazer e entretenimento, mas também como poderosos recursos para a expressão e crítica no front.

* Este texto não reflete necessariamente as opiniões do Boletim Lua Nova ou do CEDEC. Gosta do nosso trabalho? Apoie o Boletim Lua Nova!

Referências

ADAMS, R. J. Q. The Great War, 1914–18: Essays on the Military, Political and Social History of the First World War. [S. l.]: Springer, 1990.

BLOCH, M. História e historiadores. [S. l.]: Teorema, 1998.

BULL, S. Trench: a history of trench warfare on the Western front. Oxford: Osprey Publishing, 2014.

SEAL, G. ‘We’re Here Because We’re Here’: Trench Culture of the Great War. Folklore, [s. l.], v. 124, n. 2, p. 178–199, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1080/0015587X.2013.793068.

THE HUN: WHY DID THE ALLIES CALL GERMANS “HUNS” DURING WW1? | HISTORYEXTRA. [S. l.], [s. d.]. Disponível em: https://www.historyextra.com/period/first-world-war/allies-call-germans-huns-why/. Acesso em: 25 mar. 2025.

THE WIPERS TIMES: THE SOLDIERS’ PAPER | NATIONAL ARMY MUSEUM. [S. l.], [s. d.]. Disponível em: https://www.nam.ac.uk/explore/wipers-times. Acesso em: 18 mar. 2025.

TRENCHES HUMOUR: THE SATIRICAL NEWSPAPER THAT WAS A MASTERCLASS IN USE. [S. l.], 2013. Disponível em: https://www.independent.co.uk/news/uk/home-news/trenches-humour-the-satirical-newspaper-that-was-a-masterclass-in-use-of-comedy-against-industrialised-death-8691232.html. Acesso em: 18 mar. 2025.


[1] Gabriel Pinho Brochado é doutorando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), financiado com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). E-mail: gabrielpinhob@gmail.com

[2] ADAMS, R. J. Q. The Great War, 1914–18: Essays on the Military, Political and Social History of the First World War. [S. l.]: Springer, 1990. p. 2., tradução própria

[3] BLOCH, M. História e historiadores. [S. l.]: Teorema, 1998. p. 193.

[4] SEAL, G. ‘We’re Here Because We’re Here’: Trench Culture of the Great War. Folklore, [s. l.], v. 124, n. 2, p. 178–199, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1080/0015587X.2013.793068

[5] Ibid., p. 179., tradução própria

[6] Ibid., p. 184.

[7] Bull explica que a leitura era uma atividade particularmente popular, em especial nos momentos em que a guerra se transformava em uma “guerra de posição” (ou “estática” em seus termos). BULL, S. Trench: a history of trench warfare on the Western front. Oxford: Osprey Publishing, 2014. p. 86.

[8] Ibid., p. 87.; SEAL, 2013, p. 179.

[9] Seal menciona que muitos dos jornais de trincheiras atingiram centenas de milhares de jornais em circulação, sendo até mesmo encontrados em bancas britânicas. SEAL, 2013, p. 179.

[10] BULL, 2014, p. 87.

[11] Ibid.

[12] O nome do jornal “Wipers” refere-se à pronúncia inglesa do nome da cidade.

[13] THE WIPERS TIMES: THE SOLDIERS’ PAPER | NATIONAL ARMY MUSEUM. [S. l.], [s. d.]. Disponível em: https://www.nam.ac.uk/explore/wipers-times. Acesso em: 18 mar. 2025.

[14] A tradução para essa passagem é: “Pretendemos lançar o ‘Times’ semanalmente, mas, caso nosso esforço tenha um fim prematuro por críticas maldosas ou pela interferência do nosso concorrente local, os senhores Hun & Cia., consideraremos isso uma falta de consideração.”

[15] THE HUN: WHY DID THE ALLIES CALL GERMANS “HUNS” DURING WW1? | HISTORYEXTRA. [S. l.], [s. d.]. Disponível em: https://www.historyextra.com/period/first-world-war/allies-call-germans-huns-why/. Acesso em: 25 mar. 2025.

[16] A tradução para essa passagem seria: “O campo de Sanctuary Wood foi inaugurado no sábado, sob condições climáticas encantadoras e diante de uma grande e representativa multidão.”

[17] TRENCHES HUMOUR: THE SATIRICAL NEWSPAPER THAT WAS A MASTERCLASS IN USE. [S. l.], 2013. Disponível em: https://www.independent.co.uk/news/uk/home-news/trenches-humour-the-satirical-newspaper-that-was-a-masterclass-in-use-of-comedy-against-industrialised-death-8691232.html. Acesso em: 18 mar. 2025.

[18] “Trench newspapers” no original (BULL, 2014).

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