A teoria da liberdade de Mary Wollstonecraft

Por Gabriel de Matos Garcia. Mary Wollstonecraft pode ser caracterizada como uma republicana feminista. Republicana porque defende um conceito republicano de liberdade, o qual podemos denominar: “liberdade como independência”. Feminista porque defende a igualdade entre os sexos e porque possui uma interpretação da dominação masculina exercida sobre as mulheres. (HALLDENIUS, 2015). Obviamente, esses dois elementos interagem entre si e se influenciam mutuamente. O elemento republicano condiciona e estrutura todo o pensamento feminista de Wollstonecraft, ao passo que o elemento feminista faz com que Wollstonecraft desafie e qualifique o pensamento republicano de seu tempo, sem, entretanto, abandonar os seus princípios fundamentais. Meu objetivo neste breve texto é analisar um dos conceitos centrais dessa teoria feminista republicana de Wollstonecraft: o conceito de liberdade.

A Filosofia Enegreceu: Entrevista com Érico de Andrade (Parte II)

Por Ronaldo Tadeu de Souza. O Boletim Lua Nova entrevistou Érico Andrade, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF), professor associado do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e bolsista produtividade do CNPq. Agradecemos imensamente a disponibilidade e generosidade do Érico em nos conceder esta entrevista. Nesta segunda parte, conversamos sobre os principais desafios da filosofia hoje e da nova diretoria da ANPOF.

A Filosofia Enegreceu: Entrevista com Érico de Andrade (Parte I)

Por Ronaldo Tadeu de Souza. O Boletim Lua Nova entrevistou Érico Andrade, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF), professor associado do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e bolsista produtividade do CNPq. Agradecemos imensamente a disponibilidade e generosidade do Érico em nos conceder esta entrevista. Nesta primeira parte, conversamos sobre a existência de uma filosofia brasileira, e o papel de pensadores negros e pensadoras negras no desenvolvimento dela.

O legado de Hugo Chávez e a Venezuela atual

Por Kátia A. Fukushima. No dia 05 de março de 2023, completaram-se dez anos da morte de Hugo Chávez. Então, recebi o convite para escrever sobre o legado de Chávez e os desdobramentos na política da Venezuela, um dos temas que tem ocupado minha agenda de pesquisa há um tempo . A grande dificuldade de se analisar a situação venezuelana são as informações enviesadas com as quais nos deparamos, sejam aquelas pró-governo ou aquelas que seguem a mídia hegemônica atribuindo à figura de Hugo Chávez todos os males do país e, quiçá, do mundo.

Algumas considerações sobre a regulação do financiamento de campanha como estratégia de “insulamento” da esfera política em face do poder econômico

Por Ulysses Ferraz. No cerne da democracia repousa um ideal de igualdade política. Num regime democrático, espera-se que todos devam ter a mesma oportunidade de influenciar as decisões políticas. De acordo com Robert Dahl (2016, pp. 44-45), ainda que a palavra democracia seja usada de vários modos diferentes, é possível afirmar que as decisões de associação no âmbito de uma sociedade democrática devem estar de acordo com o seguinte princípio elementar: “todos os membros deverão ser tratados (sob uma constituição) como se estivessem igualmente qualificados para participar do processo de tomar decisões sobre as políticas que a associação seguirá”. Mas podemos realmente esperar que as pessoas possam ter poder político igual enquanto a desigualdade econômica cresce? É fato que a maioria dos países está ficando cada vez mais desigual .

Os “arquivos do imperialismo” e a história do esporte cubano

Por Renato Beschizza Valentin. O presente texto consiste numa série de comentários acerca de um artigo de minha autoria, intitulado O que os “arquivos do imperialismo” nos ensinam sobre o fenômeno da deserção de atletas cubanos durante a Guerra Fria , publicado recentemente pela Revista Lua Nova e incluído no acervo digital da Assembleia Legislativa de Minas Gerais . Nesse artigo, há uma reconstrução histórica do fenômeno da deserção de atletas cubanos durante a Guerra Fria, com base em documentos outrora secretos do governo dos Estados Unidos que se encontram à disposição nos acervos digitais da Central Intelligence Agency (CIA) e dos National Archives.

Kelsen e Teoria Marxista do Direito

Por Antonio C. Wolkmer. Após a Segunda Guerra Mundial, adquiriu-se enorme interesse pelo estudo da teoria marxista do Direito, principalmente com a tradução para o inglês das principais obras dos juristas soviéticos, sua divulgação por meio das críticas contundentes feitas no Ocidente – especialmente por Hans Kelsen – e a forte incidência política da antiga União Soviética sobre a Europa em grande parte do século XX. O efeito dessa redescoberta foi não apenas despertar uma série de estudos críticos sobre os fundamentos normativos da Teoria Geral do Direito, mas, sobretudo, priorizar interpretações de cunho ideológico no Direito positivo predominante nos países de tradição liberal, dominados pelo modo de produção capitalista.

Sim, é apartheid! Ressignificando o caso palestino/israelense

Por Fábio Bacila Sahd. Já são antigas as comparações entre as práticas do regime de apartheid contra os “não brancos” e as israelenses contra o povo palestino , especialmente, a partir da ocupação e colonização da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, em 1967. A propósito, para além de acadêmicos (como, dentre tantos outros, o israelense Uri Davis e o palestino Edward Said), desde os anos 1960, lideranças sul-africanas fizeram tais alusões, tanto membros do próprio governo, como Hendrik Verwoerd, quanto da oposição, como Nelson Mandela e Desmond Tutu. Inclusive, analogias figuram também em resoluções da Organização para a Unidade Africana que, partindo do colonialismo e racismo afins, equivaleram as situações então vigentes, chegando a considerar, literalmente, a Questão Palestina como uma “causa africana”.

Propriedade e autoridade em John Locke: um estudo do Capítulo V do Segundo Tratado Sobre o Governo Civil

Por Lucas Herzog. Autor central na elaboração teórica dos princípios do liberalismo político, ou defensor da imposição de uma ordem legal baseada no chicote aos cidadãos de segunda classe? Articulador da ideia da legitimidade da autoridade política como produto do consenso, ou um crítico da fragilidade do instrumental calculista tipicamente liberal? Essas são algumas das leituras que intérpretes contemporâneos divulgaram a respeito da obra de John Locke, teórico político cujos escritos acompanharam o desenrolar do século XVII. Os diferentes diagnósticos a respeito de seus textos refletem as distintas perspectivas adotadas na compreensão dos autores clássicos. Estas variam desde interpretações anacrônicas que buscam extrair o sentido das ideias passadas a partir de expectativas ligadas ao tempo presente, até ensaios que se orientam em perspectiva oposta, ancorando o olhar sobre esses autores a partir de seu contexto histórico – tanto político quanto intelectual.

Experiência política autêntica – dinâmicas emocionais em junho 2013[1]

Por Cristiana Losekann. Na observação do contexto político desde 2013, no Brasil, fica evidente que as emoções como a raiva ganharam relevância impulsionando a ação política. Apesar disso, pouco se sabe sobre as dinâmicas que permeiam os processos afetivos da política e como eles estão conectados com outros aspectos da vida. É nesse sentido que proponho a observação das dinâmicas emocionais e afetivas para a melhor compreensão do processo político recente no Brasil. Dos protestos de 2013 às eleições de 2018, as dinâmicas políticas em diversas vertentes ideológicas, tanto à esquerda quanto à direta, envolveram jogos emocionais de alta intensidade e tensionamentos, produzindo momentos de entusiasmo e incentivos à ação. A chave para explicar o que se passou em junho de 2013 está, entre outros fatores, na compreensão do desejo por uma vivência política autêntica como elemento central de uma experiência política.