Vira-latismo na Segurança Pública: Modelos Comparados Brasil-EUA

Por João Gaspar. Muito se vem discutindo no Brasil, nos últimos anos, acerca do modelo de ciclo de policiamento incompleto adotado pelo nosso país e sobre a proposta de transformação das nossas guardas municipais em polícias municipais. Não raro, defensores da implantação, aqui, do modelo de ciclo de policiamento completo e do nível local de jurisdição policial procedem a uma idealização das formas estadunidenses para justificar sua importação.
Grande Estratégia e Potências Médias no Pós Guerra Fria: Um estudo exploratório sobre o Brasil

Famoso nas linhas traçadas por “X”, pseudônimo de George F. Kennan, em artigo publicado na revista Foreign Affairs, de 1947, que apresentou a “contenção”, a mais bem sucedida grande estratégia adotada, no caso, pelos EUA contra a URSS, o conceito de Grande Estratégia (GE) é uma categoria tradicionalmente aplicada às Grandes Potências (Kennedy, 1991; Posen, Ross, 1997; Taliaferro et all, 2013; Brands, 2014; Martel, 2015; Milevski, 2016; Silove, 2017; Gaddis, 2018; Lissner, 2018). A razão para não se considerar que potências menores desenvolvem grande estratégia inclui a falta de condições de implementar seus objetivos de longo prazo, a dependência destes países na segurança fornecida pelas grandes potências e a natureza das alianças estabelecidas entre ambas.
O Presente como problema na democracia brasileira: pesquisa e intervenção em Ciência Política e Direito Constitucional

Por Andrei Koerner, Mariele Troiano e Lígia Freitas Barros. O artigo faz uma análise da produção acadêmica sobre a democracia brasileira, focando em duas áreas de conhecimento: ciência política e direito constitucional. Ele contribui para o conhecimento dessa produção acerca da democracia constitucional brasileira atual ao evidenciar como as análises políticas e constitucionais se relacionam com o tempo, apontando formas recentes de redefinir essa relação. De modo geral, o trabalho aproxima-se de estudos da história do presente e propõe novas perspectivas de pesquisa, reflexão e ação política em prol de uma democracia constitucional mais substantiva.
Nós, os(as) desenvolvimentistas: homenagem à professora Maria da Conceição Tavares

Por Johnny Daniel M. Nogueira. O pensamento crítico e desenvolvimentista brasileiro e mundial perdeu, no dia 08 do mês de junho, uma de suas mentes mais brilhantes e criativas. Maria da Conceição Tavares é um nome que ressoa com força e respeito na academia e nos debates econômicos. Nós, sociólogos, cientistas políticos e, sobretudo, economistas, possuímos uma dívida imensurável com a sua contribuição ao pensamento e à produção acadêmica. Sua trajetória intelectual e profissional é testemunho de um compromisso inabalável com o desenvolvimento econômico do país e com a formação de gerações de economistas que carregam, ainda hoje, o ideal desenvolvimentista. Sua formação sólida em matemática e sua capacidade analítica a levaram a desenvolver um pensamento econômico robusto, que combinava rigor teórico com um profundo entendimento das realidades sociais e econômicas brasileiras.
O Brasil na presidência do G20 Financeiro: agendas, dinâmicas e desafios

Por Jefferson Estevo e Alina Ribeiro. O Brasil assumiu a presidência do G20 Financeiro em primeiro de dezembro de 2023 com o lema “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”. Criado em 1999, o grupo é formado pelas dezenove maiores economias do mundo mais a União Europeia. Na Cúpula do Grupo, realizada em outubro de 2022 em Nova Déli (Índia), os 55 países da União Africana passaram a integrá-lo. O Brasil definiu como pilares da sua presidência três eixos: a luta contra a pobreza e a fome, o enfrentamento das mudanças climáticas e a reforma da governança global. Estão previstas cem reuniões oficiais, sendo vinte delas ministeriais e outras cinquenta de alto nível, além de eventos paralelos. Todo esse trabalho culminará na 19ª Cúpula de Chefes de Estado e governo do G20 (Brasil, 2023a), em novembro de 2024 no Rio de Janeiro.
Dois Brasis se enfrentam em 2022?

Por Bernardo Ricupero. Ninguém esperava os resultados do 1º turno das eleições de 2022. Provavelmente elas só foram menos surpreendentes do que os resultados do 1º turno de 2018, quando Jair Bolsonaro teve 46% dos votos e quase não precisou enfrentar o 2º turno. Na esteira do capitão reformado foram então eleitas figuras desconhecidas, como Romeu Zema em Minas Gerais e Wilson Witzel no Rio de Janeiro.
Saúde, desenvolvimento e interpretações do Brasil: uma análise da perspectiva sociológica de Carlos Alberto de Medina

Por Carolina A. Gomes de Brito e Thiago da C. Lopes. Em artigo publicado no número 115 da revista Lua Nova, intitulado “Saúde, desenvolvimento e interpretações do Brasil: uma análise da perspectiva sociológica de Carlos Alberto de Medina”, os autores analisam o pensamento de Carlos Alberto de Medina e sua inserção no campo das ciências sociais no Brasil. Assim, indicam como a obra e a trajetória do sociólogo, ainda pouco conhecidas e estudadas, constituem uma rica fonte para a compreensão dos debates, característicos dos anos 1950 e 1960, sobre as relações entre doença, pobreza, subdesenvolvimento e autoritarismo.
O que a literatura da crise da democracia perdeu: uma reconstrução dos usos do direito em regimes não democráticos do século 20

Por Marina S. Fraife Barreto. Acadêmicas(os) que estudam as “crises da democracia” hoje narram o uso de ferramentas legais por regimes autoritários como suposto traço inédito dos autoritarismos do século 21. Pressupor o atropelo completo do direito pelos autoritarismos do século 20, porém, é enganoso. No recém-publicado artigo Funções do direito em regimes não democráticos do século XX no Dossiê Teoria Política e Democracia da Revista Leviathan (USP), tento demonstrar o erro nesse pressuposto.
O lugar dos especialistas na inclusão na agenda e na formulação de políticas sociais

Por Marcia Clara Oliveira e Renata M. Bichir. A segunda metade dos anos 1990 viu nascer os primeiros programas de transferência condicionada de renda. Com efeito, as experiências locais iniciais foram implementadas no Brasil em 1995, tendo o primeiro programa nacional nascido no México dois anos mais tarde. Passado um quarto de século, é possível observar sua presença em praticamente todos os países latino-americanos (sendo Cuba e Venezuela as exceções), além de haver também um número considerável de programas em vigor em países tão longínquos – em várias dimensões – quanto Indonésia, Filipinas ou Gana. Podemos afirmar que estamos perante um processo de difusão do modelo (Osorio-Gonnet, 2018; Peck e Theodore, 2015).
Sempre Fomos Racistas no Brasil

Por Sofía C. Zanforlin. Recentemente, o debate sobre o racismo no Brasil foi retomado na imprensa a partir de textos publicados em alguns dos principais jornais do país, como a Folha.Em 24 de janeiro foi assassinado o refugiado congolês Moïse Kabagambe, vítima de agressões após cobrar o pagamento atrasado de dois dias de trabalho em um quiosque na Barra da Tijuca, um dos bairros com praias turísticas da cidade do Rio de Janeiro. Apesar disso, espanta que ainda haja dúvida sobre o princípio racista na fundação do projeto de nação brasileiro.