Os burocratas de nível de selva: por um novo olhar sobre os indigenistas
Por Leonardo Barros Soares. Começo esse texto com duas confissões. A primeira é que fiquei emocionalmente muito abalado com as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips no Vale do Javari em meados de junho. Por dever de ofício e, sobretudo, por ser humano, acompanhei o drama cujo desfecho trágico é de conhecimento de todos. Não consigo, no entanto, até hoje, conhecer os detalhes de tão pavoroso evento. Tampouco consegui ouvir o vídeo que tanto circulou nas redes sociais de Bruno cantando uma canção indígena. Não consigo e nem sei se conseguirei um dia. Dá para ver, na imagem sem som, que ele está feliz, no meio da floresta. Eu sei que é um momento muito bonito, muito delicado e absurdamente humano. Por isso não consigo. É demais para mim.
A CPI da Funai e do Incra e os ataques aos direitos territoriais e culturais
Por Priscila Tavares dos Santos. As ações da CPI da Funai e do Incra demonstram nítido interesse em atender às demandas e propósitos próprios desse espaço semântico e social que evocam para si “o poder de influência da narrativa” (BENSA, 1998, p. 51), poder este que assegura a continuidade da realidade social, à moda da casa, inclusive legislativa. Portanto, os efeitos desses atos narrativos e a coerção mediante as ameaças de indiciamentos de antropólogos e de lideranças políticas podem ser vislumbrados em diferentes maneiras, todas convergindo para validar os estatutos sociais dos locutores, para produzir convencimento mediante alteração do curso de acontecimentos históricos, ou mesmo pela modificação de pontos de vista dos inquiridos, de suas atitudes e valores, por desvirtuamento dos acontecimentos.