Pensar Junho de 2013 e o Brasil com Clóvis Moura: o que foi e o que será?
Por Ygor Santos de Santana. Além dos vinte anos do falecimento de Clóvis Moura, 2023 também marcou os dez anos dos protestos de Junho de 2013 e vinte anos da primeira presidência petista. No texto que escrevi para a revista Confluências, teci conexões entre esses eventos, pelo fio do pensamento de Clóvis Moura. Discuto, como resumirei aqui, a contribuição moureana para complexificar as leituras sobre Junho de 2013 e o contexto atual, ao repor a centralidade da questão racial na formação econômica, política, social e histórica brasileira. Exploro a hipótese da limitação constitutiva nas análises sobre Junho de 2013, que não consideram o papel estruturante do racismo na formação social brasileira e, mais de perto, no acirramento dos conflitos que culminaram nos protestos de massa daquele ano. Para isso, mobilizo os conceitos moureanos de quilombagem e grupos diferenciados e específicos, como chaves interpretativas críticas de dados socioeconômicos do período de Junho de 2013 e das leituras que se fazem sobre os protestos. Concluo, então, que Junho de 2013 manifestou os limites de um projeto liberal de esquerda restrito a renegociar os mecanismos de barragem racial, nunca os superar, e que, dez anos depois, é retomado, ignorando as contradições que ali explodiram e que voltam a se avolumar.
Experiência política autêntica – dinâmicas emocionais em junho 2013[1]
Por Cristiana Losekann. Na observação do contexto político desde 2013, no Brasil, fica evidente que as emoções como a raiva ganharam relevância impulsionando a ação política. Apesar disso, pouco se sabe sobre as dinâmicas que permeiam os processos afetivos da política e como eles estão conectados com outros aspectos da vida. É nesse sentido que proponho a observação das dinâmicas emocionais e afetivas para a melhor compreensão do processo político recente no Brasil. Dos protestos de 2013 às eleições de 2018, as dinâmicas políticas em diversas vertentes ideológicas, tanto à esquerda quanto à direta, envolveram jogos emocionais de alta intensidade e tensionamentos, produzindo momentos de entusiasmo e incentivos à ação. A chave para explicar o que se passou em junho de 2013 está, entre outros fatores, na compreensão do desejo por uma vivência política autêntica como elemento central de uma experiência política.
O que 2013 nos diz?
Por Jean Tible. Uma forma frequente de abordar e analisar os protestos, aqui e alhures, é de estabelecer um tipo de tribunal, desde cima, dos seus resultados (imediatos) . Isso significa, no contexto brasileiro (mas poderíamos também dizer no chileno, egípcio, sírio ou tantos outros), decretar o fracasso ou derrota das manifestações, ou ainda seu favorecimento da extrema direita. Percebo essa posição de julgamento como equivocada e, além disso, conservadora e ruim para pensar-lutar.
Junho de 2013 e a importância do coletivo
Por Olívia Cristina Perez. Em meados de Junho de 2013 milhares de brasileiros/as foram às ruas com pautas diversas que incluíam direito à cidade; reconhecimento de direitos para grupos mais sujeitos a opressões sociais, tais como mulheres, negros, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros; além de críticas ao Estado que seria corrupto e incapaz de garantir direitos sociais. Esse ciclo de protestos ficou conhecido como Jornadas de Junho de 2013.