Velhas narrativas, velhas estratégias, novos bloqueios: a antiga CPMI da Terra e a nova CPI do MST
Por Roberta Baggio e Alexandre Carpenedo. O ano de 2003 simbolizou uma importante ruptura na histórica política brasileira. De forma inédita, um candidato que dialogava com os movimentos sociais era eleito. Em 500 anos, era a primeira vez que uma proposta progressista de governo ditaria os rumos do país, para a preocupação, dentre outras categorias, das velhas oligarquias rurais, cujos privilégios eram historicamente garantidos pelo Estado.
A CPI do MST e a questão agrária no Brasil
Por Leonilde S. de Medeiros. Instalada oficialmente em 17 de maio de 2023, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar as ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra encerrou-se em final de setembro, após quatro meses de trabalho, com um relatório oficial, sequer colocado em votação, elaborado pelo deputado Ricardo Salles (Partido Liberal/SP). O relatório, que contém 88 páginas, é seguido de onze propostas de indiciamento e de uma série de projetos de lei a serem apresentados à Câmara dos Deputados, totalizando 280 páginas. Paralelo ao relatório oficial, foi elaborado outro, pela deputada do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) de São Paulo, Samia Bonfim, que desmonta diversos argumentos do relatório oficial, mas que também não foi à votação.
Por que o MST incomoda?
Por Bernardo Mançano Fernandes. No dia 18 de maio o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) publicou uma nota a respeito da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Movimento. A instalação da CPI é mais uma tentativa de criminalizar o MST que há quarenta anos está lutando pela reforma agrária (MST, 2023). Qual o sentido de uma CPI para condenar uma luta necessária para o desenvolvimento do Brasil? É porque o MST é o principal movimento de luta pela terra que impulsiona a reforma agrária; é reconhecido internacionalmente como um dos principais movimentos camponeses do mundo; construiu uma teia e relações com diversas universidades e outras instituições, em escalas nacional e internacional, qualificou a educação, saúde, moradia, produção, industrialização e comercialização em seus territórios e muitos outros territórios da resistência camponesa.