Ruanda, Apesar de Tudo: Uma análise da série ‘Black Earth Rising’ (Parte III)

Marina Costin Fuser. É preferível esquecer as chagas da barbárie, varrer os vestígios de crimes perpetrados pelo Estado para debaixo do tapete, queimar os arquivos, fazer de conta que nada aconteceu. Os julgamentos desta série trazem de volta esses fantasmas, contando histórias, que apesar do enredo ficcional, tratam de histórias vivas, bastante fidedignas e verificáveis, vividas por personagens parecidas com Kate. Kate é Scholastique e André Mukasonga, que perderam quase toda a família no genocídio de Ruanda, que viveram para contar essa história, que carregam consigo a memória de todos os mortos em Ruanda. Hutu ou Tutsi, Kate é também a afirmação da vida, uma esperança de que a memória se restaure para que essa história nunca mais se repita.

Ruanda, Apesar de Tudo: Uma análise da série ‘Black Earth Rising’ (Parte II)

Por Marina Costin Fuser. Na primeira parte deste artigo, eu introduzo a história de Kate Ashby, a sobrevivente de um genocídio que se deu entre hutus e tutsis em Ruanda na série Britânica e Ruandesa ‘Black Earth Rising’. Abordo o assassinato de Eve Ashby, mãe adotiva de Kate desde seu resgate em 1994, que chegou ao Reino Unido sem nome, sem ancestralidade, e sem história. Eve é escalada para atuar como advogada no julgamento do general Simon Niamoya da RPF, um consagrado herói nacional de Ruanda, por atuar na linha de frente que freou o genocídio dos tutsis. A série se inaugura nos bastidores deste julgamento.

Ruanda, Apesar de Tudo: Uma análise da série ‘Black Earth Rising’ (Parte I)

Por Marina Costin Fuser. Ao me propor a analisar a série ‘Black Earth Rising’, me deparei com questões éticas que concernem a meu lugar de enunciação, a saber, de que maneira uma judia ashkenazi (portanto, de origem europeia) é autorizada a falar de genocídios que aconteceram em Ruanda e na República Democrática do Congo? No que pese o fato de eu ser branca e pertencente a uma elite cultural num país onde a maior parte dos descendentes da diáspora africana têm pouco acesso e espaço para elaborar acerca de suas próprias origens, penso que haja um diálogo possível em torno de questões que a série suscita.