Os tempos da antropofagia: revisitando os ensaios Oswald de Andrade
Por Wendel Antunes Cintra. A recepção da obra de Oswald de Andrade ao longo do século XX priorizou sobretudo as dimensões estético-literárias de sua obra, concentrando-se nos debates em torno das tendências do modernismo brasileiro (Campos, 1971a, 1971b; 1974; 2015a; 2015b; George, 1985; Naves, 1998; Veloso, 1997; Herkenhoff, 1998; Fundação Bienal, 1998; Castro, 2002; 2008; 2015). Exceções notáveis, ainda na década de 1970, foram os trabalhos do filósofo belenense Benedito Nunes, “Antropofagia ao alcance de todos” (1972), publicado como estudo introdutório do volume IV das obras completas editadas pela Civilização Brasileira no início dos anos 1970, e o estudo “Oswald canibal” (1979), que de modo pioneiro aproximou a poética antropofágica da filosofia. Em contraste, mais recentemente houve um significativo movimento de explorar essas dimensões filosóficas, antropológicas, sociais e políticas do pensamento oswaldiano, retomando para isso sua produção ensaística dos anos 1940 e 1950 (Nodari, 2007; Castro, 2008; Torre, 2012; Valle, 2017; Ricupero, 2018; Salles, 2019).
O Modernismo Inacabado de Oswald de Andrade
Por Ronaldo Tadeu de Souza. No ano em que se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, veio à tona o debate sobre o predomínio forjado dos paulistas de acontecimento decisivo na formação da cultura brasileira. Não se duvida que alguns dos principais organizadores, divulgadores e personalidades da semana em São Paulo, eventualmente, tinham interesses particulares na construção da ideia de que a cidade era o locus irradiador de inovações das artes no país. E que mesmo a crítica paulista (Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido e Alfredo Bosi, por exemplo) desejou de modo arguto o auto-privilégio em erigir aquela semana como os mais precípuos dias da vida espiritual da nação.