O que o samba e o regime militar têm me ensinado sobre o “mistério” do racismo no Brasil
Por Stephen Bocskay. Deveria ser um fato mais do que evidente que o samba “indiscutivelmente esteve durante todo o século passado e até os dias de hoje estreitamente identificado como uma prática cultivada majoritariamente por negros” (Trotta, 2011, p. 75). No entanto, muitos livros e artigos sobre o gênero, quando não exaltam a cordialidade das relações raciais no Brasil e a importância da intelectualidade brasileira, escamoteiam a formação da história social do negro. Esse, a meu ver, é um impedimento significativo nos estudos sobre samba — um ritmo forjado por mãos negras. Felizmente pesquisadores negros como Muniz Sodré (1979), Nei Lopes (1981, 1992, 2005) e Spirito Santo (2011), por exemplo, têm sido fundamentais na nossa compreensão da história do samba a contrapelo, isto é, através de suas heranças africanas e suas articulações no cotidiano brasileiro.