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Início > Republicação

Terça-feira azul: uma análise das vitórias democratas nas eleições de 2025

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Lucas Amorim[1]

 Carolina Weber[2]

12 de dezembro de 2025

            Em parceria com o Observatório Político dos Estados Unidos (OPEU), o Boletim Lua Nova republica a análise das vitórias recentes dos Democratas nos Estados Unidos. O texto foi originalmente publicado em 5 de dezembro de 2025, no site do OPEU.

***

Em contraste com o Brasil, onde as eleições se realizam tipicamente a cada dois anos – alternando-se entre pleitos gerais (federais e estaduais) e municipais –, o federalismo norte-americano e a tradição de submeter à soberania popular cargos como juízes, promotores, membros de conselhos escolares e secretários estaduais, entre outros, garantem um calendário eleitoral particularmente intenso. Além das eleições gerais para presidente, membros do Congresso e cargos estaduais realizadas nos anos múltiplos de quatro, nos demais anos pares ocorrem as chamadas midterms – ou eleições de meio de mandato –, destinadas à escolha de novos membros do Congresso e de diversos cargos estaduais e municipais.

Há ainda eleições em alguns estados e municípios nos anos ímpares, as off-year elections – eleições fora de ciclo, em tradução livre –, como as realizadas agora em 2025. Nesse pleito, estiveram em disputa cargos como os de governador da Virgínia e de Nova Jersey, bem como as respectivas legislaturas estaduais; vagas na Suprema Corte da Pensilvânia; a cadeira de deputado federal pelo 18º distrito do Texas; além de consultas populares nesse estado e na Califórnia e de eleições especiais para a Câmara federal. O pleito para a Prefeitura e o Conselho da cidade de Nova York foi o que recebeu mais cobertura da mídia, com a emblemática vitória do democrata Zohran Mamdani. Confira abaixo resultados e análises das principais corridas eleitorais.

Virgínia

Na Virgínia, estado que há anos alterna entre hegemonias republicanas e democratas, as eleições realizadas em 4 de novembro de 2025 resultaram em vitórias expressivas para o Partido Democrata, tanto no Executivo estadual quanto na Câmara baixa da Assembleia estadual. A disputa pelo governo marcou um momento histórico: o estado elegeu sua primeira governadora, Abigail Spanberger, que obteve em torno de 57,6% dos votos, superando Winsome Earle-Sears (Partido Republicano), com 42,4%.

A eleição foi interpretada como um referendo indireto do governo Trump, refletindo o fortalecimento do campo liberal em um contexto de aguda polarização nacional. No Legislativo, os democratas conquistaram 13 novos assentos, ampliando sua bancada para 64 das 100 cadeiras. É o melhor desempenho do partido em mais de uma década.

Em quase todos os condados do estado, unidade administrativa intermediária entre os municípios e o governo estadual, houve um movimento significativo a favor dos democratas, se comparado à votação obtida pela então candidata Kamala Harris na eleição presidencial de 2024. O mapa com dados do Departamento de Eleições da Virgínia mostra a virada azul em praticamente todas as regiões, com destaque para os arredores de Richmond, Alexandria, Roanoke e Virginia Beach, tradicionalmente decisivos para o resultado estadual.

Fonte: Mapa detalha movimento significativo a favor dos democratas na esmagadora maioria dos condados da Virgínia (Créditos: Jacque Schrag/Axios, com dados do Departamento de Eleições da Virgínia)

Assim como em 2017, quando as vitórias estaduais serviram de contraponto inicial à administração Trump, o pleito de 2025 reafirma a capacidade dos democratas de converterem a insatisfação nacional em ganhos locais. A vitória de Spanberger consolida o avanço de uma liderança moderada, capaz de dialogar com o centro político e de representar uma alternativa ao discurso polarizador da Casa Branca.

Nesse sentido, a Virgínia se reafirma como um termômetro político nacional, antecipando as mudanças de humor do eleitorado norte-americano e sinalizando que o campo progressista permanece mobilizado.

Nova Jersey

A eleição de 2025 em Nova Jersey reafirmou a força e a estabilidade do Partido Democrata no estado. Houve eleição para governador e Assembleia Estadual (apenas a Câmara baixa) e, em ambas, os democratas obtiveram vitórias expressivas.

A eleição representou um marco significativo para a política de Nova Jersey: Mikie Sherrill venceu o republicano Jack Ciattarelli com pelo menos 56,3% dos votos, garantindo a manutenção do comando democrata no estado por três mandatos consecutivos — algo que não acontecia há mais de seis décadas. O resultado expressa uma combinação de continuidade e renovação dentro do partido. Além disso, Sherrill se tornou a segunda mulher a ocupar o cargo de governadora em Nova Jersey, sucedendo a Christine Todd Whitman, que governou entre 1994 e 2001.

Nas eleições legislativas, o partido ampliou sua maioria na Assembleia estadual, aproximando-se de uma supermaioria de dois terços, o que não ocorria desde 2019. Esse resultado reforça o padrão observado em anos de Presidência republicana, como em 2018, quando os democratas se fortaleceram em nível estadual enquanto enfrentavam oposição em Washington.

A vitória em Nova Jersey também evidencia um aspecto central do atual ciclo político: o poder local como espaço de resistência programática. Diante do retorno de Donald Trump à Casa Branca e da adoção de políticas federais mais conservadoras, estados democratas, como Nova Jersey, buscam consolidar uma agenda alternativa centrada em justiça social, infraestrutura verde e ampliação de direitos. Nesse contexto, o estado reafirma seu papel como bastião liberal na Costa Leste e vitrine das políticas progressistas do partido.

Califórnia

Em junho deste ano, em ligação ao governador do Texas, Greg Abbott, o presidente Donald Trump solicitou às autoridades estaduais que redesenhassem os distritos que são utilizados nas eleições para a Câmara dos Representantes federal. O pedido foi feito após autoridades estaduais receberem com ceticismo a ideia atípica. 

O próximo redistritamento estava marcado apenas para após o próximo censo, em 2030. Trump ameaçou “tomar nota” daqueles que não apoiassem o seu plano, de forma que, em agosto, o presidente da Câmara de Representantes estadual do Texas designou um comitê de 12 parlamentares para elaborar um novo mapa para as circunscrições eleitorais do estado com apoio do governador. O objetivo dessa manobra seria, por meio de um método de engenharia eleitoral, o gerrymandering, garantir vantagem aos republicanos na eleição para a Câmara federal do ano que vem. A manobra poderia render cinco deputados federais republicanos além do previsto.

Normalmente, isso é feito por meio de duas estratégias: diluir o voto dos democratas em áreas onde eles teriam chances de vitória e consolidar os rincões democratas em distritos supermajoritários. Subverte-se, assim, a lógica da democracia. Em vez de os representados escolherem seus representantes nas eleições, os representantes escolhem, de forma partidária, os limites dos distritos pelos quais serão eleitos. 

Na Califórnia, cuja maioria urbana democrata domina as votações no nível estadual, o plano de Trump encontrou um opositor: o governador Gavin Newsom. O democrata engendrou um plano baseado na própria lógica do gerrymandering para anular a vantagem concedida aos republicanos no mapa eleitoral, garantindo cinco deputados federais pela Califórnia, além do projetado. Em oposição ao plano de George Abbott, o de Newsom, que ficou conhecido como Proposta 50 e que prevê um redistritamento antecipado no estado, requereu consulta ao eleitorado na forma de um plebiscito.

No voto encerrado no dia 4 de novembro, o eleitorado californiano chancelou o incomum plano de redesenho do mapa eleitoral no estado no meio do decênio do Censo. Quando este artigo foi escrito, ainda em novembro, segundo o Departamento de Estado da Califórnia, responsável pela realização de eleições e consultas eleitorais, o Sim vencia o Não por uma margem de mais de 29 pontos percentuais.

O eleitorado desse estado da Costa Oeste parece ter dado sólido apoio à estratégia de Newsom de enfrentar o Governo Federal. Deve-se considerar que, além de reequilibrar a disputa para as midterms em 2026, a proposta também busca projetar Gavin Newsom como uma figura nacional e potencializar sua chance de vitória em uma primária democrata para as eleições de 2028.

Pensilvânia

No Brasil, os juízes são selecionados por concurso público, promovidos para a segunda instância internamente, por merecimento ou antiguidade, e apenas os membros dos órgãos de cúpula são nomeados por indicação política. 

Já no estado da Pensilvânia, quando há vaga, os juízes são eleitos, inicialmente, em disputas com alinhamento político-partidário declarado. Após mandato de 10 anos, se desejarem continuar na função, enfrentam eleições de retenção. Nessa ocasião, os eleitores têm a opção de manter o juiz no cargo ou, em caso negativo, declarar o cargo vago e dar início a novo processo de seleção.

Esse era o caso de três juízes da Suprema Corte estadual. Christine Donohue, Kevin M. Dougherty e David Wecht foram alçados à Magistratura como membros do Partido Democrata em 2015, o que garantiu pela última década a maioria de 5 a 2 para a legenda liberal no órgão de cúpula do Judiciário da Pensilvânia. No voto de 4 de novembro, todos os três foram reconduzidos para novo decênio por margem superior a 20 pontos percentuais. Apesar de ter sido interpretado como um desenvolvimento positivo para os democratas em um estado que votou em Trump no ano passado, é válido lembrar que, desde que esse sistema de seleção de juízes foi estabelecido em 1968, apenas um juiz não foi reeleito.

Geórgia

A Geórgia continua sendo um dos terrenos mais dinâmicos da política estadunidense. Antigo reduto republicano, o estado passou por transformações demográficas e políticas profundas. Tornou-se um campo de disputa central desde as eleições de 2020, quando os democratas conquistaram duas cadeiras no Senado, com Jon Ossoff e Raphael Warnock, rompendo décadas de hegemonia conservadora.

Apesar desse avanço, o estado voltou a pender para o lado republicano em 2024, quando Donald Trump venceu Kamala Harris por margem estreita. Ainda assim, o pleito estadual de 2025 mostrou que o movimento democrático segue vivo. Houve eleições para duas vagas na Comissão de Serviço Público, órgão responsável pela regulação de energia, transporte e telecomunicações, e ambas foram conquistadas pelos democratas. Agora, eles contam com uma minoria de 2 a 3 em relação aos republicanos, que mantiveram o controle do órgão.

O resultado é expressivo: mostra que os democratas preservam competitividade mesmo fora das arenas de maior visibilidade, mobilizando eleitorado urbano e jovem em torno de pautas econômicas concretas, como o custo da energia e a modernização da infraestrutura. Assim como ocorreu em 2020, quando o engajamento local foi decisivo para vitórias em cargos federais, a Geórgia de 2025 confirma a tendência de que a política estadual é o novo campo de disputa estratégica nacional.

Em perspectiva histórica, a trajetória da Geórgia ilustra a transição de um estado de voto previsível para um estado-laboratório da democracia contemporânea: o mesmo território que, há poucos anos, era símbolo da estabilidade conservadora, hoje representa a fronteira entre o velho e o novo eleitorado americano, entre o legado trumpista e a tentativa democrata de construir uma coalizão plural e de longo prazo.

Texas

Além de uma série de propostas de emendas à Constituição estadual, que requerem aprovação do voto popular no Texas, houve eleição especial para o Congresso relativa ao 18º distrito do estado. O assento está vago desde março de 2025, após a morte do representante (deputado) democrata Sylvester Turner, aos 70 anos. Turner faleceu na manhã seguinte a seu comparecimento ao discurso do presidente Donald Trump em uma sessão conjunta do Congresso.

O 18º distrito do Texas abarca regiões centrais e periféricas da cidade de Houston e conta com eleitorado diverso, composto majoritariamente por pessoas de origem hispânica e negra. Desde 1972, quando foi transferido para Houston, o distrito vota para presidentes e representantes (deputados) democratas.

Quatro candidatos democratas e uma republicana disputaram a primária não-partidária do 18º. Desses, avançaram para a segunda etapa dois democratas, Christian D. Menefee e Amanda Edwards, o que garante que o distrito seguirá representado por um democrata de origem afro-americana. A data do segundo turno ainda não foi definida.

Além das eleições para o Legislativo federal, os eleitores texanos compareceram às urnas para aprovar ou rechaçar 17 emendas constitucionais aprovadas pelo Legislativo estadual. De acordo com o jornal Texas Tribune, todas foram aprovadas. Destacamos abaixo algumas das principais propostas.

  • Proposta 2 – Proíbe tributação de ganhos não realizados em investimentos financeiros

Conforme legislação em vigor, apenas ganhos em investimento que são efetivamente realizados por meio da venda dos ativos são tributados. Uma forma, pela qual bilionários evadem a tributação, é, justamente, não venderem seus ativos: enquanto não são realizados, a valorização dos papéis permanece isenta. Em vez de liquidarem suas ações, muitos recorrem a empréstimos baratos usando esses ativos como garantia. Esses empréstimos podem ser renovados por tempo indefinido e, como são empréstimos, não são tributados.

Em resposta a essa brecha, diversos atores políticos progressistas têm defendido a criação de um imposto sobre ganhos não realizados, de modo a promover maior justiça tributária e reduzir a concentração de riqueza entre os super-ricos. O Texas, estado de residência do dono da Tesla, Elon Musk, optou por se antecipar a esse debate, ao constitucionalizar a proibição dessa modalidade de tributo, o que ilustra o grau de captura das instituições estaduais por interesses do grande capital.

Os eleitores do estado ratificaram essa escolha, aprovando a Proposition 2 com 65% dos votos a favor, e 35%, contrários.

  • Proposta 6 – Proíbe novos tributos sobre transações de valores mobiliários

Na mesma linha de medidas antifiscalistas, os eleitores texanos foram consultados sobre a possibilidade de proibir a criação de novos tributos sobre valores mobiliários, isto é, sobre a negociação de ações e outros ativos financeiros, bem como sobre a tributação de pessoas e instituições que operam no mercado financeiro, como corretores e demais intermediários.

A proposta foi aprovada por 55% do eleitorado, consolidando o perfil pró-mercado do estado.

  • Proposta 8 – Proíbe tributação de heranças

Em mais uma medida de caráter antifiscalista, o eleitorado texano aprovou uma emenda constitucional que proíbe a cobrança de impostos sobre heranças e transferências de propriedade. Essa nova restrição à capacidade de arrecadação do governo estadual tende a preservar a estrutura regressiva da carga tributária texana, fortemente baseada em impostos indiretos, como o sales tax.

A proposta foi ratificada por 73% dos eleitores, evidenciando o amplo apoio popular ao modelo de baixa tributação direta no estado.

  • Proposta 15 – Define que os pais são os principais tomadores de decisão de menores

A legislação e a jurisprudência, tanto no Texas quanto no âmbito federal, são amplamente consensuais ao reconhecerem que, enquanto menores de idade, os pais detêm a autoridade sobre decisões relevantes relacionadas ao patrimônio, à educação e à saúde de seus filhos. Embora a emenda não altere substancialmente esse princípio, seu propósito político é alimentar um pânico moral, sobretudo, em torno da questão da transexualidade.

Em estados como Washington, por exemplo, menores podem realizar a transição de gênero socialmente. Isso significa que podem adotar nome e pronomes condizentes com sua identidade de gênero, sem necessidade de consentimento parental, enquanto decisões médicas continuam a ser tomadas conjuntamente com os responsáveis, conforme a Human Rights Campaign.

A proposta texana funciona, portanto, menos como uma inovação jurídica e mais como uma reafirmação ideológica da autoridade parental em chave conservadora.

A medida foi aprovada por 70% dos eleitores.

  • Proposta 6 – Proíbe que não-cidadãos americanos votem em eleições

As leis federais e estaduais já garantem que estrangeiros não podem ser registrados como eleitores, nem exercer o direito ao voto. Em algumas jurisdições, porém, estados e municípios permitem que estrangeiros residentes legalmente votem em eleições locais, restritas a cargos municipais ou estaduais. Embora esse não seja o caso do Texas, a emenda proposta reforça um discurso dirigido a segmentos do eleitorado mais alinhados à direita, para os quais o tema da integridade eleitoral é central.

A medida foi aprovada por 72% dos eleitores.

Eleições especiais para a Câmara de Representantes

Outras eleições suplementares para vagas na Câmara dos Representantes federal foram realizadas no 1º e no 6º distrito da Flórida, no 7º do Arizona, no 7º do Tennessee e no 11º distrito da Virgínia. Em todas elas, realizadas em circunscrições que apoiavam solidamente um dos lados do espectro político, não houve mudança do partido que representava os eleitores.

Balanço das eleições

As eleições de novembro de 2025 marcaram um ponto de inflexão relevante na política norte-americana. Após um ciclo presidencial de intensa polarização e a derrota para os republicanos em 2024, o Partido Democrata obteve resultados expressivos em diversos estados, revertendo parte do desgaste acumulado no último pleito e reafirmando sua força em regiões estratégicas. A chamada “onda azul” evidenciou uma reorganização do mapa político e sinalizou uma possível rearticulação de forças diante do retorno de Donald Trump à Casa Branca, com vitórias significativas em estados historicamente competitivos.

De modo mais amplo, o resultado repete um padrão já observado em ciclos anteriores. Em 2017 e 2019, por exemplo, o avanço democrata nas eleições locais atuou como contrapeso político à administração republicana, antecipando tendências de resistência partidária em nível estadual. Em 2025, esse movimento parece se reproduzir, com o voto local funcionando como um “freio institucional” à política nacional e expressando a dinâmica de alternância e correção que caracteriza o federalismo norte-americano.

Apesar de ter dado um pouco de esperança aos democratas, o resultado favorável das eleições não é garantia de vitória nas eleições midterm do ano que vem. Trump foi rápido em repudiar o fato de que a onda azul representa rechaço ao seu governo. O mandatário afirmou que “seu nome não estava na cédula [eleitoral]”, indicando que, na eleição fora de ciclo, seu poder de mobilização do voto não havia sido empenhado. Essas eleições costumam ter baixa taxa de comparecimento, e os eleitores que participam não costumam ser plenamente representativos do eleitorado em geral. Apenas os mais politicamente engajados saem de casa para enfrentar filas na seção eleitoral.

Pesa ainda a impopularidade da liderança corporativa do Partido Democrata. Figuras como Chuck Schumer, líder da minoria no Senado, e Hakeem Jeffries, líder da minoria na Câmara, conduziram o partido a uma intensa crise de impopularidade. O partido tem a reprovação de 63% do eleitorado. À direita, é criticado por ter ido longe demais na política identitária; pela esquerda, defensores da causa palestina não se sentem representados pela legenda, cujo representante maior, o presidente Joe Biden, “financiou” o genocídio da Faixa de Gaza.

Com um ano para as eleições que podem negar maioria a Trump ao menos na Câmara e, quem sabe, no Senado, cabe à liderança democrata no Congresso uma tarefa hercúlea: fazer um completo rebranding. Talvez um lugar onde aprendizados valiosos possam ser encontrados seja com os vitoriosos de eleições desafiadoras, como Zohan Mamdani, Abigail Spanberger e Mikie Sherrill, que conseguiram se eleger, apesar da impopularidade da marca dos democratas. Mobilizar o eleitorado fiel parece ter sido uma estratégia melhor do que fazer acenos à direita para atender às demandas de um centro já não relevante, em um ambiente político fraturado.

* Este texto não reflete necessariamente as opiniões do Boletim Lua Nova ou do CEDEC. Gosta do nosso trabalho? Apoie o Boletim Lua Nova!


[1] Lucas Silva Amorim é pesquisador colaborador do INCT-INEU/OPEU, doutorando pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP) e pesquisador visitante Fulbright na Georgetown University (2024-2025). Contato: amorimlucas@usp.br.

[2] Carolina Weber é pós-graduanda em Jornalismo Digital e Comunicação pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e graduada em Defesa e Gestão Estratégica Internacional no Instituto de Relações Internacionais e Defesa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID/UFRJ). É pesquisadora colaboradora no OPEU e faz parte da equipe do Instagram e LinkedIn. Tem expertise em Comércio Exterior. Contato: carolinaweberds@gmail.com.

Referência imagética: Governadora-eleita da Virgínia, Abigail Spanberger (centro), em evento de campanha com sua companheira de chapa, Ghazala Hashmi (à dir.), e o procurador-geral eleito Jey Jones (à esq.), em Fairfax City, 26 jun. 2025 (Crédito: Adnan Masri/Wikimedia Commons)

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