4 de outubro de 2024
O Boletim Lua Nova publica o comunicado da Association pour la Recherche sur le Brésil en Europe (ARBRE – Associação para a pesquisa sobre o Brasil na Europa) contra a extrema direita, escrito na ocasião das eleições legislativas francesas, e que se mantém atual também no contexto das eleições municipais no Brasil. Agradecemos à ARBRE por autorizar a tradução e publicação deste comunicado.
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Caros e caras colegas, amigo(a)s e membros da ARBRE,
Enquanto pesquisadoras e pesquisadores brasileiras(os) e/ou trabalhando sobre o Brasil, nós tivemos a experiência da extrema direita no poder e pudemos ver do que ela é capaz. Sob o mandato de Jair Bolsonaro, nós vivemos o enfraquecimento das instituições, a banalização da intolerância e do ódio, bem como a mitigação de políticas sociais que muitas vezes impediram a proteção das populações mais vulneráveis.
Testemunhamos o aumento das desigualdades e o endurecimento das restrições às trabalhadoras e trabalhadores. As políticas econômicas privilegiadas por esse governo favoreceram as disparidades de riqueza e obtiveram sucesso em impor condições de trabalho e de emprego mais difíceis, mais desiguais e mais precárias.
Nós constatamos, de perto e de longe, os efeitos desse aumento de precarização e de pobreza. As medidas de austeridade e de desmantelamento organizado dos programas sociais durante os quatro anos de governo Bolsonaro resultaram em um acesso mais dificultado a recursos, serviços e oportunidades essenciais à vida de brasileiras e brasileiros.
Nós sentimos, por vezes, em nossa pele, e vimos em todo lugar o aumento da intolerância em relação às minorias, cada vez mais marginalizadas. A extrema direita, é importante lembrar, promove sempre e em todos os lugares ideologias racistas e xenófobas, misóginas, heteronormativas e transfóbicas, que alimentam a discriminação contra populações racializadas, de pessoas com deficiência, de minorias religiosas, de todos os grupos que, em suma, nao correspondem a uma visão conservadora, autoritária e exclusiva de relações sociais. Isso conduziu o Brasil, hoje, a uma sociedade mais dividida e violenta.
Nós estudamos e atestamos, com muito desalento, o enfraquecimento das políticas ambientais e a destruição dos ecossistemas em várias regiões do país. Relegado a segundo plano ou instrumentalizado pela extrema direita, o meio ambiente se tornou alvo de práticas econômicas e agrícolas predatórias, em detrimento da luta contra a mudança climática, da proteção da biodiversidade e das populações.
Nós assistimos com consternação e tristeza ao drama da destruição generalizada dos serviços públicos e, notadamente, ao desmantelamento na educação pública e aos repetidos ataques contra as universidades e instituições de pesquisa em um clima de negacionismo científico. Ao mesmo tempo, deparamo-nos com as perseguições de várias(os) colegas – ameaçadas(os) em razão de seus trabalhos de pesquisa ou seus engajamentos pessoais.
O projeto da extrema direita é o do ódio, da destruição do espaço social e da solidariedade. Não é o nosso. Tiremos lições dessa experiência para fazer oposição a situação atual na França. A Associação para a pesquisa sobre o Brasil na Europa apoia plenamente a Nova Frente Popular e todas(os) aquelas e aqueles que trabalham para evitar que um governo de extrema direita chegue ao poder.
Vamos nos mobilizar, reunir e votar!
Referência imagética: Imagem retirada do facebook da Association pour la Recherche sur le Brésil en Europe. Disponível em: https://www.facebook.com/arbrerecherche/