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Início > Sem categoria

A potência política do cuidado: cotidiano da militância feminista e a produção de novos modos de viver na cidade

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Luísa Horn de Castro Silveira1

Simone Mainieri Paulon2

Juliana Baldasso Siqueira3

Helena Andrade Ew4

18  de dezembro de 2025

O artigo “A potência política do cuidado: cotidiano da militância feminista e a produção de novos modos de viver na cidade” (2025) publicado na Revista Cadernos de Gênero e Diversidade é parte dos resultados de uma pesquisa desenvolvida na Casa de Referência Mulheres Mirabal, em Porto Alegre-RS, uma Ocupação que acolhe e presta apoio a mulheres em situação de violência. Em 2016, militantes do Movimento de Mulheres Olga Benário (MMOB) ocuparam um imóvel ocioso como forma de protesto ao enfraquecimento das medidas governamentais de combate à violência de gênero. A Ocupação localizava-se no Centro Histórico de Porto Alegre, em um prédio antigo em tom azul desbotado, pertencente a uma congregação religiosa e destinado para fins sociais, mas que estava, desde 2013, fechado para reformas. Desde então, a Casa Mulheres Mirabal passou a receber mulheres em situação de violência, muitas vezes encaminhadas por órgãos como a DEAM e a Defensoria Pública. Após repetidas ameaças de reintegração de posse e diversas mesas de negociação, o Movimento foi forçado a deixar a casa azul do centro e, em setembro de 2018, passou a ocupar um novo local, na Zona Norte de Porto Alegre. Ainda hoje a Mirabal segue atuante, apesar das infindáveis tentativas de despejo e de apagamento do trabalho realizado. Símbolo de luta e resistência, a Mirabal já acolheu mais de 700 mulheres ao longo de sua história.

A pesquisa aqui relatada – realizada em conjunto pelos programas de pós-graduação de Psicologia Social e de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – acompanha um recorte dessa trajetória. O estudo ocorreu entre 2017 e 2020 e propunha cartografar as diversas formas de viver e se relacionar em uma Ocupação de Mulheres em situação de violência, bem como analisar a relação entre elas, a casa, o Movimento Feminista e a cidade. Como esperado em uma pesquisa-intervenção, esse campo se abriu para muito além do que pudemos prever, revelando possibilidades de análise que passam não só pela questão da moradia, mas também falam sobre as aproximações – ou a impossível dissociação, como defendemos aqui – entre militância e cuidado.

Em uma sociedade na qual a violência de gênero é estruturante, a Mirabal representa uma alternativa revolucionária de acolhimento a mulheres. Sem nenhum apoio público ou privado, constitui-se como uma Casa de Referência gerida por lideranças feministas, com espaços de formação e cultura, para além do acolhimento e o direcionamento para aparelhos estatais, demonstrando que é possível operar em outra lógica de cuidado, organização, emancipação econômica e também afetiva. Este processo tem evidenciado os paradoxos do poder público, que, por um lado, reconhece a existência da Mirabal ao encaminhar mulheres para serem acolhidas na casa, quando suas famílias e o Estado lhes faltam e, por outro lado, não formaliza esse papel dentro da rede de assistência a mulheres em situação de violência. Contradições como essa reproduzem violências patriarcais, que são o foco da discussão do artigo. Um dos aspectos marcantes da nossa passagem pela Mirabal foi a ampliação das compreensões acerca das múltiplas formas com que a violência de gênero é perpetuada e, não raro aprofundada, pelo Estado.

As mulheres acolhidas na Mirabal sofreram agressões de seus companheiros, irmãos ou outros homens da família, mas também passaram por situações de violência institucional nos serviços que supostamente deveriam lhes prestar auxílio. O sofrimento posterior à saída de casa era frequente em seus relatos, mencionando uma série de constrangimentos vividos nesse percurso, em busca de saídas aos ciclos de violência, mas deparando-se com várias outras manifestações do mesmo problema que marca suas vidas. Em conversas individuais e em roda feitas na Casa, fomos identificando e mapeando com as mulheres os caminhos de violência traçados, desde suas antigas moradias, até o período de acolhimento na Ocupação Mirabal. Mesmo com todos os absurdos que cada uma delas viveu nas relações familiares, pode-se dizer que é na relação entre o poder público e a Ocupação, como um todo, que a violência de gênero se manifesta em sua face mais perversa.

O Estado reproduz, na relação com a Mirabal, um funcionamento bastante comum nas relações violentas: o jogo de dominação que ora fragiliza, ora sobrecarrega. Conforme a lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006), existem cinco tipos de violência contra a mulher: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. São formas de agressão complexas, com múltiplos graus de perversidade e que não ocorrem isoladas umas das outras. Dentro das agressões psicológicas, podem ocorrer situações de exploração em conjunto com a desvalorização do papel da mulher na relação. Traçando um paralelo, a Mirabal executa um serviço que deveria ser feito pelo Estado, que tira proveito disso, sem reconhecê-lo ou legitimá-lo. Assim como nos vínculos pessoais, esse funcionamento institucional também gera repercussões adoecedoras para as envolvidas.

Embora as delegacias tivessem a Ocupação como local de referência para o acolhimento de mulheres em situação de violência, encaminhando-as para lá, as instâncias governamentais sempre dificultaram a vida das mulheres que vivem na Casa. Por não terem endereço formalizado, as acolhidas enfrentavam inúmeros entraves, por exemplo para buscar emprego e conseguir vaga nas escolas próximas para os filhos. O Estado se retirava da responsabilidade de oferecer locais adequados que pudessem acolher a totalidade da demanda de mulheres em situação de violência no Município, atribuindo essa tarefa para a Mirabal. Ao mesmo tempo, o Estado não faz nenhum movimento de reconhecimento institucional em prol da formalização do local. Pelo contrário, além de se eximir da responsabilidade sobre o problema da violência contra a mulher, o município ainda ataca a Ocupação com ameaças de reintegração de posse e outras violências, como o corte de luz elétrica. 

A localização da casa também não é mero detalhe: vê-se que o modo como as mulheres da Mirabal circulam pela cidade é afetado pelo endereço da Ocupação. Quando a Mirabal ficava no Centro de Porto Alegre, as mulheres tinham mais medo de sair na rua, apesar da grande facilidade no acesso de comércios, serviços e aparelhos públicos. Isso porque, por ser um local muito acessado por toda a população, sentiam receio de encontrar pessoas conhecidas – que poderiam revelar sua localização para o agressor – ou, até mesmo, encontrar seus agressores andando pela rua. Após a mudança para a zona norte, as mulheres passaram a se sentir mais seguras em caminhar pelo bairro, utilizando o comércio local e as praças públicas, se apropriando do território com mais conforto e segurança. No entanto, apresentam restrições em relação ao custo da mobilidade urbana. A locomoção para acessar os locais de trabalho, escolas para os filhos e serviços de saúde se tornou um dos principais problemas na casa, levando em conta os altos custos das passagens de transporte coletivo. Existe aí uma repetição da opressão patriarcal em relação ao direito à cidade. Era comum escutar das ocupantes a sensação de estarem presas, amarradas, sem poder de ação. Podemos perceber que, nesse contexto, múltiplas forças se somam na tarefa de aprisionamento dos corpos femininos.

Interessante também identificar nos relatos das mulheres da Mirabal as sensações de medo e segurança que permeiam a experiência na Ocupação. Elas identificam nas grades da casa símbolos de proteção e, ao mesmo tempo, as associam com sensações de encarceramento. Há um paradoxo da segurança operando na vida dessas mulheres que também se associa com as noções de cuidado e violência: confundir cuidado com opressão. Os movimentos de emancipação vêm acompanhados de sentimentos de medo e de culpa, porque por muito tempo essas mulheres viveram realidades de intensa opressão, muitas vezes disfarçadas de proteção por parte dos companheiros e outros homens da família. 

Ao experimentarem, na Ocupação, novos modos de se sentirem cuidadas e protegidas, que não passam pelo silenciamento de seus desejos, muitas mulheres precisam enfrentar uma mudança de paradigma perturbadora. É um processo lento retomar a própria voz para reivindicar suas necessidades, sem que isso repercuta em abandono ou retaliação. Resistir, na Mirabal, é afirmar a negligência misógina do Estado, mas não só isso. É, principalmente, revelar a possibilidade de criar algo novo, que não precisa ser ditado pelas mesmas regras de proteção e tutela que os serviços existentes oferecem: um sistema que só acolhe sob políticas rígidas de controle, que não incentiva a autonomia nem respeita as singularidades das mulheres em situação de violência. Por ser um local de luta e resistência feminista em uma cidade/sociedade de funcionamento machista, os modos de existir das mulheres estão a todo momento em jogo no cotidiano da casa. A relação entre as mulheres que lá vivem ou circulam diariamente, por vezes, reproduz práticas internalizadas e construídas socialmente, gerando incômodos e conflitos. Esse desconforto, no entanto, abre caminhos para repensar nossos modos de habitar as relações e produzir formas não opressoras de ser mulher no mundo. A análise do campo da pesquisa-intervenção narrada no artigo fez emergir diálogos sobre cuidado e militância no combate à violência de gênero, em seus diversos formatos, com ênfase nas agressões produzidas institucionalmente e nas reproduzidas no íntimo de todas as relações.

Uma casa de e para mulheres, local de vida e convívio, onde impera a tentativa de horizontalização das relações, provoca intensos tensionamentos nas formas arraigadas e reproduzidas com que a subjetivação feminina se apresenta em nossa cultura patriarcal. Noções de família e “lar” se reconfiguram. Dentro da ordem patriarcal e racista as mulheres sempre assumiram, por imposição ou coerção, o dever e o papel de cuidadoras: criadas para cuidar de todos, esquecem-se delas mesmas (Oliveira; Dordevic, 2015). Com todas essas forças em jogo, na Ocupação, elas têm a possibilidade de recriar as formas de se relacionarem, até então vividas em suas antigas casas de maneira violenta. Quando o ambiente da Ocupação suporta as expressões das violências vivenciadas e cria um enquadre institucional para que essas mulheres possam falar, estimulando a criação de estratégias de enfrentamento, ensaiam-se possibilidades de deslocamentos dos lugares dados e abrem-se algumas alternativas existenciais impensáveis no aprisionamento que as relações violentas circunscrevem.

Na contramão da lógica do individualismo capitalista, cuidar de si e cuidar da outra não são processos separados. Nos pequenos gestos cotidianos essas novas configurações vão se desenhando, a partir das divisões de tarefas na casa, do cuidado compartilhado das crianças, das decisões tomadas coletivamente. A complexidade dessa empreitada se faz presente a cada instante na relação entre as mulheres da Casa Mirabal. A resistência feminista antirracista acontece e se reafirma no dia a dia, entre uma refeição e outra, nas tarefas do cotidiano, no acolhimento coletivo a uma mulher que chegue mais vulnerabilizada, nos embates e dilemas comezinhos do dia a dia de quem coabita. Esta pareceu-nos ser uma das grandes potências da Casa Mirabal: ampliar o conceito de luta para muito além dos embates e das tradicionais palavras de ordem das trincheiras feministas. Trata-se de costurar ponto a ponto, dia a dia, paulatina e micropoliticamente, gestos triviais que amarrem possibilidades de um presente viável para, quem sabe, um amanhã bem melhor.

Dentro da discussão sobre como se fortalecem resistências nos atos rotineiros do dia a dia, do viver em comum, entendemos que a análise do espaço físico da Ocupação demonstra que o uso da casa produz diferença e resistência aos modos hegemônicos de morar. Anita Loureiro de Oliveira (2020) reforça a importância de pensarmos a casa, o lar, como uma espacialidade relevante para análise em pesquisas, visto que o lar é um lugar de opressão patriarcal para mulheres e crianças. O lar fornece condições propícias para a reprodução de culturas de dominação que predominam na sociedade patriarcal, que exigem violência para se sustentar. Da mesma forma, (re)pensar o espaço doméstico e seu funcionamento, proporciona reflexões sobre como as espacialidades são produto das inter-relações e interações, na coexistência de diferentes trajetórias e na existência de pluralidades.

Na versão completa do artigo, narramos essas pequenas rachaduras na estrutura dominante, que abrem espaços para sonhar novos modos de existir, tentando trazer um pouco do que a convivência atenta dentro da Casa de Mulheres Mirabal nos fez sentir e pensar.

Referências::

OLIVEIRA, Anita Loureiro de. A espacialidade aberta e relacional do lar: a arte de conciliar maternidade, trabalho doméstico e remoto na pandemia da COVID-19. Revista Tamoios, v. 16, n. 1, 2020. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/tamoios/article/view/50448. Acesso em: 19 jan. 2024.

OLIVEIRA, Guacira Cesar de; DORDEVIC, Jelena. Cuidado entre ativistas: tecendo redes para a resistência feminista. CFEMEA – Centro Feminista de Estudo e Assessoria: Brasília/DF, 2015.

* Este texto não reflete necessariamente as opiniões do Boletim Lua Nova ou do CEDEC. Gosta do nosso trabalho? Apoie o Boletim Lua Nova! 

  1. Psicóloga, doutora em Psicologia Social (UFRGS) e mestra em Saúde Coletiva (UFRGS). Bolsista de Pós-doutorado na Universidade Federal de Sergipe, junto ao “Observatório Popular de Violências, pela vida das mulheres de povos e comunidades tradicionais” e integrante do Programa de Extensão “Clínica Feminista Antirracista Interseccional”. ↩︎
  2. Psicóloga, doutora em Psicologia Clínica (PUCSP), coordena o Programa de Extensão “Clínica Feminista Antirracista Interseccional”  e é professora no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS. ↩︎
  3. Psicóloga, mestra em Psicologia Social (UFRGS) e membra do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos (EBEP-POA). ↩︎
  4. Arquiteta e Urbanista pela UFRGS e integrante do MBL – Movimento de Luta dos Bairros Vilas e Favelas. ↩︎

Revista Lua Nova nº 120 - 2023

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