Empreendedorismo, empreendedorismos

Jacob Carlos Lima1  26 de março de 2025      No artigo  “Sobre empreendedorismo e cultura do trabalho”, argumento que, da mesma forma que tivemos no Brasil, a partir de 1930, a construção de uma cultura do assalariamento marcada pela forte presença estatal na regulação das relações capital-trabalho, a partir da década de 1990,  tivemos o início […]

Guetos, estrutura básica e justiça social: reflexões a partir de Tommie Shelby

Por Thaís de Almeida Lamas. O livro Dark ghettos: injustice, dissent, and reform, de Tommie Shelby, publicado em 2016, é uma obra que analisa criticamente a questão dos guetos nos Estados Unidos. Shelby, filósofo político e professor na Universidade de Harvard, aborda os guetos urbanos como locais de injustiça estrutural, onde as condições de vida precárias são perpetuadas por sistemas sociais e políticos discriminatórios e injustos. A partir disso, o autor faz uma análise aprofundada nas raízes históricas e estruturais dos guetos, explorando fatores como racismo, desigualdade econômica e segregação urbana contribuem para as condições de vida nessas áreas. Shelby argumenta contra as representações simplificadas e estigmatizadas dos guetos, buscando assim, entender as experiências dos residentes a partir de uma perspectiva mais ampla e contextualizada. Além disso, também investiga as implicações éticas e políticas das injustiças presentes nos guetos, questionando as noções convencionais de responsabilidade individual e coletiva diante dessas questões.

 “A vida como um dom, a maternidade como um bem, o amor como sacrifício”: a participação da mulher no Integralismo (1930 a 2020)

Por Alice Arbex. Durante as décadas de 1920 e 1930 no Brasil, o Integralismo, doutrina fundada pelo político e jornalista Plínio Salgado (1895-1975), projetou sua voz à nação com o Manifesto de 7 de Outubro de 1932 e oficializou sua luta por meio da criação de uma organização partidária, a Ação Integralista Brasileira (AIB). Com expressões marcadamente fascistas, o movimento tinha como missão somar as forças sociais e fundar o Estado Integral por meio de uma revolução espiritual, moral, intelectual e política. No século XXI, o neointegralismo reapareceu com novas roupagens, mas um interior comum, e organizou-se principalmente na chamada Frente Integralista Brasileira (FIB), reunindo os “patriotas da nossa terra” e a extrema-direita congregada em torno do líder Moisés Lima. O que mais interessa a este artigo, no entanto, são as mulheres integralistas: tanto as “patrícias” de 1930 quanto as modernas de 2020. Quais as similaridades e diferenças em relação ao papel que as mulheres ocupam hoje e ocupavam outrora dentro do movimento? De que modo contribuíram para a construção do Estado Integral e como se organiza sua militância atualmente? 

Riscos e respostas das democracias latino-americanas

Por Hugo Borsani, Soraia Marcelino Vieira e Mariele Troiano. Nos últimos anos, a democracia na América Latina vem passando por diferentes processos. Desde a terceira onda de democratizações descrita por Huntington (1994), da qual vários países latino-americanos fizeram parte, a região vivenciou momentos de aberturas e inflexões. O contexto econômico, a ascensão de governos populistas de diferentes ideologias, a alternância das agendas progressistas e conservadoras e a sombra da autocracia têm sido algumas das características observadas nos últimos 50 anos.       

Aborto por anencefalia: ascensão de posições (ultra) conservadoras na Câmara dos Deputados e negacionismo científico

Por Luis Gustavo Teixeira da Silva. Há pouco mais de vinte anos, o Brasil iniciou um processo de discussão profundo, tenso e prolongado acerca da possibilidade de interrupção voluntária da gestação de fetos diagnosticados com anencefalia, que se configura em uma má-formação congênita no tubo neural, provocando morte cerebral, verificável nas primeiras semanas da gestação. O tema se tornou assunto público a partir dos avanços da medicina fetal, assim como pela inexistência de terapias viáveis para reversão do quadro clínico. 

El ascenso global de la ultraderecha, Javier Milei y la distopía del presente

Por Paulo Ravecca, Emiliano Robaina e Facundo Zannier. Mientras escribimos estas líneas, la CBC emite programas sobre cómo sería una invasión estadounidense a Canadá y sobre si ésta se convertirá, o no, en el estado 51, tal como lo desea—o manifiesta desear—Donald Trump. Los canadienses están viviendo una pesadilla de tintes surrealistas que no solamente lacera su autoestima nacional, sino que también pone en tela de juicio las narrativas que el mainstream académico y periodístico ha promovido sobre el país durante décadas. Canadá—ni tan a salvo ni tan diferente a esos países que se nombran con pena en los noticieros. Este trastocamiento del sentido de realidad tiene, sin dudas, repercusiones profundas.

Olhando para as medidas socioeducativas para desnaturalizar desigualdades raciais bastante explícitas, mas nem sempre percebidas.

Por Juliana Vinuto. Neste pequeno texto apresentarei de modo conciso os principais resultados de uma pesquisa que publiquei na Revista Brasileira de Ciências Sociais, ocasião em que discuti alguns modos de naturalização da seletividade penal-racial no que se refere a adolescentes que cumprem medida socioeducativa no estado do Rio de Janeiro. Gostaria de pensar como uma robusta articulação entre segurança pública, justiça juvenil e instituições de medida socioeducativa tem encarcerado, em sua maioria, adolescentes negros ao longo dos anos, mas isso não arranha a imagem pública de imparcialidade na punição direcionada a menores de idade.

As Faculdades de Direito e a Escravidão no Brasil (1827-1888)

Por Ariel Engel Pesso. Na coluna de hoje do Boletim Lua Nova, Ariel Engel Pesso apresenta um resumo de sua tese de doutorado, publicada em livro pela editora Almedina sob o título Escravidão no Brasil Império: a Fundamentação Teórica nas Faculdades de Direito do Século XIX. A tese foi eleita a melhor do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) da Faculdade de Direito da USP e recebeu o 1° lugar no Prêmio ABRAFI de Teses 2024. Além disso, foi agraciada com Menção Honrosa no Prêmio Tese CAPES 2024 e no III Prêmio CNJ Memória do Poder Judiciário e no Prêmio Cláudio Souto de Teses 2024.

Por que estudar a história do pensamento político conservador me surpreendeu?

Por Aurélio Oliveira. Quando iniciei a pesquisa da minha dissertação de mestrado, a ideia original era investigar como podia uma corrente de pensamento se dizer ao mesmo tempo conservadora e liberal. Parecia uma contradição em termos, correntes antagônicas de difícil conciliação. Mas bastaram poucos dias de imersão na bibliografia para compreender que se tratava de um tema clássico da área, uma aliança de longa data, quase inevitável no contexto brasileiro de hegemonia conservadora desde os primórdios do pensamento político pátrio. No entanto, em vez de me desanimar, essa perspectiva abriu portas para hipóteses e respostas ainda mais interessantes, ao meu ver.