O Aparelhamento Ideológico das Forças Armadas dos EUA e os Ecos de um Corolário Roosevelt

Por Yasmin Abril M. Reis. A realidade distópica ilustrada no filme “Guerra Civil” (Civil War, em inglês) de 2024, dirigido por Alex Garland, é um espelho inquietante do momento atual dos Estados Unidos. Embora a analogia entre realidade e ficção não implica necessariamente no “vai se realizar”, no entanto, paralelos entre o filme e o governo Donald Trump (2025) são evidentes de se encontrarem. A interseção pode ser identificada a partir de alguns vetores, tais como: a convocação extraordinária de militares de alta patente globalmente, o discurso de uma “guerra interna” e os desafios simbólicos às normas militares tradicionais sinalizam que os limites do poder militar e os freios constitucionais enfrentam testes sem precedentes.  

Os Amnésicos e os Capitães

Por Glenda Mezarobba.O julgamento do Supremo Tribunal Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete ex-integrantes de seu governo trouxe novamente à memória —aqui, ali, nos votos dos ministros e na decisão da corte— a ditadura militar.

Uma etnografia sobre responsabilizações de violências policiais pelo Ministério Público de Campinas (SP)

Por Marina de Oliveira Ribeiro. “Na verdade, para mim era muito claro que aquilo era uma gambiarra”, confessou-me, durante entrevista, a promotora de justiça que aqui nomeio como Conceição. A “gambiarra” referida dizia respeito às formas assumidas por um projeto estabelecido entre 2015 e 2018 por três promotoras de justiça de Campinas (SP), sob o qual me debrucei durante o mestrado em Antropologia Social na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

O Estadista e o Autocrata Delirante (Parte III)

Por Tatiana Teixeira. À semelhança do que aconteceu nas participações do presidente Donald Trump na AGNU durante seu primeiro mandato (2017-2021), o discurso se dirigiu, mormente, para sua fiel base eleitoral. Desta vez, também foi destinado à extrema direita dos países europeus, tomados por violentos protestos antimigração nas últimas semanas. Tendo ambos os públicos como seus principais alvos, o roteiro seguiu o estilo informal de um comício de campanha. Nele, o malabarismo retórico agrega elementos heroicos e apelativos de carga emocional e de fácil digestão, expressos por meio de um vocabulário simples e do tom acusatório, com ataques a tudo e a todos. Aqui, precisão e correção das informações ficam em plano algum.

O Estadista e o Autocrata Delirante (Parte II)

Por Tatiana Teixeira. O pronunciamento de Lula na ONU ressoou, de forma coerente, o também histórico discurso de sua vitória eleitoral, em 30 de outubro de 2022. Passados quatro anos de extrema direita no Planalto, a mensagem do então recém-eleito presidente era a de que, primeiramente, precisaríamos reconstruir a confiança dentro e fora de casa, recuperando nossa credibilidade, previsibilidade e legitimidade com nossos parceiros internacionais.

O Estadista e o Autocrata Delirante (Parte I)

Tatiana Teixeira[1] 4 de outubro de 2025             Em parceria com o Observatório Político dos Estados Unidos (OPEU), o Boletim Lua Nova republica a análise em três partes sobre os discursos dos Presidentes Lula e Trump na Assembleia Geral das Nações Unidas. O texto foi originalmente publicado em 25 de setembro de 2025, no site […]

Segurança, morte e capitalismo: as empresas militares privadas entre a primazia dos EUA no Oriente Médio e a busca incessante por lucros

Por João Fernando Finazzi, Clara Westin e Victoria Ferreira. Ao refletirmos sobre a primazia dos EUA e a ocorrência de várias guerras no Oriente Médio, por vezes tendemos a observar os conflitos armados como momentos de ruptura, insistindo em classificá-los como acontecimentos tão indesejados quanto excepcionais. Durante as guerras, jornais e institutos de pesquisa expõem com frequência os custos econômicos causados pela destruição, enquanto muitos analistas ponderam as falhas cometidas pelos EUA em garantir uma ordem pacífica e estável na região.

Divulgação de dossiê: Novas visões sobre a diáspora

Por Christina Queiroz, Luís Augusto Meinberg Garcia e Matheus Menezes. Certa vez, em um seminário sobre as relações entre a América Latina e o mundo árabe, um dos organizadores deste dossiê escutou de uma interlocutora que o tema da diáspora árabe no Brasil já tinha sido explorado suficientemente, havendo poucos vieses a serem aprofundados nesse campo de pesquisa. Intrigados com a provocação, em conversas e reuniões realizadas no âmbito de projeto de pesquisa sobre a imigração árabe, financiado pela Cátedra Edward Saïd de Estudos da Contemporaneidade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os três pesquisadores do estudo se propuseram a elaborar um dossiê que evidenciasse novas perspectivas possíveis para pensar esse fluxo migratório.

A filosofia que nasce da escuta do sofrimento – Resenha da obra Vidas Roubadas: sofrimento social e pobreza

Por Flavio Williges. Algumas das marcas mais visíveis da pobreza no Brasil estão em índices conhecidos: analfabetismo, fome, violência. Outras, menos evidentes, funcionam como um pano de fundo invisível da existência: a humilhação cotidiana, um sentido persistente de inferioridade e impotência diante da vida. É esse aspecto que Alessandro Pinzani e Walquíria Leão Rego buscam iluminar em Vidas Roubadas: sofrimento social e pobreza (Unesp, 2025).