Raça e racismo na formação do sistema punitivo brasileiro

Texto por Gessica da Silva e Ana Cristina Grein Marra. A mesa-redonda de abertura do Colóquio Internacional “Colonialidade, Racialidade, Punição e Reparação nas Américas (séculos XIX-XXI)” realizou-se em 26 de novembro de 2024, às 14h30 (horário de Brasília), na Sala Alfredo Bosi do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). Contou com a participação do Prof. Fernando Salla (NEV-USP) e da Prof.ª Juliana Vinuto (UFF), esta em modalidade on-line, sob a mediação da Prof.ª Alessandra Teixeira (UFABC).
Apresentação – série Boletim Lua Nova

O Colóquio Internacional “Colonialidade, Racialidade, Punição e Reparação nas Américas (Séculos XIX-XXI)”, realizado de 26 a 29 de novembro de 2024, com financiamento do Instituto Beja, no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), propôs-se a examinar os modos pelos quais os sistemas punitivos foram moldados por experiências coloniais e hierarquias raciais, traçando um arco que conecta o passado escravista às práticas contemporâneas de punição, vigilância e encarceramento. Além disso, investigou estratégias insurgentes, proposições transformadoras e soluções reparatórias para as violências cometidas pelo aparato legal e penal do Estado nas Américas.
50 anos de Vigiar e Punir: contribuições para as Ciências Sociais – Relato

Por Carlos Eduardo Rezende Landim. Examinar a contribuição de um clássico — ou, nos termos utilizados pelo próprio Foucault, um livro-acontecimento — constitui, certamente, um objetivo tanto arriscado quanto necessário. Arriscado pela possibilidade de neutralização pela consagração, cujos desdobramentos podem ser dois. O primeiro é o utilitarismo intelectual, que opera a partir da expectativa de que um clássico só permanece relevante se oferecer respostas prático-imediatas e operacionais às urgências contemporâneas. Essa expectativa pode reduzir conceitos a fórmulas estéreis.
A Cúpula dos BRICS no Brasil: Prioridades, Agenda e Desafios

Por Jefferson dos Santos Estevo. Em 2025, o Brasil sediará a 17ª Cúpula dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, guiada pelo lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, a presidência brasileira se concentrará em duas prioridades: (i) Cooperação do Sul Global e (ii) Parcerias BRICS para o Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental. Esta é a quarta vez que o Brasil assume a presidência do BRICS, tendo exercido essa função anteriormente em 2010, 2014 e 2019. Após a presidência do G-20 em 2024, o país busca manter um papel de importância internacional, reforçando a importância dos BRICS como espaço estratégico para a articulação de agendas do Sul Global, sediando mais um evento de grande importância.
Trilha de pesquisa em Saúde Global e Relações Internacionais: a covid-19 e a governança em saúde no mundo

Por Mariana Cabral Campos. No dia 11 de março marcaram-se 5 anos desde a declaração da pandemia de covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram três anos de mobilização entre as diferentes ondas e variantes que constroem hoje um mundo pós-pandêmico. Apesar do caminhar do tempo, as lições da covid-19 continuam em disputa no debate público ao redor do mundo. Talvez o maior exemplo seja a retirada dos Estados Unidos da OMS realizada pelo Presidente Donald Trump, que após gerir uma campanha negacionista durante a pandemia retorna ao poder trazendo instabilidade à governança em saúde global (GSG).[2] Portanto, a temporalidade da covid-19 e a impressão que ela deixa nesse momento “pós” retratam a urgência que temas de saúde tomam na contemporaneidade. Em especial, a memória da pandemia e da sua gestão podem e devem conduzir os imaginários políticos dessa reconstrução (Ventura, 2023).
O direito humano ao luto em casos de desaparecimento forçado de pessoas

Por Andrea Schettini e Maria Izabel Varella. A prática do desaparecimento forçado de pessoas marcou a história recente dos países do Cone Sul, tendo sido implementada, sobretudo a partir dos anos 1970, como política de Estado pelas ditaduras militares que assolaram a região (Bauer, 2011; Tavares, 2011). Após detidos, torturados e executados, milhares de militantes políticos que lutavam contra os governos autoritários tiveram seus corpos ocultados em cemitérios e valas coletivas, incinerados em centros clandestinos ou despejados no mar e em rios. Vimos surgir à época uma nova configuração de poder – o “poder desaparecedor” (Calveiro, 2013) –, cujo objetivo central consistia em calar os corpos, silenciar as memórias e disseminar o terror de Estado.
Nota do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea em apoio aos professores Reginaldo Nasser e Bruno Huberman

5 de maio de 2025 O Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) manifesta sua solidariedade aos professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Reginaldo Nasser, nosso associado e diretor vice-presidente do CEDEC, e Bruno Huberman. Consideramos que o chamado feito a eles para prestarem explicações ao setor de Ética e Integridade da […]
Uma carta do supramundo

Por Lucas Gabriel Feliciano Costa. Este texto surgiu e ressurgiu, foi escrito e reescrito. Quando de sua composição, em 2022, redigi uma versão que me serviria como elemento pré-textual da minha dissertação, faria as vezes de “agradecimentos” com o título Uma carta do supramundo, ou Agradecimentos acompanhado da epígrafe: “Às pessoas intemporais da minha vida. Obrigado pela presença e pelos livros na mesa”. Meu objetivo era dar graças a todas aquelas e aqueles que me acompanharam, ofereceram suporte e me ensinaram algo durante a feitura da minha dissertação. Após a última revisão da dissertação, por motivos formais, o conto passou de “agradecimentos” a “anexo III”, rebaixado a penduricalho e texto de brinquedo, mas por fim colocado em lugar adequado para salvaguardar a preciosa convenção daquele gênero acadêmico.
Como o estigma molda as relações sociais: lições de Goffman para os dias atuais

Por Ana Paula Lima dos Santos. Na obra Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada (1981), Erving Goffman traça uma análise de como a sociedade separa os indivíduos e como ocorre esse processo de separação, chamado de “estigma”. Goffman tem o objetivo de estudá-lo dentro das relações sociais, entendendo como os grupos entram em contato uns com os outros. Para isso, trabalha com alguns conceitos como identidade pessoal, identidade social, controle social, normas, desvios, entre outros. Ao decorrer dos parágrafos, o autor apresenta diversos relatos para ilustrar os aspectos dos sujeitos estigmatizados, perpassando por diferentes círculos sociais, como os deficientes físicos, as trabalhadoras do sexo, os ciganos, as pessoas em situação de rua etc.
Resenha do livro Ciência, Teoria e Relações Internacionais: um estudo sobre a “Síntese Neo-Neo” a partir de Waltz, de Paulo Bittencourt

Por Felipe Ramos Garcia. Nesse sentido, o livro “Ciência, Teoria e Relações Internacionais: um estudo sobre a ‘Síntese Neo-Neo’ a partir de Waltz”, de Paulo Bittencourt, apresenta uma contribuição significativa ao debate teórico nas Relações Internacionais, especialmente no que se refere à síntese entre o neorrealismo de Kenneth Waltz e o institucionalismo neoliberal de Robert Keohane e Joseph Nye. A obra busca problematizar a coerência dessa tentativa de fusão teórica, argumentando que a “síntese neo-neo” não é uma integração teórica genuína, mas sim um ecletismo metodológico que, de certa forma, ignora diferenças epistemológicas importantes (2025, p. 342). Ao longo do livro, o autor desconstrói as premissas dessa síntese, expondo suas limitações tanto conceituais quanto empíricas. Para isso, o autor emprega um esforço de reconstrução do percurso de desenvolvimento teórico dos autores a fim de demonstrar como a síntese neo-neo não seria, na prática, uma síntese teórica de fato, mas uma reformulação de teoria neoliberal que se apropria do léxico formal de Waltz (2025, p. 358).