Resenha do livro Ciência, Teoria e Relações Internacionais: um estudo sobre a “Síntese Neo-Neo” a partir de Waltz, de Paulo Bittencourt

Por Felipe Ramos Garcia. Nesse sentido, o livro “Ciência, Teoria e Relações Internacionais: um estudo sobre a ‘Síntese Neo-Neo’ a partir de Waltz”, de Paulo Bittencourt, apresenta uma contribuição significativa ao debate teórico nas Relações Internacionais, especialmente no que se refere à síntese entre o neorrealismo de Kenneth Waltz e o institucionalismo neoliberal de Robert Keohane e Joseph Nye. A obra busca problematizar a coerência dessa tentativa de fusão teórica, argumentando que a “síntese neo-neo” não é uma integração teórica genuína, mas sim um ecletismo metodológico que, de certa forma, ignora diferenças epistemológicas importantes (2025, p. 342). Ao longo do livro, o autor desconstrói as premissas dessa síntese, expondo suas limitações tanto conceituais quanto empíricas. Para isso, o autor emprega um esforço de reconstrução do percurso de desenvolvimento teórico dos autores a fim de demonstrar como a síntese neo-neo não seria, na prática, uma síntese teórica de fato, mas uma reformulação de teoria neoliberal que se apropria do léxico formal de Waltz (2025, p. 358).

A questão meridional: uma reflexão política e social sobre o nordeste do Brasil a partir dos prismas de Antonio Gramsci

Por Marina Olinda Calori de Lion. Em “A questão meridional”, texto escrito por Antonio Gramsci em 1926, pouco tempo antes de ser capturado e preso pelas forças fascistas de Mussolini, o autor propõe uma reflexão sobre as relações de poder na Itália de sua época. A proposta aqui é      analisar, a partir do conceito gramsciano de questão meridional, as relações entre as diferentes regiões do Brasil, com foco na região Nordeste e sua histórica relação com o Centro-Sul. Essa análise não será feita de maneira mecanicista,      quando o conceito é transportado para a realidade do Brasil de maneira linear, mas sim, considerando as particularidades históricas e sociais que separam a Itália do século XX do Brasil contemporâneo.

Integralismo criou escolas para divulgar sua ideologia 

Por Ana Araújo. O Integralismo foi um movimento político de extrema-direita que defendia o ultranacionalismo, o catolicismo, o conservadorismo e o corporativismo. Os integralistas foram influenciados pelos princípios do fascismo italiano. Para divulgar sua ideologia e arregimentar adeptos, eles criaram bibliotecas, escolas, centros de pesquisa e ambulatórios (Câmara dos Deputados, 1961). Da mesma forma, os jornais integralistas atuaram como tática de recrutamento, pois funcionaram como veículos de informação e circulação de ideias do movimento. Plínio Salgado (1895-1975), fundador da Ação Integralista Brasileira (AIB) em 1932 e conhecido como “o chefe”, insistiu que o movimento deveria se preocupar com a educação e a alfabetização.

Uma Abordagem Democrática da Desobediência Civil

Por Guilherme C. de Moraes. No século passado, as manifestações estadunidenses contra a guerra do Vietnã, a luta por direitos civis nos Estados Unidos, a instalação de mísseis nucleares na Europa e a descolonização do Sul global foram algumas das lutas políticas que impulsionaram o debate sobre a ideia de desobediência civil para o centro da preocupação de renomados teóricos políticos, como John Rawls, Hannah Arendt, Jurgen Habermas e Ronald Dworkin. Entre os méritos dessa geração, vale destacar a influência de suas definições e abordagens que, ainda hoje, seguem balizando o debate intelectual, além de incluir, de uma vez por todas, a ideia de desobediência civil no rol de manifestações políticas que integram a gramática das sociedades democráticas.

Desvendando a herança autoritária: a influência das transições democráticas no Brasil e no Chile nas relações civis-militares e no cenário político atual

Por Luan Homem Belomo. As relações civis-militares representam um campo complexo que examina a interação entre as forças armadas e as autoridades civis de um Estado, aspecto      fundamental para a consolidação e a manutenção da democracia. No contexto da América Latina, especificamente, no Brasil e no Chile, essa relação carrega o peso de transições democráticas marcadas por pactos e pela persistência de legados autoritários. No cenário atual, ambos os países enfrentam desafios distintos, mas interconectados, que evidenciam a dificuldade de superar completamente o passado militar e de estabelecer um controle civil que seja robusto e inequívoco sobre as Forças Armadas.

A Comissão da ONU sobre a Síria acolhe com satisfação a abertura demonstrada pelo governo interino para receber visitas ao país e estabelecer futuras colaborações, conforme a conclusão da última visita.

O Boletim Lua Nova republica a nota traduzida da Comissão da ONU sobre a Síria, publicada originalmente em 25 de março de 2025 e disponível no site da United Nations Human Rights Watch. Junto à nota, confira a entrevista concedida pelo presidente da Comissão, professor Paulo Sérgio Pinheiro, a nossa equipe editorial. Agradecemos  ao professor por sua gentil contribuição. 

Anauê!: Os escolhidos por Deus

Por Tabatha Rodrigues. No ano de 1932, nasceu no Brasil o movimento que se tornaria o principal propagador das ideias fascistas na história do país: o Integralismo. Liderado por Plínio Salgado, escritor modernista influente na cena política e cultural paulista, o Integralismo foi, em essência, uma releitura nacional do movimento político liderado por Benito Mussolini – ainda era fascismo, mas com um toque abrasileirado.

Vigiar e punir, 50 anos: um livro eficaz como uma bomba e bonito como fogos de artifício

Por Acácio Augusto. Hoje, o nome de Michel Foucault goza de grande prestígio nas universidades em todo o planeta, com particular impacto nas Américas, do sul ao norte. Li em algum lugar, não me lembro onde, que ele é o autor mais citado no mundo, segundo o índice do Google Scholar[2]. Há mais 360 mil citações nos últimos 4 anos, quase um milhão e meio no total. “Discipline and punish”, assim, em inglês mesmo, está no topo com quase 120 mil citações[3]. Isso diz pouco (ou nada) sobre a importância e o impacto da obra e da ação do filósofo francês desde o pós II Guerra europeia no mundo. Encerra em si também uma espécie de ironia involuntária: os livros, ditos e escritos que destrincharam de forma tão contundente e mordaz as tecnologias de poder modernas e contemporâneas estão todos enquadrados no índice criado por uma big-tech que governa a produção contemporânea do saber dentro e fora da universidade. Uma universidade que, ao menos no Brasil (sabemos que não só), é totalmente governada pela lógica algorítmica e tem toda sua produção de saber presa em bancos de dados e submetidas a índices de medição operados por Inteligência Artificial (IA).

Empreendedorismo, empreendedorismos

Por Jacob Carlos Lima. No artigo  “Sobre empreendedorismo e cultura do trabalho”, argumento que, da mesma forma que tivemos no Brasil, a partir de 1930, a construção de uma cultura do assalariamento marcada pela forte presença estatal na regulação das relações capital-trabalho, a partir da década de 1990,  tivemos o início do desmonte dessa regulação e da  cultura que a acompanhou. O trabalho formal, manifesto na relação salarial, tornou-se sinônimo de cidadania e de acesso a direitos sociais. A carteira profissional virou símbolo de bom comportamento, de pessoa de bem, do trabalhador.  O ideário de um futuro estado de bem estar social, foi substituído pelo neoliberalismo, no qual o mercado é visto como elemento regulador das relações sociais e os direitos sociais, como custos a serem eliminados. 

Guetos, estrutura básica e justiça social: reflexões a partir de Tommie Shelby

Por Thaís de Almeida Lamas. O livro Dark ghettos: injustice, dissent, and reform, de Tommie Shelby, publicado em 2016, é uma obra que analisa criticamente a questão dos guetos nos Estados Unidos. Shelby, filósofo político e professor na Universidade de Harvard, aborda os guetos urbanos como locais de injustiça estrutural, onde as condições de vida precárias são perpetuadas por sistemas sociais e políticos discriminatórios e injustos. A partir disso, o autor faz uma análise aprofundada nas raízes históricas e estruturais dos guetos, explorando fatores como racismo, desigualdade econômica e segregação urbana contribuem para as condições de vida nessas áreas. Shelby argumenta contra as representações simplificadas e estigmatizadas dos guetos, buscando assim, entender as experiências dos residentes a partir de uma perspectiva mais ampla e contextualizada. Além disso, também investiga as implicações éticas e políticas das injustiças presentes nos guetos, questionando as noções convencionais de responsabilidade individual e coletiva diante dessas questões.