Em 2026, a candidatura Bolsonaro talvez não seja um bom negócio para a direita

Por Ivo Coser. Houve uma série de fatos recentes que sinalizam para uma mudança no comportamento da nova direita brasileira. Os eventos se encadeiam fornecendo um sinal claro, a direita brasileira busca se aproximar do centro-direita e do centro político brasileiro. Cada um desses eventos possui um sinal dirigido para um grupo específico. Os eventos são vários, vejamos os mais significativos. O jantar oferecido pelo apresentador global Luciano Huck ao governador Tarcísio de Freitas em 17 de maio do ano corrente. O jantar oferecido por Tarcísio de Freitas ao presidente do Banco Central em 10 de junho de 2024. E o comício promovido pelos apoiadores de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em fevereiro deste ano. O jantar oferecido por Luciano Huck indica um sinal de paz para um dos principais alvos da extrema direita brasileira, as organizações Globo. O jantar oferecido para o presidente do Banco Central estabelece um vínculo sólido com o capital financeiro. E, por último, no comício da Paulista, silêncio adotado pelo governador Tarcísio de Freitas para com o Supremo Tribunal Federal (STF).

Pensar Junho de 2013 e o Brasil com Clóvis Moura: o que foi e o que será?

Por Ygor Santos de Santana. Além dos vinte anos do falecimento de Clóvis Moura, 2023 também marcou os dez anos dos protestos de Junho de 2013 e vinte anos da primeira presidência petista. No texto que escrevi para a revista Confluências, teci conexões entre esses eventos, pelo fio do pensamento de Clóvis Moura. Discuto, como resumirei aqui, a contribuição moureana para complexificar as leituras sobre Junho de 2013 e o contexto atual, ao repor a centralidade da questão racial na formação econômica, política, social e histórica brasileira. Exploro a hipótese da limitação constitutiva nas análises sobre Junho de 2013, que não consideram o papel estruturante do racismo na formação social brasileira e, mais de perto, no acirramento dos conflitos que culminaram nos protestos de massa daquele ano. Para isso,      mobilizo os conceitos moureanos de quilombagem e grupos diferenciados e específicos, como chaves interpretativas críticas de dados socioeconômicos do período de Junho de 2013 e das leituras que se fazem sobre os protestos. Concluo, então, que Junho de 2013 manifestou os limites de um projeto liberal de esquerda restrito a renegociar os mecanismos de barragem racial, nunca os superar, e que, dez anos depois, é retomado, ignorando as contradições que ali explodiram e que voltam a se avolumar.

Para Além da Politics: a Influência de grupos Evangélicos na Política de Segurança Pública

Por Ana Claudia Cortez e Rodrigo Duque Estrada Campos. O lugar da religião no espaço público brasileiro permanece um tema contestado e pouco compreendido. Movido não apenas por mudanças demográficas, mas também por articulações políticas da chamada Direita Cristã desde a redemocratização (Pierucci, 1987; Lacerda, 2019), o país vem testemunhando uma profunda inflexão nos últimos anos, colocando  em xeque os pilares do que comumente entendemos por laicidade, isto é, a separação entre religião e esfera pública. No Brasil, as instituições religiosas possuem maior capacidade de mobilização social do que outras instituições de natureza associativa, como partidos ou sindicatos, e a população confia mais nas instituições religiosas e menos nas instituições do sistema democrático (Gonzáles et al., 2021). A eleição de Jair Bolsonaro em 2018, que reuniu uma plataforma de extrema-direita fortemente marcada pela mistura entre moralismo cristão, punitivismo e neoliberalismo, pode ser considerada um sintoma da capilaridade religiosa na política. 

“Estuprador não é pai e criança não é mãe!”: o PL 1904/2024 e a cultura do estupro

Por Patricia Jimenez Rezende e Marília Gabrielle de Paula. “Não se mova, faça de conta que está morta” (Clarac; Bonnin, 1985 apud Pimentel et al., 1998, p. 55), dizia o pai de Viviane enquanto a violentava sexualmente. Também poderia ser o que nos dizem os 33 parlamentares que propuseram o PL 1904/24 enquanto violam os direitos de pessoas que gestam, mulheres e meninas de todo o Brasil. Apresentado em 17 de maio de 2024, o PL foi votado e aprovado pela Câmara dos Deputados a toque de caixa, neste 12 de junho, como de urgência. O que quer dizer que poderá ser votado diretamente no Plenário sem passar pelo crivo de Comissões temáticas, por exemplo.

Trabalho no neoliberalismo ultra-tardio e o G20 Financeiro

Por Jörg Nowak. A agenda do G20 Financeiro especificamente na área do trabalho, estabeleceu um foco em quatro pontos: 1) criação de emprego e trabalho decente; 2) transição justa; 3) tecnologia e bem-estar e 4) diversidade e desigualdade de gênero no local de trabalho. Conforme relatado na Folha de S. Paulo, a área com os debates mais avançados é a última, que pretende se basear na recente Lei da Igualdade Salarial brasileira, que impõe salários iguais para a mesma função para trabalhadores do sexo masculino e feminino. O fato de a lei brasileira ser vista como um protótipo emblemático já indica que, provavelmente, haverá apenas avanços simbólicos na área do trabalho na agenda do G-20.

Conselhos nacionais de políticas públicas no governo Bolsonaro e no novo governo Lula

Por Karime Lima. Este texto busca apresentar um panorama das mudanças direcionadas aos conselhos nacionais de políticas públicas durante o governo Bolsonaro (PL), que alterou o padrão de ampliação da participação social e de criação contínua de conselhos nacionais, e no novo governo Lula (PT). A tentativa de desativação compulsória encampada pelo primeiro mostra que não há momento anterior que possa ser comparado a esse governo, que pretendia a extinção maciça de conselhos, comissões e demais instâncias colegiadas federais. Os conselhos mais impactados foram os que não estavam previstos em leis e, sim, em instrumentos infralegais.

Transformações político-econômicas e políticas públicas para mulheres na perspectiva da Feminização da Pobreza no Brasil (1995-2015)

Por Taís Dias de Moraes. As mulheres vêm, ao longo do tempo, se tornando mais pobres do que os homens. Por essa razão, os domicílios chefiados por mulheres representam o principal objeto de estudo a respeito desse fenômeno, por serem os mais pobres e por estarem aumentando em número ao longo dos anos. Nesse sentido, o artigo “Transformações político-econômicas e políticas públicas para mulheres na perspectiva da Feminização da Pobreza no Brasil (1995-2015)” busca trazer uma análise condições socioeconômicas desses domicílios de forma como forma de compreender tal fenômeno conhecido como Feminização da Pobreza – termo primeiramente usado por Diana Pearce, em 1978 –, a partir do entendimento de que este se dá como consequência de uma série de características próprias às mulheres e sua inserção no mercado de trabalho.

 As (inter)faces de Janus: entre as novas tecnologias e o velho poder

Por Moisés dos Santos Viana. Ao tentarmos compreender as interfaces das tecnologias da informação e da comunicação, devemos levar em conta alguns aspectos fundamentais da tecnologia como elemento estruturante do humano e que perpassa uma dimensão antropológica, desdobrando-se em outras diversas interfaces, dentre elas a economia política e a ideologia de poder.

O G20 no Brasil e a Geopolítica

Por Robson Coelho Cardoch Valdez. O triunfo dos Estados Unidos sobre o Bloco Soviético, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, alimentou no Ocidente a expectativa de que os países do então mundo subdesenvolvido (ou Terceiro Mundo) pudessem aderir de forma mais consistente ao livre mercado e demais valores caros para a nação hegemônica do sistema internacional, que guiava as diversas dimensões do processo de globalização. Contudo, esse bloco de países, com uma complexa pauta de interesses nacionais, seguiu administrando essa agenda de valores (livre mercado, democracia, direitos humanos etc.) de forma autônoma e que, em muitos casos, conflita com a visão de mundo daqueles países ocidentais que estão geográfica e ideologicamente localizados no hemisfério Norte. Mas, ao defenderem pragmaticamente seus interesses em conjunto com a agenda de interesses econômicos e geopolíticos dos países do núcleo do capitalismo internacional, o Sul Global acaba se beneficiando do apoio ou complacência desses mesmos países.