Cão Leal (Parte I)

Por Fellipe Eloy T. Albuquerque. Imagine você, após uma noite de sono, despertar em um sonho… O mundo está cheio de homens e cães. Não existem mulheres ou crianças… só cães machos, jovens ou velhos e filhotes. Todos devemos concordar que seria algo amedrontador, com certeza, não se trataria de um sonho, mas sim um pesadelo. Onde já se viu, homens e cães convivendo em harmonia, sem mulheres?
Exportação Marítima de Gado Vivo: legados do especismo colonial

Por Rafael van Erven Ludolf. O comércio global de exportação de animais vivos tem sido foco de diversos tipos de críticas, principalmente em razão de maus-tratos aos animais. Por isso, foi alvo de repúdio público, ações judiciais, proposições legislativas, suspensões temporárias e sofreu até mesmo proibições definitivas, como ocorreu por exemplo na Nova Zelândia e na Índia. No Brasil, que atualmente ocupa o segundo lugar no ranking mundial na exportação de gado vivo, há propostas de lei visando a proibição do referido comércio, como o PLS 357/2018 (Senado Federal), em tramitação.
O artigo 142: de vilão a mocinho da democracia brasileira

Por Lis Barreto. O presente artigo surgiu de achados que incorporaram a minha tese de doutorado, os quais demandaram destaque e debate devido às provocações feitas pela história recente do Brasil. Este texto foi escrito entre os meses de novembro e dezembro de 2022, enquanto o País assistia às manifestações antidemocráticas que surgiram em contestação do resultado do pleito eleitoral. Entre ameaças golpistas, bloqueios de estradas e saudações nazistas, destacou-se entre os manifestantes o uso do argumento de que seria legítimo e constitucional uma possível intervenção das Forças Armadas nos Poderes Constituídos, pois o artigo 142 da Constituição Federal de 1988 permitiria isto.
Em busca de um método: crítica social entre passado, presente e futuro

Por Gustavo F. Lima e Silva. Esse trecho de uma entrevista concedida por Michel Foucault nos anos 1970 é frequentemente invocado por aqueles que desejam se utilizar dos arquivos do pensamento político clássico, moderno e contemporâneo para o desenvolvimento de uma crítica social do tempo presente . Os textos do passado, segundo uma conhecida metáfora, poderiam ser mobilizados como uma “caixa de ferramentas”, de modo que conceitos, análises e métodos seriam presentemente mobilizados, ainda que apartados de seu contexto e até mesmo de seu sentido original. É interessante pontuar, entretanto, que tal figuração da entrevista de Foucault depende, ela mesma, de um exercício radical de descontextualização.
Quilombos, uma realidade social ainda encoberta e uma necessidade de reflexão sobre privações sociais e as políticas públicas

Por Leonardo da Rocha Bezerra de Souza. Recentemente, em parceria com o Prof. Dr. João Bosco Araújo da Costa, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), publicamos o artigo “As Políticas Públicas e as Privações Sociais em Territórios Quilombolas: a comunidade da Aroeira no Rio Grande do Norte”, na revista Contraponto, do programa de pós-graduação em Sociologia da UFRGS. Esse texto é produto de uma pesquisa realizada entre os anos de 2018 e 2020, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS/UFRN). O objetivo central do trabalho era demonstrar como agem as políticas públicas através do combate às privações sociais nessa comunidade. Nesse caso, temos como principal política pública a de regularização do território quilombola (RTQ), regulamentada pelo Decreto nº 4.887 de 2003, assinado pelo então presidente Lula.
Verdades perenes, mitologias e legitimação: uma abordagem a Hans Morgenthau através de Quentin Skinner

Por Paulo Bittencourt. Partindo do meu interesse nas teorias das Relações Internacionais, e considerando o papel importante que Hans Morgenthau ocupa neste campo, o objetivo deste texto é apontar alguns dos pressupostos do autor germânico para a elaboração de seu ponto de vista sobre a política. A partir disso, viso demonstrar como sua visão é passível de uma crítica na chave daquilo que Quentin Skinner chamara, em 1969, de mitologias. Ora, tendo em vista que Morgenthau elabora sua visão da “política entre as nações” a partir da teoria política, e tendo em vista também que a história das ideias políticas – ou melhor, dos argumentos e reformulação dos argumentos políticos visando a sua legitimação (PALONEN, 1997) – é a preocupação principal de Skinner em Meaning and understanding in the history of ideas, não me parece descabido combinar esse interesse pessoal ao objeto de estudo dos autores em questão.
Violência letal no Brasil: as vítimas são negras, mas o crime nunca é por raça

Por Andréa Lopes da Costa. O racismo é um organizador silencioso das relações sociais e seu impacto é como um espectro: se por um lado todos afirmam que ele existe, por outro poucos confirmam ter visto. Fácil de reconhecer na agressão verbal, mas dificilmente reconhecido como catalisador para conflitos sociais diversos, como a violência letal contra pessoas negras. No Brasil, o racismo se mantém por meio de um sofisticado mecanismo de “desracialização” da realidade, de tal forma que, utilizando ironia: mesmo quando as vítimas são recorrentemente negras, o crime nunca é por raça.
Dissenso, ontologia de nós mesmos e a sociologia do presente: alternativas teóricas para (re)pensar os direitos humanos na atualidade

Por Felipe Adão. O presente texto tem como objetivo apresentar algumas alternativas teóricas que podem ajudar a pensar os direitos humanos na atualidade (e a atualidade dos direitos humanos) e podem ser fundamentos interessantes para pesquisas e debates contemporâneos nesta área. Em resumo, desenvolvo uma abordagem histórico-crítica sobre os direitos humanos que combina elementos teóricos das obras de Michel Foucault e Jacques Rancière com a sociologia do presente de Robert Castel, propondo a interação crítica entre os conceitos de dissenso (Rancière), ontologia do presente (Foucault), problematização do contemporâneo e transversalidade (Robert Castel).
A Consequência da Textualidade: comentário sobre “O Conceito de Linguagem e o Métier d’Historien” de J. G. A. Pocock

Por Andréia F. Cardoso. Neste breve texto, nosso objetivo é abordar a característica da textualidade do campo de estudos do historiador descrito por J. G. A. Pocock em “O Conceito de Linguagem e o Métier d’Historien” (2003a [1989]), e a consequente diferenciação em relação a uma história das mentalités (história das mentalidades). Para tanto, analisamos os argumentos apresentados neste artigo com base no que o autor desenvolve em um segundo texto, “O Estado da Arte” (2003b [1995]), em que ele aborda uma vez mais a atividade do historiador do discurso político. Aqui, destacamos a articulação do discurso e da resposta em texto, que indicam que sua história do discurso é fortemente textual.
O Boletim Lua Nova em 2022: uma breve retrospectiva

Por Equipe Boletim Lua Nova. Já em ritmo de fim de ano, desejamos fazer uma retrospectiva das publicações realizadas no blog. Incorremos no risco de não conseguir destacar todos os textos publicados (afinal, foram 115 neste ano), ou não dar conta da variedade deles. Todavia, esperamos relembrar alguns, percorrendo eventos que marcaram 2022.