Uma carta do supramundo 

Por Lucas Gabriel Feliciano Costa. Este texto surgiu e ressurgiu, foi escrito e reescrito. Quando de sua composição, em 2022,  redigi uma versão que me serviria como elemento pré-textual da minha dissertação, faria as vezes de “agradecimentos” com o título Uma carta do supramundo, ou Agradecimentos acompanhado da epígrafe: “Às pessoas intemporais da minha vida. Obrigado pela presença e pelos livros na mesa”. Meu objetivo era dar graças a todas aquelas e aqueles que me acompanharam, ofereceram suporte e me ensinaram algo durante a feitura da minha dissertação. Após a última revisão da dissertação, por motivos formais, o conto passou de “agradecimentos” a “anexo III”, rebaixado a penduricalho e texto de brinquedo, mas por fim colocado em lugar adequado para salvaguardar a preciosa convenção daquele gênero acadêmico.

Como o estigma molda as relações sociais: lições de Goffman para os dias atuais

Por Ana Paula Lima dos Santos. Na obra Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada (1981), Erving Goffman traça uma análise de como a sociedade separa os indivíduos e como ocorre esse processo de separação, chamado de “estigma”. Goffman tem o objetivo de estudá-lo dentro das relações sociais, entendendo como os grupos entram em contato uns com os outros. Para isso, trabalha com alguns conceitos como identidade pessoal, identidade social, controle social, normas, desvios, entre outros. Ao decorrer dos parágrafos, o autor apresenta diversos relatos para ilustrar os aspectos dos sujeitos estigmatizados, perpassando por diferentes círculos sociais, como os deficientes físicos, as trabalhadoras do sexo, os ciganos, as pessoas em situação de rua etc.

Resenha do livro Ciência, Teoria e Relações Internacionais: um estudo sobre a “Síntese Neo-Neo” a partir de Waltz, de Paulo Bittencourt

Por Felipe Ramos Garcia. Nesse sentido, o livro “Ciência, Teoria e Relações Internacionais: um estudo sobre a ‘Síntese Neo-Neo’ a partir de Waltz”, de Paulo Bittencourt, apresenta uma contribuição significativa ao debate teórico nas Relações Internacionais, especialmente no que se refere à síntese entre o neorrealismo de Kenneth Waltz e o institucionalismo neoliberal de Robert Keohane e Joseph Nye. A obra busca problematizar a coerência dessa tentativa de fusão teórica, argumentando que a “síntese neo-neo” não é uma integração teórica genuína, mas sim um ecletismo metodológico que, de certa forma, ignora diferenças epistemológicas importantes (2025, p. 342). Ao longo do livro, o autor desconstrói as premissas dessa síntese, expondo suas limitações tanto conceituais quanto empíricas. Para isso, o autor emprega um esforço de reconstrução do percurso de desenvolvimento teórico dos autores a fim de demonstrar como a síntese neo-neo não seria, na prática, uma síntese teórica de fato, mas uma reformulação de teoria neoliberal que se apropria do léxico formal de Waltz (2025, p. 358).

A questão meridional: uma reflexão política e social sobre o nordeste do Brasil a partir dos prismas de Antonio Gramsci

Por Marina Olinda Calori de Lion. Em “A questão meridional”, texto escrito por Antonio Gramsci em 1926, pouco tempo antes de ser capturado e preso pelas forças fascistas de Mussolini, o autor propõe uma reflexão sobre as relações de poder na Itália de sua época. A proposta aqui é      analisar, a partir do conceito gramsciano de questão meridional, as relações entre as diferentes regiões do Brasil, com foco na região Nordeste e sua histórica relação com o Centro-Sul. Essa análise não será feita de maneira mecanicista,      quando o conceito é transportado para a realidade do Brasil de maneira linear, mas sim, considerando as particularidades históricas e sociais que separam a Itália do século XX do Brasil contemporâneo.

Integralismo criou escolas para divulgar sua ideologia 

Por Ana Araújo. O Integralismo foi um movimento político de extrema-direita que defendia o ultranacionalismo, o catolicismo, o conservadorismo e o corporativismo. Os integralistas foram influenciados pelos princípios do fascismo italiano. Para divulgar sua ideologia e arregimentar adeptos, eles criaram bibliotecas, escolas, centros de pesquisa e ambulatórios (Câmara dos Deputados, 1961). Da mesma forma, os jornais integralistas atuaram como tática de recrutamento, pois funcionaram como veículos de informação e circulação de ideias do movimento. Plínio Salgado (1895-1975), fundador da Ação Integralista Brasileira (AIB) em 1932 e conhecido como “o chefe”, insistiu que o movimento deveria se preocupar com a educação e a alfabetização.

Uma Abordagem Democrática da Desobediência Civil

Por Guilherme C. de Moraes. No século passado, as manifestações estadunidenses contra a guerra do Vietnã, a luta por direitos civis nos Estados Unidos, a instalação de mísseis nucleares na Europa e a descolonização do Sul global foram algumas das lutas políticas que impulsionaram o debate sobre a ideia de desobediência civil para o centro da preocupação de renomados teóricos políticos, como John Rawls, Hannah Arendt, Jurgen Habermas e Ronald Dworkin. Entre os méritos dessa geração, vale destacar a influência de suas definições e abordagens que, ainda hoje, seguem balizando o debate intelectual, além de incluir, de uma vez por todas, a ideia de desobediência civil no rol de manifestações políticas que integram a gramática das sociedades democráticas.

Desvendando a herança autoritária: a influência das transições democráticas no Brasil e no Chile nas relações civis-militares e no cenário político atual

Por Luan Homem Belomo. As relações civis-militares representam um campo complexo que examina a interação entre as forças armadas e as autoridades civis de um Estado, aspecto      fundamental para a consolidação e a manutenção da democracia. No contexto da América Latina, especificamente, no Brasil e no Chile, essa relação carrega o peso de transições democráticas marcadas por pactos e pela persistência de legados autoritários. No cenário atual, ambos os países enfrentam desafios distintos, mas interconectados, que evidenciam a dificuldade de superar completamente o passado militar e de estabelecer um controle civil que seja robusto e inequívoco sobre as Forças Armadas.

A Comissão da ONU sobre a Síria acolhe com satisfação a abertura demonstrada pelo governo interino para receber visitas ao país e estabelecer futuras colaborações, conforme a conclusão da última visita.

O Boletim Lua Nova republica a nota traduzida da Comissão da ONU sobre a Síria, publicada originalmente em 25 de março de 2025 e disponível no site da United Nations Human Rights Watch. Junto à nota, confira a entrevista concedida pelo presidente da Comissão, professor Paulo Sérgio Pinheiro, a nossa equipe editorial. Agradecemos  ao professor por sua gentil contribuição. 

Anauê!: Os escolhidos por Deus

Por Tabatha Rodrigues. No ano de 1932, nasceu no Brasil o movimento que se tornaria o principal propagador das ideias fascistas na história do país: o Integralismo. Liderado por Plínio Salgado, escritor modernista influente na cena política e cultural paulista, o Integralismo foi, em essência, uma releitura nacional do movimento político liderado por Benito Mussolini – ainda era fascismo, mas com um toque abrasileirado.

Vigiar e punir, 50 anos: um livro eficaz como uma bomba e bonito como fogos de artifício

Por Acácio Augusto. Hoje, o nome de Michel Foucault goza de grande prestígio nas universidades em todo o planeta, com particular impacto nas Américas, do sul ao norte. Li em algum lugar, não me lembro onde, que ele é o autor mais citado no mundo, segundo o índice do Google Scholar[2]. Há mais 360 mil citações nos últimos 4 anos, quase um milhão e meio no total. “Discipline and punish”, assim, em inglês mesmo, está no topo com quase 120 mil citações[3]. Isso diz pouco (ou nada) sobre a importância e o impacto da obra e da ação do filósofo francês desde o pós II Guerra europeia no mundo. Encerra em si também uma espécie de ironia involuntária: os livros, ditos e escritos que destrincharam de forma tão contundente e mordaz as tecnologias de poder modernas e contemporâneas estão todos enquadrados no índice criado por uma big-tech que governa a produção contemporânea do saber dentro e fora da universidade. Uma universidade que, ao menos no Brasil (sabemos que não só), é totalmente governada pela lógica algorítmica e tem toda sua produção de saber presa em bancos de dados e submetidas a índices de medição operados por Inteligência Artificial (IA).