Helcimara Telles[1]
Horrana Grieg Souza Oliveira[2]
Introdução
O Brasil, ao longo dos últimos anos, tem sofrido uma transformação demográfica que levou à expansão dos grupos e da fé da evangélica entre a população. Os católicos, entre os anos de 1970 até 2010, sofreram uma redução de 27,2 pontos percentuais (p.p). Estima-se que, em 2030, os católicos e evangélicos latu senso (evangélicos de missão, evangélicos de origem pentecostal e evangélicos não determinados) terão participações próximas na sociedade, representando 39,8% e 38% respectivamente na população brasileira[3].
Muito do crescimento da classe evangélica no Brasil está diretamente associado à expansão de dois dos tipos de grupo: aqueles com desinência pentecostal e os evangélicos desigrejados. Em oposição às expectativas dos teóricos da modernidade, como Weber e Durkheim, quanto aos processos de secularização do mundo, percebe-se na atualidade uma posição ativa da religião, principalmente as evangélicas, que influenciam diversas esferas da sociedade (economia, mídia, educação, etc.). Muito além da participação político-partidária e no legislativo, grupos religiosos também têm atuado junto a programas sociais em parceria com o poder público, movimentos sociais, ONGs, conselhos diretivos, dentre outros setores da vida pública.
A intensa atuação da religião na política suscita, no interior da ciência política, o interesse, cada vez maior, em compreender a importância desse grupo nos resultados eleitorais do país. O voto evangélico é descrito por Rodrigues e Fuks (2015, p. 115) como uma “escolha eleitoral motivada por estímulos políticos adquiridos no interior do grupo religioso”. Tal tema vem conquistando espaço na sociologia e ciência política brasileira, com um número crescente de estudos dedicados à questão. Em termos práticos, o impacto desse grupo clerical para as eleições presidenciais no Brasil, mostrou-se decisivo no pleito de 2018, que elegeu Jair Bolsonaro presidente do país, o qual obteve 69% dos votos entre os evangélicos, nos termos da pesquisa de intenção de votos realizada pelo DataFolha no dia 25 de outubro de 2018. Já em 2022, este mesmo candidato à reeleição, apesar da derrota nas urnas, conquistou quase 70% dos votos, de acordo com a pesquisa realizada pelo IPESPE/ABRAPEL[4].
Em relação às afinidades eletivas, o encontro de Bolsonaro com os evangélicos, em preferência de voto, estabeleceu-se a partir de um discurso claramente destinado a influenciar positivamente os sentimentos e as crenças daqueles mais patriotas e cristãos. Bolsonaro, para além de um simples candidato e político, transfigurou-se pelo discurso, durante seu mandato e campanha em uma figura carismática capaz de angariar fiéis seguidores. Uma das explicações para isso está na aproximação dele com as lideranças evangélicas, em uma relação estabelecida pelo compartilhamento de uma visão conservadora, pautada sobre os ideais reconstrutivos difundidos pela Teologia do Domínio. Este é o tema esse, a ser que será desenvolvido no presente artigo.
O Comportamento Político dos Evangélicos: Teologias, Ideologias e Voto
Ao longo dos últimos anos, cientistas políticos dedicaram-se ao estudo do comportamento político para interpretar os motivos que levam os eleitores a se decidirem sobre determinado candidato e/ou partido. Embora estabelecer as razões pelas quais se dão a escolha do voto, por si só, constitua um enorme desafio, algumas teorias explicativas surgiram para postular uma possível “lógica” da decisão eleitoral. Estabelecidas sobre critérios como moralidade, simbologia, pensamento cognitivo, racionalidade, ideologia, psicologia e o cenário histórico-contextual, teorias foram capazes, ainda que não de forma generalizada, de predizer a direção possível das escolhas futuras dos eleitores.
Na busca por entender a forma como o comportamento eleitoral se estrutura, longe de esgotarem contribuições sobre o assunto, estudos sobre o voto pautados nas noções de representação ideológica, estratificação social, regionalismo, segmentação religiosa, clivagens sociais, dentre outros, produziram importantíssimas reflexões e avanços na compreensão do tema. Porém, de todo conhecimento produzido para o entendimento desse tema, ainda permanece dificultosa a compreensão do processo que leva o eleitor a decidir como votar.
A complexa linha de pesquisa Comportamento Político e Opinião Pública não produz achados de interesse apenas dos pesquisadores, comunicólogos e cientistas políticos, mas também aos partidos políticos e aos próprios candidatos. Dos modelos que envolvem teorias produzidas sobre o comportamento eleitoral, três se destacam como as principais: 1) Modelo Sociológico – conduzidos a partir dos trabalhos de Lazarsfeld e outros; 2) Modelo Psicológico – inaugurada por “The American Voter” (CAMPBELL et al, 1980); e o 3) Modelo Econômico/Racional – pensada por Anthony Downs.
Essas três corrente, cada um deles com um foco próprio de análise do comportamento do eleitor, foram pensados a partir de três fins principais: a) deduzir o comportamento do eleitorado; b) estabelecer previsões; e c) estudar os meios responsáveis por influenciar, direta e indiretamente, tais comportamentos na decisão de voto dos eleitores. O entendimento desses fins permite aos partidos políticos e candidatos construírem campanhas capazes de persuadir e influenciar o maior número de eleitores a votar em um determinado candidato e a rejeitarem os seus adversários.
Nos termos do modelo sociológico, a escolha do voto se dá pelo contexto social e político na qual o eleitor está inserido. De forma que “a pedra de toque” dessa corrente se concentra nas características sociais às quais o indivíduo encontra-se inserido (FREIRE, 2001, p. 9-10). Para esse modelo, as escolhas individuais e o desenvolvimento político são resultado do processo de sociabilidade. Por meio das identidades coletivas é possível inferir os interesses do eleitor. A convivência em um ambiente compartilhado gera necessidades e interesses coletivos, criando para este grupo uma lente comum para enxergar as escolhas que deverão ser tomadas. Assim, as interações estabelecidas entre grupos – raça, gênero, classe social, religião etc -, de certa forma, ditam para o indivíduo qual será o seu comportamento eleitoral.
Em contrapartida à escola sociológica, para o modelo psicológico a decisão por um candidato é estabelecida por fatores psicológicos e pelo mapa mental do eleitor carrega consigo. O meio na qual o indivíduo está inserido, por si só, não é suficientemente determinante. Apesar da influência que o grupo tem sobre o eleitor, sua escolha se dá pela identificação partidária, de maneira que o ato de votar se estabelece como forma de expressão individual das atitudes, percepções e crenças dos eleitores sobre política. Nessa linha de pesquisa, “a estrutura de crenças e as opiniões sobre política seriam constituídas no próprio processo de formação social dos indivíduos” (TELLES, LOURENÇO, STORNI, 2009, p. 92). Em outros termos, cada pessoa possui crenças construídas ao longo de sua vida pelos processos de socialização, de maneira que o voto do indivíduo se estabelecerá a partir dessa formação psicológica e do contexto social na qual ele está inserido. Mas, nessa teoria, o partido é fundamental para produzir interesses sobre a política. Os eleitores são divididos em sofisticados e não-sofisticados, sendo que esses últimos agem como torcedores e os primeiros (sofisticados) são aqueles que podem portar ideologias.
Já a teoria da escolha racional, cunhada por Anthony Downs (1958), por sua vez, entende que o comportamento político é estabelecido por cálculos racionais. Nos termos dessa linha de estudos, os eleitores, indivíduos racionais, agem por interesses, sejam deles próprios (egoísticos) ou alheios (altruísticos), definindo entre as opções existentes, aquela que, ao seu ver, traria maior benefício para alcançar seus objetivos e metas. O cálculo do voto se baseia na relação vs. custo – benefício, frente às vantagens pessoais aferidas de sua escolha, optando por partidos e os candidatos que melhor representam suas demandas, valores e prioridades (TELLES, MUNDIM, 2015, p. 21). Um exemplo possível de interpretação que essa teoria proporciona é: se a economia vai bem, o governo é premiado com votos, se a economia está ruim, a oposição se beneficia.
A teoria da escolha racional se subdivide em duas linhas de decisão: voto retrospectivo (quando ao escolher um candidato o eleitor examina suas ações passadas) e o voto prospectivo (quando a escolha se pauta na avaliação das propostas de atuação futura de um candidato).
Em tempos de crise, a economia na América Latina, como ótica de avaliação no processo racional da escolha de voto, geralmente, se torna uma variável relevante para a avaliação do governo (CAMARGOS, 2009). Contudo, nas eleições presidenciais de 2022, mesmo após um contexto de pandemia, ao contrário das expectativas, o voto econômico não foi o único a ditar o comportamento de grande parte do eleitorado brasileiro, senão dividiu espaço também com a ideologia e a religião (TELLES et. al. 2023).
Em um cenário político extremamente polarizado, as campanhas presidenciais de 2022, dos candidatos Bolsonaro e Lula da Silva, muito além de apenas propostas políticas abordaram temas sensíveis de uma agenda moral engendrada nas reivindicações de uma extrema-direita autoproclamada “Cidadã de Bem”[5]. Nesse coletivo ultradireitista, que nas eleições de 2022 articularam-se em apoio ao candidato Bolsonaro, está a maioria dos eleitores evangélicos do país.
O voto evangélico, oriundo do comportamento sociológico, no decurso dos anos vem se tornando um fenômeno de grande impacto nas eleições brasileiras. Ele se define, em escolha, pelas influências políticas recebidas no interior das igrejas, das lideranças religiosas e das relações sociais entre os fiéis, que empregam sobre cada indivíduo lá presente, a pressão por um voto coeso. Esse comportamento político social, denominado “candidatura oficial”, indica que as instituições evangélicas escolhem para si aqueles candidatos que melhor representaram os interesses da igreja. Após isso, várias ações para a promoção dessa candidatura são realizadas em cultos e pregações, transformando o ambiente religioso em um campo de captação de votos (GRACINO JR. e REZENDE, 2020, p. 263).
A dinâmica do voto confessional é absorvida ideologicamente pela lógica do “irmão vota em irmão”. Pesquisa Datafolha de outubro de 2022, inclusive sobre isso, detectou que 16% dos evangélicos afirmaram terem sido orientados, pelos pastores de suas igrejas, a votar em Bolsonaro – ao passo que menos de 1% reportaram ter recebido recomendação para votar em Lula. Já entre os católicos, 2% declararam orientação para voto em Bolsonaro e 1%, para a escolha de Lula.
Inclusive no pleito eleitoral à Presidência da República no Brasil de 2022, observou-se o forte impacto do voto confessional nas urnas junto a base evangélica. Das análises estabelecidas por Telles et al. (2023, p. 14), na proporção de votos em Bolsonaro por população de evangélicos no 2º turno eleições 2022, destaca-se que nas localidades do Norte e do Nordeste do país, tidas como regiões menos desenvolvidas economicamente, os votos conferidos ao candidato Bolsonaro pelo público evangélico, em sua imensa maioria, estabeleceram-se pelo critério ideológico confessional em detrimento ao econômico.
A identidade religiosa influencia o comportamento político dos evangélicos, não obstante existem outras pressões que se cruzam sobre a identidade religiosa, sobretudo a situação econômica individual. Entre evangélicos com maior renda, as chances de votar em Bolsonaro eram de 71%, ao passo que nas classes mais pobres a identidade religiosa é menor: 49% das pessoas desses grupos foram eleitores de Bolsonaro.
Sob o prisma da abordagem sociológica em conexão com o voto confessional na formação de fortes laços de influência, Rodrigues e Fuks (2015) apontaram os mecanismos que levaram ao desenvolvimento desse padrão com três diferentes dimensões:
“(1) a frequência dos indivíduos às atividades da igreja, definindo o nível de integração do indivíduo ao grupo; (2) o modelo de organização eclesial, que determina os padrões de interação e as possibilidades de comunicação entre os indivíduos; (3) e, por fim, o papel das lideranças religiosas, que têm impacto na trajetória do fluxo de comunicações e na capacidade de persuasão dos estímulos políticos” (2015, p. 117-118).
Assim, os encontros regulares propiciados por cultos e outros espaços de convivência, a estrutura organizacional e a postura adotada pela liderança religiosa são condições que facilitaram a transmissão de informações políticas que redundam na coerção social e na conformação coletiva para uma escolha única comum do voto (Rodrigues e Fuks, 2015).
O aumento da influência política deste grupo religioso está diretamente vinculado a mudanças no perfil religioso do país, em uma tendência clara de migração religiosa da população, no que se pode denominar como a “descatolicização” (HIGGINS, 2021). Muito desse atual cenário de transformação demográfica da fé dos brasileiros se dá pelo fenômeno da pentecostalização[6]. A aderência de novos públicos nas igrejas pentecostais se deve, em parte, por sua forma de agir socialmente entre os extratos mais pobres da população:
A postura assistencialista do pentecostalismo nacional e a força dos laços estabelecidos no ambiente clerical, proporcionam às lideranças religiosas evangélicas ativa influência sobre os fiéis, alcançando todos os aspectos civis desses membros. Politicamente, pastores levam os eleitores cristão pentecostais a votarem por suas reivindicações de representação e a fazerem o registro de seus anseios nas urnas. Essa persuasão exercida é pautada pelas estratégias definidas na Teologia do Domínio, instituída a partir dos ideais Reconstrutivista de uma “Nação Cristã”, encabeçados por Rousas John Rushdoony (1916-2001).
Teólogos adeptos ao dominismo adotam em seu pastorado uma interpretação literal da Bíblia e da escatologia nela impressa. Por força dessa visão, passaram a defender uma colonização cristã dos povos e a expansão territorial do domínio de sua fé. A expansão da Fé cristã nos quatro cantos do mundo e a conquista de mais almas para Jesus são necessários, em seus termos, para o cumprimento das promessas bíblica de regresso de Jesus Cristo e implantação do paraíso na Terra pelo “final dos tempos”. Lutar contra as forças espirituais satânicas em prol da edificação de uma “verdadeira Nação de Cristo” é a condição que o mundo deve alcançar para que o apocalipse ocorra e, por conseguinte, o encontro dos eleitos com o Messias e suas promessas.
Como plano de ação para o sucesso dessa missão de “Encantamento do Mundo” foram criados “7 montes da sociedade”. A estratégia segmenta a sociedade em sete pilares, os quais, ao serem conquistados, levaram ao sucesso da missão de domínio e a conversão universal dos infiéis, sendo eles a saber: 1) artes e entretenimento, 2) mídia e comunicação, 3) governo e política, 4) economia e negócios, 5) educação e ciência, 6) família, 7) igreja e religião (GUSTAVO, 2019).
Nas eleições presidenciais de 2022 a importância da religião e a Teologia do Domínio foram ganhando espaço frente ao debate econômico, principalmente na campanha de Bolsonaro, que se concentrou em pautas morais, movida por uma interpretação bíblica da família e suas tradições, e pelo uso do medo dos impostores – a esquerda satânica. A Teologia do Domínio em sua esfera, absorvida pela figura populista e messiânica de Bolsonaro criaram entre o público evangélico, um forte senso de coletividade, que ultrapassou a avaliação negativa da economia de seu governo, em nome do bem comum evangélico: a salvação do Brasil e a preparação para o retorno de Cristo.
Referências bibliográficas
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TELLES, Helcimara, Lopes, Vinicius. A Direita encontrou solo fértil: evangélicos e conservadorismo no Brasil. Projeto FAPEMG. BPD -00896-22
[1] Helcimara Telles é Doutora em Ciência Política, Professora da Universidade Federal de Minas Gerais e Presidente da Abrapel – Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais. Link Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5854848038464290. Esse artigo é resultado parcial da Pesquisa A direita encontrou solo fértil: comportamento político dos evangélicos e conservadores, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) – BPD -00896-22
[2] Horrana Grieg é mestre em Antropologia pela UFMG, pesquisadora do Grupo Opinião Pública na UFMG, associada Abrapel – Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais. Link Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3318973130392260
[3] Vide Gráfico: Transição religiosa no Brasil: 1940-2023, como Fonte: Universidade UNISINOS (IBGE de 1940 até 2010 e projeções 2022 e 2032). Disponível no link: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/188-noticias-2018/585245-transicao-religiosa-catolicos-abaixo-de-50-ate-2022-e-abaixo-do-percentual-de-evangelicos-ate-2032. Acesso 15/08/2023
[4] Disponível em: https://www.abrapel.org.br/termometro-da-campanha
[5] Cidadão de bem é a designação dada a todos aqueles que incorporam “um conjunto de formas específicas de reinvindicação política na vida pública e a um conjunto particular de temas e agendas que passaram a ser consideradas como legítimos”. O “cidadão de bem” extrapola as formas de condutas individuais e passa a designar aqueles que não são “comunistas”, “petistas” ou “de esquerda” – vistos como apoiadores da corrupção e “não trabalhadores”. “Trata-se de uma noção específica de pessoa e um sentimento de pertencimento à uma forma correta de estar no mundo. Para se compreender como o discurso contra a corrupção encontra lastro na figura do “cidadão de bem” é preciso considerar os diferentes sentidos atribuídos pelas pessoas a aquilo que chamamos de corrupção. É possível capturar seus sentidos a partir da tríade Deus, Pátria e Família – mote defendido pelos grupos de ultradireita seculares ou religiosos”. (KALIL, 2018, p. 9).
[6] O fenômeno da pentecostalização, segundo Mariano (1999), está baseado na transformação dos modelos tradicionais protestantes (pautas principalmente nos ensinamentos bíblicos) para novas igrejas que valorizam a ideia pneumatológica do estado de Graça, concedido pelo Espírito Santo. Para os evangélicos pentecostais, ainda hoje, assim como agia nas histórias bíblicas da igreja primeira instituída pelos apóstolos de Jesus Cristo, além do batismo o fiel deve de experiencializar um encontro com espírito santo de Deus. Essa visão é representada pelo posicionamento continuísta, em que os dons do espírito são visíveis e experimentados ainda hoje e entram em choque com a posição cessacionista, adotada pela maioria de igrejas protestantes históricas, em que os dons espirituais são entendidos como elementares para os tempos bíblicos, que hoje podem ou não acontecer. Em suma, as igrejas pentecostais destacam-se das demais igrejas evangélicas por praticarem uma convivência sobrenatural pessoal e rotineira, de cada um dos seus fiéis, com os dons do espirito santo, somente por meio dessa experiência é possível observar a conversão completa do indivíduo que passa a receber o poder de Deus para evangelizar o mundo.
Fonte Imagética: O governador Aécio Neves participou do Encontro de Pastores Evangélicos na Igreja Batista Getsemani, no bairro Dona Clara, em Belo Horizonte. Foto: Leo Drumond, Wikimedia Commons. Disponível em <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:A%C3%A9cio_Neves_-_Encontro_com_Pastores_Evang%C3%A9licos_-_29_08_2006_(8389717912).jpg#/media/File:A%C3%A9cio_Neves_-_Encontro_com_Pastores_Evang%C3%A9licos_-_29_08_2006_(8389717912).jpg>. Acesso em 09 nov 2023.