Marconi Severo1
03 de junho de 2024
O agronegócio talvez seja hoje um dos objetos mais desafiadores para as ciências sociais brasileiras. Fato social de múltiplas faces, e que não se restringe apenas ao meio rural, o agronegócio exerce uma influência peculiar, embora não exclusiva, sobre o campo científico: impõe direta e indiretamente agendas de pesquisa (desmatamento ilegal e avanço de fronteiras agrícolas, desindustrialização e exportação de commodities, demarcação de terras e conflitos agrários, etc.) ao mesmo tempo em que influencia na adoção de determinadas abordagens teórico-conceituais (agronômicas, econômicas, sociológicas) e, por conseguinte, nas tomadas de posição que elas acarretam ou refletem.2 No que se refere às ciências sociais, o agronegócio ultrapassa a condição de mero objeto, e chega mesmo a instigar algumas considerações de natureza epistemológica.
Alguns pesquisadores têm contribuído de forma contínua para o avanço do conhecimento científico acerca da agricultura empresarial, agricultura patronal, agronegócio e burguesia agrária. Penso, por exemplo, em Regina Bruno e, mais recentemente, Caio Pompeia. Em comum, estes e outros/as autores/as possuem uma agenda de pesquisa em que as classes dominantes do campo não são o objeto residual, mas central. É importante que se diga isso, uma vez que atualmente parece predominar, entre os cientistas sociais, certo interesse por temas como: agricultura familiar; agroecologia e consumo político; campesinato e reforma agrária; conflitos sociais, lutas e resistências; movimentos sociais populares; políticas públicas e ações governamentais; relações trabalhistas, sindicatos e organizações de classe; juventude, sucessão familiar e reprodução de classe; territorialidade e saberes tradicionais; violência no campo.3
Apesar de suas contribuições válidas, não é incomum que essas análises contribuam apenas residualmente para o enquadramento científico do agronegócio: seja porque não o tomam como objeto principal, seja porque ele é confundido, confusamente definido ou, ainda, tomado indistintamente como sinônimo de agricultura empresarial, agricultura patronal e classe latifundiária.4 Um dos efeitos possíveis, além da prévia tomada de posição em relação ao objeto (ele próprio, não raro, constituído em oposição aos setores dominantes do campo), consiste no afastamento do agronegócio como tema de pesquisa e, consequentemente, na reprodução de certo descompasso teórico-conceitual.5
Tomemos como exemplo para reflexão o texto recentemente publicado na Lua Nova (Severo, 2023a), intitulado “A classe média rural brasileira e o agronegócio: cooptação e hegemonia”, que pode ser lido como um estudo acerca do espaço social rural. A constatação é provocativa: o discurso do agronegócio é hoje hegemônico porque consegue, não sem resistências, cooptar apoio entre os pequenos e médios agricultores. Mais: ele não só consegue cooptar apoio por meio de estratégias que visam explorar pré-disposições incorporadas pelos indivíduos ao longo de sua socialização como se beneficia, indiretamente, dos atritos existentes entre os movimentos sociais populares e os pequenos e médios agricultores. Caso fossem empregados os recursos teórico-conceituais usuais entre parte daqueles que se dedicam aos temas citados acima, possivelmente as conclusões seriam outras.
Isto se explica, dentre outros fatores, pela influência marxista (nem sempre explícita) que caracteriza a “educação científica”, como diria Thomas Kuhn (1998), dos cientistas sociais que se dedicam ao estudo do meio rural brasileiro. Tal influência pode ser explicada por vários fatores, dentre os quais se destacam a incontornável presença de autores clássicos de inspiração marxista junto aos planos de ensino (Lênin, Kautsky, Engels, além do próprio Marx), a relativa difusão do cânone teórico-conceitual disponível e nem sempre adaptável ou adaptado à realidade social, e a eventual sinergia entre o discurso que o objeto estudado possui acerca de si mesmo e o referido cânone teórico-conceitual. É o que sugerem, como demonstrado em Severo (2024), as declarações do tipo “todo o aparelhamento do Estado brasileiro está a serviço do agronegócio”, ou ainda aquelas que apontam para o fato de que a “correlação de forças atual é contra a agricultura familiar”, já que “nós temos o Estado contra e o capital contra”.
A partir daí não é difícil encontrar interpretações engajadas, como as de Barros (2018), que preconizam que no “modelo de agronegócio não há espaço para a agricultura familiar”, que a “luta pela terra e pela reforma agrária se insere na luta contra o modelo do capital na agricultura”, bem como que é “urgente e necessária uma política de reforma agrária” que seja capaz de atender “às demandas dos camponeses”. Embora menos usuais nas ciências sociais (mas frequentes em áreas como agronomia e economia), há também proposições valorativas com sinal invertido, como aquelas defendidas por Luz e Fochezatto (2023), que asseveram que se “o agronegócio brasileiro fosse um país, seria, em 2019, a 33ª economia do mundo”, de onde a premissa (e não mais a conclusão) de que ele “é muito mais que agricultura e pecuária”, o que justificaria o seu estudo, tendo em vista uma melhor “formulação de políticas públicas” para o setor. Apesar da aparente oposição, ambas compartilham um caráter normativo que denuncia a dimensão política existente por trás de um empreendimento que se pretende científico.6
A interpretação é representativa, porquanto conforme às expectativas dos seus pares, mas limitada: ora, o agronegócio é infinitamente mais complexo do que sugerem as oposições capital/trabalho, latifundiário/camponês, agricultura empresarial/agricultura familiar, que, aliás, estão a um passo de oposições valorativas (portanto políticas) como avançado/atrasado, produtivo/improdutivo, sustentável/insustentável. É o que fica explícito ao se afirmar que pequenos e médios agricultores nem sempre possuem as mesmas pautas, e que muitos tendem a se identificar antes com o agronegócio do que com os movimentos sociais populares; ou que o uso conjunto de determinadas categorias pode ser prejudicial à revelia daqueles que os usam; ou, ainda, que a relação entre Estado e agronegócio precede em larga medida o próprio surgimento do agronegócio.
Nunca é demais lembrar que o fato de ser agricultor familiar ou produtor rural – o se identificar condiciona a eficácia simbólica, e portanto material, do ser identificado – não é capaz, por si só, de promover uma convergência de classe que faça desaparecer permanentemente as divergências internas, como aquelas que opõem os camponeses aos agricultores familiares consolidados, chamados pejorativamente pelos primeiros de “agronegocinho”, ou os setores empresário-industriais do agronegócio aos setores agrário-exportadores. Talvez a principal deficiência das abordagens ingenuamente fundamentadas na oposição agricultura familiar/agronegócio, muito difundidas após a promulgação da Lei da Agricultura Familiar (Lei nº 11.326 de 24 de julho de 2006), tenha sido a sua incapacidade de considerar a complexidade de convergências e divergências possíveis entre os diferentes atores, grupos e classes presentes no campo brasileiro.7
O emprego de categorias como latifundiários e camponeses, por exemplo, não é capaz de representar satisfatoriamente, mesmo em um nível de elevada abstração teórica, as práticas e vivências observadas no meio rural ou que a ele digam respeito. O mesmo vale para a oposição reducionista entre agricultura familiar e agricultura empresarial, cuja aplicabilidade é incapaz de dar conta da expressão agricultura familiar empresarial ou das complexas relações estabelecidas entre agricultores familiares que mantêm práticas tradicionais (alguns diriam camponesas) sem, contudo, deixar de estabelecer contratos comerciais com multinacionais.8 É nesse sentido que se pode falar de um descompasso entre o que é o agronegócio e como ele é compreendido pelas ciências sociais.9
A situação pode ser ainda mais complexa. Por exemplo, Mitidiero Jr. e Goldfarb (2021) tiveram o cuidado de não utilizar esse tipo de abordagem ao desconstruir alguns mitos do agronegócio, mas não perceberam que mobilizaram em suas análises a mesma categoria (produtor rural) sobre a qual se assenta a doxa e, por extensão, o discurso do agronegócio. Em outras palavras, o mito foi desconstruído estatisticamente, mas não simbolicamente, isto é, o discurso permanece intacto. O que se pode concluir a partir disso? Que é preciso ter uma vigilância epistemológica constante para escapar aos extremos que levam a usar conceitos mobilizados em oposição ao agronegócio ou criados pelo próprio agronegócio.10
A resposta à pergunta por que o discurso do agronegócio é hegemônico? passa pela abordagem cultural, no sentido antropológico do termo, das relações econômicas.11 Isto porque a mais econômica das relações é perpassada por um viés cultural: o empresário rural, também chamado de empregador rural e produtor rural, pode ser reconhecido pelos empregados rurais, também chamados de trabalhadores rurais, como fazendeiro, senhor ou patrão (mas quase nunca como latifundiário), ao mesmo tempo que reconhecem a si mesmos como peões, caboclos, sertanejos, etc. (mas quase nunca como camponeses). O agronegócio é um especialista sem igual ao explorar esta dimensão cultural historicamente constituída em benefício próprio (é o que sugere o atual investimento na cultura de massas por meio da música sertaneja, de onde o agronejo).
Porque sua dominação não é nem poderia ser absoluta, o agronegócio investe na supressão formal de fronteiras: se pretende o representante legítimo do homem do campo, o chamado produtor rural, mas assegura para si os benefícios jurídicos e políticos de uma universalização que não se faz acompanhada das condições sociais de possibilidade de acesso a este universal.12 É um fato social de fundamental relevância, mas nem sempre reconhecido como tal, que os movimentos sociais populares, ao interagirem nos campos jurídicos e políticos, têm suas pautas transubstanciadas nas categorias usuais naquele mercado linguístico (a legislação brasileira reconhece o agricultor familiar, congênere do empreendedor familiar, mas não o camponês). Acrescente-se ainda que, ao contrário do que ocorre com as categorias dos seus críticos e opositores, as operações linguísticas do agronegócio são as mesmas utilizadas pelo público em geral, o que lhe confere um enorme poder simbólico.13
É sintomático, nesse sentido, que o ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e atual deputado Federal (MDB-RS) Alceu Moreira afirme, categoricamente, que “levou muito tempo para que os produtores acordassem para isso”, ou seja, para a necessidade de se “considerar comunicação e imagem como custo de produção”.14 Que o agronegócio se autopromova em suas representações, ou que se apresente como sinônimo de meio rural agrícola e o produtor rural como sinônimo do homem do campo, não surpreende. Mas que use uma linguagem acessível, frequentemente complementada por dados estatísticos e imagens, e que tenha como objetivo o grande público, sobretudo dos centros urbanos, é algo que não pode passar despercebido pelas ciências sociais.
Referência imagética: O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 145, n. 47668, 21 abr. 2024, capa.
Este é, aliás, o objetivo da imagem acima, retirada não por acaso da capa de um dos principais jornais do Brasil.15 Nela, tem-se um produtor rural a meio caminho entre o gordo gado bovino que observa de cima e a densa floresta existente atrás de si, demonstrando visualmente que “é possível ter uma pecuária verde com produtividade”, conforme o subtítulo que a acompanha. O texto complementa: em meio à pitoresca paisagem de um município do Pará, que outrora esteve “na lista das cidades que mais desmatavam a Floresta Amazônica”, operou-se, por meio do Projeto Município Verde, uma transformação produtiva que integrou a pecuária à conservação ecológica, fazendo do local um “centro vibrante da produção agropecuária brasileira”. O agronegócio antecipa críticas ao apresentar soluções, está quase sempre um passo à frente de seus críticos, e segue firme no seu objetivo “de tornarmos o agro a grande paixão do brasileiro, assim como nós temos o carnaval e o futebol”.16
Tomar o agronegócio como um fato social do tempo presente sem levar em consideração seu lastro histórico-cultural, bem como sua abrangência material e simbólica no espaço social rural, ou tomá-lo por meio de suas próprias categorias de forma acrítica, ou, ainda, por meio de constructos teórico-conceituais mobilizados em sua oposição, constituem empreendimentos intelectuais incapazes de dar conta da complexidade, inclusive semiológica, do seu discurso. Com efeito, para citar Karl Marx (2008, p. 75), é preciso substituir a crítica que “ataca a existência, mas não a essência”, por uma crítica que seja crítica de si mesma e, portanto, capaz de tomá-lo como objeto das ciências sociais sem perder de vista que, como outros objetos típicos, o agronegócio é também um concorrente, e com pretensões científicas, no que se refere à elaboração de interpretações sobre a realidade social.
* Este texto não representa necessariamente a opinião do Boletim Lua Nova ou do CEDEC.
Referências bibliográficas
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SEVERO, Marconi. A classe média rural e o agronegócio: cooptação e hegemonia. Lua Nova, n. 120, p. 123-166, set./dez. 2023a.
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______. Estado e agronegócio no Brasil: a oficialização de uma imagística. Mana, v. 30, n. 1, p. 1-32, jan./abr. 2024.
______. O conceito de camponês no Brasil: usos e críticas. Sociedade e Estado (no prelo).
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
1 Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: marconisevero@hotmail.com
2 Algumas revistas especializadas (mas não científicas) divulgam a relação do agronegócio com o campo científico como algo positivo para o setor. É o caso de reportagens como, por exemplo, “A importância do meio acadêmico para fortalecer o setor”. Cf. Revista Aviação Agrícola, (7):1, p. 9, jan./mar. 2024.
3 Seria preciso avançar as pesquisas nesse sentido, sobretudo pelo viés estatístico, a fim de mapear as principais tendências relacionadas ao espaço social rural como objeto de estudo das ciências sociais (quais são os temas mais frequentes, qual a formação acadêmica e o vínculo institucional dos pesquisadores, onde e por qual meio são divulgados seus achados, quais são suas fontes de financiamento, etc.).
4 A meu ver, esta é uma das principais deficiências da sociologia rural de José de Souza Martins, o que não diminui o mérito de suas reflexões.
5 Durante as entrevistas realizadas para a pesquisa do doutorado (Severo 2023b), deu-se um caso interessante: o representante de uma instituição ligada ao setor agrário-exportador do agronegócio declarou, ao fim da entrevista (e entre risos), que ao ler as pautas previamente apresentadas por e-mail, cogitou não responder ao contato: ocorre que, dentre elas, havia uma que tratava da relação entre o agronegócio e o movimento camponês.
6 Este exemplo, infelizmente muito corriqueiro, coloca em evidência o efeito contraproducente das influências exercidas pelo agronegócio sobre o campo científico, sobretudo o sociológico. Talvez a natureza peculiar deste objeto justifique lembrar, com Florestan Fernandes (2008, p. 121), que é imperativo ao sociólogo divorciar-se “do homem de ação, não porque a prática seja incompatível com a ciência, mas porque esta não pode nem deve converter-se em meio de propaganda ou de dominação políticas”. O que não significa que os cientistas sociais não possam assumir posicionamentos políticos, tal como se fossem movidos por uma espécie de neutralidade axiológica absoluta: o próprio fato de atuar cientificamente sobre a realidade social pode conferir um embasamento realista, e mesmo científico, às tomadas de posição político-ideológicas.
7 É surpreendente que alguns/mas pesquisadores/as, entusiasmados/as com o sucesso do reconhecimento político da agricultura familiar, tenham ignorado que o seu reconhecimento oficial, apesar de ter sido uma conquista para o setor, operou-se segundo uma ordem jurídica e política controlada pelos setores dominantes do campo (o que ajuda a compreender o porquê de o agronegócio ter conseguido encampar formalmente a agricultura familiar, segundo o seu conhecido jargão de que “o produtor rural não tem tamanho”). É possível – seria preciso por à prova esta hipótese – que hoje o número de análises que insistem na agricultura familiar como alternativa ao agronegócio seja inferior ao que havia há dez ou quinze anos, o que demonstra, talvez, um amadurecimento em relação ao reconhecimento do potencial material e simbólico do agronegócio, ou seja, de que não se pode subestimá-lo ou ignorar a influência de suas representações junto à sociedade como um todo.
8 Sobretudo no ramo do tabaco, suinocultura e avicultura. Algumas considerações interessantes de natureza teórico-conceitual podem ser encontradas em Caume (2009), Meneses (2021), e Severo (no prelo).
9 Como os movimentos sociais populares e seus simpatizantes são muitas vezes nutridos intelectualmente por cientistas sociais e acadêmicos de diversas áreas, este descompasso se faz sentir também na constituição de suas pautas contra-hegemônicas e, por conseguinte, no seu sucesso ou fracasso.
10 Para uma análise diacrônica e sincrônica acerca das categorias utilizadas no ou em referência ao meio rural brasileiro, cf. Severo (2023b). Os achados em questão instigaram novas análises, ainda em curso.
11 Indico fortemente a leitura de Sahlins (2003) e Wagner (2010).
12 O descompasso entre o discurso e as práticas pode ser evidenciado, curiosamente, em duas reportagens que se propõem a “integrar” a classe média rural ao agronegócio (a integração não é efetiva, porquanto há uma sutil distinção entre os trabalhadores rurais e agricultores familiares, de um lado, e os produtores rurais, de outro). Cf. Trabalhadores rurais possuem papel essencial na transformação do agronegócio brasileiro, Revista Coplacana, v. 4, n. 23, p. 43-46, jul./ago. 2021; e A nova classe média rural, Revista Campo, v. 13, n. 200, p. 22-25, fev. 2012.
13 A título de exemplo linguístico, mas também simbólico (e, portanto, material), da influência (e do contraste) de determinados fatores de ordem histórico-cultural em dois países falantes de língua portuguesa, convém citar a reportagem publicada no Jornal de Angola (11/3/2024, p. 10) intitulada “Camponeses da Gamba à espera de boas colheitas”. Tal reportagem seria impensável no Brasil, simplesmente porque a categoria camponês não faz parte da linguagem usual entre os brasileiros, como evidencia O Globo (12/3/2024, p. 14) que, para se referir aos créditos por perdas de safra emprega, no título da reportagem, a categoria produtor rural. Cf. Camponeses da Gamba à espera de boas colheitas. Jornal de Angola, Luanda, ano 47, n. 17.379, 11 mar. 2024; e Produtor rural terá US$ 2 bi de crédito por perda na safra. O Globo, Rio de Janeiro, Ano XCIX, n. 33.090, 12 mar. 2024.
14 MOREIRA, Alceu. Entrevista. Revista Aviação Agrícola, v. 3, n. 4, p. 24-33, out./dez. 2020, p. 28-29.
15 O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 145, n. 47668, capa e p. B10-B11 (21 de abril de 2024).
16 Conforme declaração do presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA), instituição fundada em 1979 (portanto há mais de quarenta anos, quando a expressão “agronegócio” era ainda inusual) e que tem por objetivo elaborar e difundir estratégias de comunicação e de marketing produzidas pelo setor. Cf. NICODEMOS, Ricardo. Entrevista AgroMais, em 31 out. 2022. Disponível em: https://youtu.be/zd0VxiVllqs. Acesso em: 14 abr. 2023.
Referência imagética: Governo lança Plano Safra de R$ 364,22 bilhões para agronegócio (Créditos: Joédson Alves/ Agência Brasil). Disponível em <https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2023-06/governo-lanca-plano-safra-de-r-36422-bilhoes-para-agronegocio>. Acesso em 03 maio 2024.