Felipe Borba[1]
Vitor Peixoto[2]
INTRODUÇÃO
A vida política do Rio de Janeiro vem sendo sacudida por uma sucessão de terremotos. Nos últimos seis anos, seis governadores ou ex-governadores foram presos ou afastados do cargo por denúncias de corrupção. O histórico de prisões começou em novembro de 2016, quando Anthony Garotinho foi preso por compra de votos nas eleições para prefeito de Campos daquele ano. Na sequência, vieram as prisões de Sérgio Cabral (junho de 2017), Rosinha Garotinho (novembro de 2017), Luiz Fernando Pezão (novembro de 2018) e Moreira Franco (março de 2019).
O último desses abalos sísmicos resultou na ascensão de Claudio Castro ao Palácio Guanabara. No dia 28 de agosto de 2020, a ALERJ aprovou por unanimidade o impeachment do governador Wilson Witzel (PSC) após denúncias de desvio de recursos públicos. A Procuradoria Geral da República acusou Witzel de ser o principal líder de uma organização criminosa que agiu para desviar dinheiro por meio de contratação irregular de organizações sociais para a saúde. Como vice-governador eleito, Castro assumiu o comando do estado.
Até então, Castro era um político obscuro do Rio de Janeiro. Começou a sua trajetória política em 2004 como chefe de gabinete do vereador Márcio Pacheco (PSC), com quem seguiu para a ALERJ em 2010, quando Pacheco tornou-se deputado estadual. Após tentativa fracassada de tornar-se vereador em 2012, Castro conseguiu se eleger para a Câmara municipal em 2016 com 10.262 votos, sendo apenas o 56º candidato mais votado da cidade do Rio de Janeiro.
Apesar de sua ascensão acidental ao Palácio Guanabara, Castro despontou no início da campanha como um candidato competitivo por ter a máquina do estado nas mãos, o caixa do estado abastecido pela venda da Cedae e por contar com o apoio do presidente Jair Bolsonaro. Além disso, montou a maior coligação eleitoral, somando quase cinco minutos de tempo de propaganda no rádio e na televisão.
Esperava-se, assim, que no Rio de Janeiro houvesse a reprodução da polarização nacional. De um lado, Castro e o presidente, ambos disputando a reeleição pelo PL, e de outro Lula (PT) e o deputado federal Marcelo Freixo, que havia trocado o PSOL pelo PSB na tentativa de formar uma dobradinha vitoriosa com o ex-presidente.
Na véspera da eleição, outro tremor de terra prometeu reequilibrar a balança eleitoral. Descobriu-se novo esquema de corrupção no Estado, conhecido como escândalo da Ceperj. A denúncia dava conta da existência de uma folha de pagamento secreta que repassou milhões de reais para políticos e funcionários fantasmas. Quase todo esse dinheiro foi sacado na boca do caixa em agências bancárias.
O que anunciava ser um tsunami não passou de uma marolinha. O governador improvável, ex-assessor de vereador alçado ao comando do estado por uma manobra do destino, no centro de novo esquema de corrupção num estado que já havia levado cinco ex-governadores para a cadeia por corrupção, acabou conquistando facilmente a sua reeleição com 58,7% dos votos válidos, percentual não estimado por nenhuma das empresas de pesquisa que sondaram as intenções de voto no Estado durante as eleições.
O que se passou nessa disputa? Neste pequeno texto, tentamos oferecer algumas pistas para responder a esta pergunta. Iniciamos com uma rápida descrição das características do eleitorado do Rio de Janeiro, avançamos para a eleição aos cargos de governador e presidente e encerramos com a análise para a eleição dos legislativos estadual e nacional. Encerramos com uma breve discussão sobre possíveis cenários para a política do Rio de Janeiro nos próximos anos.
O PERFIL DO ELEITORADO DO RIO DE JANEIRO
O Estado do Rio de Janeiro ocupa espaço geopolítico privilegiado na política brasileira. Embora seja o quarto menor estado em extensão territorial, é o terceiro maior colégio eleitoral do país, abrigando mais de 12 milhões de eleitores (cerca de 8% do eleitorado nacional). Os seus eleitores se distribuem entre 92 municípios, dos quais 39% habitam a capital, 36% a região metropolitana e 25% os demais municípios do interior.
O Rio de Janeiro ganhou 1.237.533 de novos eleitores nos últimos 12 anos. Nesse período, o eleitorado se manteve estável em relação ao gênero, com as mulheres representando cerca de 53% do total de eleitores desde 2010. Por outro lado, o eleitorado envelheceu e tornou-se mais escolarizado. Quanto à idade, a faixa etária dos 16 a 24 anos e de 25 a 34 anos encolheram conjuntamente. Elas somavam juntas 36% dos eleitores em 2010 e passaram para 30% em 2022. Simultaneamente, houve o crescimento do segmento com idade acima de 60 anos, que vai de 18% para quase 26%.
Tabela 1. Perfil dos Eleitores do Rio de Janeiro
2010 | 2014 | 2018 | 2022 | |
Sexo | ||||
Feminino | 53,3 | 53,5 | 53,6 | 53,9 |
Masculino | 46,6 | 46,5 | 46,2 | 46,0 |
Faixas de Idade | ||||
16 a 24 anos | 14,6 | 13,7 | 12,9 | 12,0 |
25 a 34 anos | 22,1 | 20,8 | 18,8 | 18,5 |
35 a 44 anos | 19,2 | 19,2 | 19,5 | 19,0 |
45 a 59 anos | 25,5 | 25,5 | 25,2 | 24,8 |
60 anos ou mais | 18,5 | 20,7 | 23,6 | 25,7 |
Escolaridade | ||||
Fundamental | 54,3 | 50,1 | 45,3 | 40,3 |
Ensino Médio | 36,2 | 39,2 | 42,3 | 45,7 |
Superior | 9,3 | 10,5 | 12,2 | 14,0 |
Total | 11.589.763 | 12.141.145 | 12.408.340 | 12.827.296 |
Em relação à escolaridade, a diferença mais acentuada com o passar dos anos é observada no eleitorado com educação básica: o percentual de eleitores com ensino fundamental foi decaindo até ser ultrapassado pelos eleitores com ensino médio. Esses eleitores de baixa escolaridade somavam 54,3% em 2010 e atualmente chegam a 40,3%. No mesmo período, a faixa dos eleitores com ensino médio subiu de 36,2% para 45,7% e dos eleitores com ensino superior de 9% para 14%.
A ELEIÇÃO EXECUTIVOS NACIONAL E ESTADUAL
Feita essa rápida descrição do conjunto do eleitorado do estado, passamos a discutir a votação dos principais candidatos para os cargos de governador e presidente. Como se sabe, o estado do Rio de Janeiro reelegeu Cláudio Castro (PL) no primeiro turno das eleições, com 58,7% dos votos válidos. Castro terminou com 2,6 milhões de votos à frente de seu principal adversário, Marcelo Freixo (PSB), que somou apenas 27,4% dos votos.
A disputa foi mais equilibrada na escolha para o executivo nacional. O presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu 51% dos votos válidos, enquanto Lula foi a escolha de 40,6% dos eleitores do Rio de Janeiro. Embora vitorioso, Bolsonaro viu sua força política encolher no Estado, pois em 2018 havia alcançado 59,8% dos votos válidos no primeiro turno. Aliás, foi no Rio de Janeiro onde o presidente mais perdeu votos entre uma eleição e outra.
Castro venceu em 91 dos 92 municípios do Estado. O governador só não teve a maioria dos votos em Niterói, onde Rodrigo Neves (PDT), ex-prefeito da cidade, venceu por margem apertada. Na capital fluminense, observou-se a divisão socioespacial histórica que perdura desde a década de 1960[3]. Freixo ganhou nos bairros mais ricos e escolarizados da Zona Sul carioca. Seu melhor desempenho foi na 16ª Zona Eleitoral de Laranjeiras, onde obteve 56,7% dos votos. Castro, por sua vez, expandiu a sua votação à medida que se afastava da Zona Sul, colhendo sua melhor performance na 238ª Zona Eleitoral de Bangu (63,5%) na Zona Oeste.
Na eleição presidencial, dos 92 municípios do estado, Bolsonaro venceu em 70 e Lula em 22. O presidente colheu vitórias importantes na capital e em quase todas as demais cidades com mais de 200 mil eleitores, como São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Belfort Roxo, São João do Meriti, Petrópolis, Campos e Volta Redonda. A única conquista significativa de Lula ocorreu em Niterói, onde ganhou com 46% dos votos. Embora vitorioso, Bolsonaro não repetiu a ampla vitória no primeiro turno de 2018, quando venceu em todas as cidades do Estado.
Na capital, observa-se certa sobreposição da divisão espacial dos votos para presidente e governador. O candidato do PT foi melhor nos bairros da Zona Sul, diminuindo a sua votação conforme avançava em direção aos bairros das Zonas Norte e Oeste. Lula, assim como Freixo, teve o seu melhor desempenho na 16ª Zona Eleitoral de Laranjeiras (59,7%). Bolsonaro espelhou a votação de Cláudio Castro e registrou a sua melhor votação na 120ª Zona Eleitoral de Campo Grande (58,2%), na Zona Oeste[4].
A despeito das pesquisas terem captado apenas em parte a dinâmica da opinião pública no Estado do Rio de Janeiro, principalmente o que se passou na eleição presidencial, ainda assim elas oferecem pistas valiosas para entendermos a composição social do voto. A pesquisa Datafolha, feita entre os dias 20 e 22 de setembro, foi a primeira a mostrar a liderança isolada de Castro nas intenções de voto. Nesta sondagem, Castro passou de 31% para 36%, enquanto Freixo oscilou de 27% para 26%. A pesquisa Ipec, coletada entre 24 e 26 de setembro, confirmou o favoritismo de Castro, ao apontá-lo com 38% das intenções, à frente de Freixo com 25%.
Boa parte da dianteira de Castro pode ser creditada pela avaliação do seu governo. Mesmo enfrentando o escândalo de corrupção da Ceperj, a administração de Castro gozava de 37% de ótimo e bom, 36% de regular e apenas 21% de ruim e péssimo, segundo medição de setembro do Ipec. A sua rejeição pessoal era igualmente baixa. Afirmavam que não votariam de jeito nenhum no governador apenas 19% dos eleitores, contra 29% que diziam o mesmo em relação a Freixo.
Castro liderou as intenções de voto em todos os segmentos sociais relevantes, porém registrou vantagens consideráveis sobre Freixo em alguns deles. O governador destacou-se entre os homens, os mais velhos, os menos escolarizados, as pessoas de renda média, os moradores dos municípios do interior e, principalmente, entre os evangélicos. Neste segmento específico, a pesquisa Ipec deu Castro com 45% das intenções de voto contra apenas 18% de Freixo. Na pesquisa Datafolha, a vantagem era ainda maior, dando Castro com 48% e Freixo com 12%. Vale lembrar que os evangélicos já haviam sido cruciais para a vitória de Crivella na eleição para prefeito de 2016, confirmando assim a expectativa da existência de uma clivagem de cunho religioso no eleitorado do Rio de Janeiro (Borba, Veiga e Feres, 2020).
Uma pergunta que pode ser feita é o nível de associação entre a eleição presidencial e para governador no Rio de Janeiro. A eleição casada provocou resultados também casados ou solteiros? Sem termos acesso aos bancos de dados das pesquisas eleitorais feitas pelos institutos, nos sobra buscarmos medir essa relação com base nos resultados eleitorais. A imagem abaixo apresenta as correlações das votações entre os cargos de presidente e governador pelas 183 zonas eleitorais do estado.
Imagem 1. Matriz de Correlação nas Eleições de 2022 no Rio de Janeiro
Os números indicam que o eleitor votou coordenado nesta eleição para os cargos executivos. Há correlação positiva e significativa entre os votos dados a Castro e Bolsonaro (0,675), Freixo e Lula (0,640) e, em menor intensidade, Rodrigo Neves e Ciro Gomes (0,467). Simone Tebet, que concorreu sem palanque estadual a seu favor, pois o seu partido (MDB) abriu mão de lançar candidato a governador para coligar-se com Castro, apresentou correlação positiva com Freixo e negativa com Castro.
A ELEIÇÃO PARA ALERJ E CÂMARA DOS DEPUTADOS
Em 2022, ocorreram as primeiras eleições proporcionais para a Câmara dos Deputados e Assembleias Estaduais/Distrital com a proibição de coligações eleitorais. O que já se tinha observado nas eleições municipais de 2020 se repetiu agora: houve uma significativa diminuição do número de partidos competindo e elegendo seus candidatos para estas casas legislativas.
Um indicador clássico da ciência política utilizado para mensurar o nível de competição eleitoral é o número efetivo de partidos (NEP)[5]. Nas disputas estaduais que utilizam o sistema majoritário (Senado e Governo estadual) há uma enorme estabilidade ao longo do tempo, configurando um sistema concentrado em poucos atores. Especificamente no Senado, há um padrão de variação que responde ao número de vagas em disputa, quando são duas vagas há um aumento, quando tem uma única vaga há retração.
Nas disputas que utilizam o sistema proporcional (Câmara dos Deputados e Assembléia Estadual) houve uma convergência na competição nas duas casas com clara diminuição da disputa para a ALERJ após um crescimento vertiginoso em 2018. Em 2022, o multipartidarismo retorna ao patamar de 2010 na ALERJ, como podemos ver no gráfico abaixo.
Imagem 2. Número Efetivo de Partidos nas Eleições do Rio de Janeiro (1998-2022)
Com a retração na competição eleitoral era de se esperar um reflexo também na configuração da própria ALERJ. E foi o que ocorreu: observou-se um recuo da fragmentação partidária após pico de crescimento em 2018. O índice de fragmentação[6] da ALERJ recuou para o patamar de 2002. O número de partidos que elegeram ao menos um dos 70 representantes na ALERJ chegou a 28, em 2018, e diminuiu para 20, em 2022. Para a Câmara dos Deputados, 21 partidos elegeram ao menos um candidato em 2018 e, em 2022, foram 16 partidos.
Imagem 3. Fragmentação Partidária na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (1998-2022)
Esta configuração da ALERJ permitirá uma coalizão de partidos com baixo custo de manutenção, posto que a coligação eleitoral do governador eleito, Claudio Castro, conquistou nada menos que 45 (64%) das 70 cadeiras em disputa. O PL sozinho conquistou 17 cadeiras e o União Brasil outras oito. A federação que reúne PT/PCdoB/PV foi responsável pela eleição de apenas oito representantes e o PSD, comandado pelo prefeito da capital, Eduardo Paes, elegeu outros sete deputados estaduais.
Outros partidos perderam todas as suas cadeiras e desapareceram do cenário político estadual. Deixaram de eleger deputados estaduais partidos como NOVO, PSDB e PPS (atual Cidadania). O MDB, outrora dominante no estado, reduziu sua bancada estadual de cinco para dois deputados. Na Câmara dos Deputados, destacam-se o crescimento do PT de dois para cinco deputados e as expressivas bancadas do PL (10 deputados) e do União Brasil (6 deputados). O PSOL manteve a sua força no estado, elegendo cinco deputados estaduais e outros cinco federais.
Além da diminuição da fragmentação houve também uma alta renovação tanto nos quadros da ALERJ (53%) quanto nos membros da Câmara dos Deputados eleitos no estado (57%)[7]. Na questão de gênero, há uma sub-representação gritante e persistente: 15 mulheres foram eleitas em 2022, ou seja, 21% das 70 cadeiras da ALERJ, um leve crescimento em relação a 2018 quando foram 13 (17%) as eleitas. Já para a Câmara dos Deputados, das 46 cadeiras apenas 19,6% foram conquistadas por candidatas, em 2018, eram 21,7%.
Tabela 2. Perfil dos Deputados Estaduais e Federais Eleitos
Alerj 2018 | Alerj 2022 | Câmara dos Deputados 2018 | Câmara dos Deputados 2022 | |
Sexo | ||||
Feminino | 17,1 | 21,4 | 21,7 | 19,6 |
Masculino | 82,9 | 78,6 | 78,3 | 80,4 |
Faixas de Idade | ||||
16 a 24 anos | 0,0 | 1,4 | 0,0 | 0,0 |
25 a 34 anos | 15,7 | 12,9 | 6,5 | 4,3 |
35 a 44 anos | 34,3 | 27,1 | 34,8 | 23,9 |
45 a 59 anos | 37,1 | 47,1 | 41,3 | 45,7 |
60 anos ou mais | 12,9 | 11,4 | 17,4 | 26,1 |
Escolaridade | ||||
Fundamental | 5,7 | 1,4 | 4,3 | 2,2 |
Ensino Médio | 27,1 | 28,6 | 17,4 | 13,0 |
Superior | 67,1 | 70,0 | 78,3 | 84,8 |
Cor/Raça | ||||
Branca | 69,2 | 64,3 | 65,2 | 71,7 |
Preta | 7,7 | 11,4 | 13,0 | 13,0 |
Parda | 23,1 | 21,4 | 21,7 | 13,0 |
Outras | 0,0 | 2,8 | 0,0 | 1,8 |
Total | 70 | 70 | 46 | 46 |
Houve o envelhecimento dos deputados: 58% dos eleitos para a ALERJ e 72% dos eleitos para Câmara dos Deputados situam-se nas faixas de idade acima de 45 anos. Em relação à escolaridade, persiste a sobre-representação dos deputados com ensino superior que somam 70% na ALERJ e 85% na bancada federal. Por último, há leve crescimento dos representantes não brancos na ALERJ, porém há o recuo desses não brancos entre os deputados federais eleitos.
CONCLUSÃO
A vitória de Cláudio Castro confirma a ascensão da nova direita no Rio de Janeiro, encerrando de vez o período de hegemonia emedebista no estado, inaugurado no início dos anos 2000 com a ida de Anthony Garotinho para o partido (Rodrigues, 2020). Na linguagem popular, podemos dizer que Castro fez “barba, cabelo e bigode”: ganhou o executivo estadual e o seu partido, o PL, elegeu as maiores bancadas na ALERJ e na Câmara dos Deputados.
Esta nova direita que se consolida no Rio de Janeiro combina a sua força política em duas dimensões: o uso pragmático da máquina política do estado e uma base ideológica evangélica. A primeira dimensão é velha conhecida da população fluminense que remonta ao chaguismo, força política extirpada na redemocratização, e encontrou um político habilidoso na costura com prefeitos e com capacidade de organizar a base na Assembleia Legislativa pacificando conflitos de interesses que levaram ao impeachment de seu antecessor.
A segunda dimensão sustenta-se na articulação ideológica com as igrejas evangélicas que, apesar de não ser uma exatamente uma novidade no estado (já foi ativo eleitoral de lideranças como o ex-governador Anthony Garotinho e o ex-prefeito Marcelo Crivella), nunca haviam sido mobilizadas com tamanha desenvoltura e articulação com o governo federal. Além do estado do Rio ser o domicílio eleitoral do presidente Bolsonaro, foi também nas terras fluminenses que os evangélicos se alastraram e se constituíram como uma enorme força numérica.
O encontro do populismo religioso com um habilidoso pragmatismo político foi responsável por levar um subestimado cantor gospel à improvável reeleição com estrondosos 58% dos votos no primeiro turno. Tudo isso foi observado de longe por uma oposição atônita e descoordenada. Sem o segundo turno para o governo do estado, resta ver o que pode afetar os resultados para a corrida presidencial na qual o governador reeleito foi à Brasília ofertar o apoio público ao presidente que tentou esconder durante sua própria campanha eleitoral.
* Este texto não reflete necessariamente a opinião do Boletim Lua Nova ou do CEDEC.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALKMIN, A. De Brizola a Cabral. De Collor a Dilma: geografia do voto no Rio de Janeiro de 1982 a 2010. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2014.
BORBA, F; VEIGA, L.; FERES, J. O sucesso da religião? Análise da eleição de Crivella na cidade do Rio de Janeiro. In: Lavareda, A. Telles, H. (org.) Eleições municipais: novas ondas na política. Rio de Janeiro, 2020.
COUTO, F. P. O voto e o povo. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966.
FIGUEIREDO, M.; VEIGA, L.; ALDÉ, A. Rio de Janeiro: César versus Conde e a nova política carioca. In: Silveira, F. (org) Estratégia, mídia e voto: a disputa eleitoral em 2000. Porto Alegre: Edipucrs, p. 49-90, 2002.
NICOLAU, J. e TERRON, S. Uma cidade partida? As eleições para prefeito do Rio de Janeiro em 2008. Trabalho apresentado no 8º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política, 2012.
NICOLAU, Jairo. Sistemas eleitorais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.
PICALUGA, I. Partidos Políticos e classes sociais: a UDN da Guanabara. Petrópolis: Vozes, 1980.
RODRIGUES, T. Realinhamentos partidários no estado do Rio de Janeiro (1982-2018). Política & Sociedade, v. 19, n. 46, p. 352-356, 2020.
VASCONCELLOS, F. e FIGUEIREDO, M. Divisão social e preferência política na disputa pela prefeitura na cidade do Rio de Janeiro em 2008. In: LAVAREDA, A. e TELLES, H. (Orgs). Como o eleitor escolhe o seu prefeito. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011, pp. 55-80.
[1] Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. E-mail: felipe.borba10@gmail.com
[2] Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF. E-mail: moraespeixoto@gmail.com
[3] Há farta literatura relatando a divisão espacial do voto na cidade do Rio de Janeiro. Para os interessados, consultar (Couto, 1966; Picaluga, 1980; Figueiredo, Veiga e Aldé, 2002; Vasconcellos e Figueiredo, 2011; Nicolau e Terron, 2012; Alkmin, 2014).
[4] Os mapas da votação por município e por zona eleitoral podem ser acessados em: https://arte.folha.uol.com.br/poder/eleicoes/2022/veja-o-mapa-de-apuracao-de-todas-as-cidades-do-brasil/#/cargo/governador/local/rio-de-janeiro/turno/1/mapa/estadual/municipio/rio-de-janeiro/3304557
[5] Ver NICOLAU (2015).
[6] O índice de fragmentação varia de 0 a 1, quando maior o indicador, maior a fragmentação.
[7] Estes números levam em consideração apenas os que foram eleitos em 2018, portanto, excluem os que assumiram o mandato ao longo da legislatura por substituição (que acontecem por diversos motivos, como falecimento, prisões ou porque os titulares se licenciaram para assumir outros cargos).
Fonte Imagética: Divulgação ALERJ, ALERJ terá renovação de 45,7% das cadeiras na próxima legislatura. Disponível em <https://www.alerj.rj.gov.br/Visualizar/Noticia/54567?AspxAutoDetectCookieSupport=1>. Acesso em 14 out 2022.