No dia 28 de agosto de 2018 foi realizado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) o evento “Roberto Schwarz em 1968: A Lata de Lixo da História”. Na ocasião, os professores Edu Teruki Otsuka e Paulo Arantes rememoraram a peça de teatro escrita há 50 anos e propuseram ao público uma série de reflexões sobre os possíveis fios de continuidade entre o contexto ao qual a obra aludia e os problemas políticos contemporâneos. Otsuka abriu o evento buscando introduzir e localizar a peça na obra ensaística de Schwarz. O professor chamou a atenção ao fato de ser o primeiro texto do crítico a tratar de Machado de Assis, escrito em 1968 e publicado em 1977. A releitura artística do conto “O Alienista” foi escrita às voltas com o contexto da ditadura, cujos desdobramentos teriam permitido tornar mais clara a dinâmica da modernização brasileira. Nesse sentido, Schwarz revelara uma série de padrões históricos de comportamento das classes no país, como, por exemplo, a presunção dos “notáveis” em participar da civilização moderna e a permanência das relações brutais de sujeição entre os mais pobres. A longevidade da peça, segundo Otsuka, derivaria justamente da força artística do recurso às alusões, que ao não discutir diretamente a ditadura, impunha ao leitor e espectador o enfrentamento com o padrão histórico brasileiro e com o questionamento sobre as suas possíveis mudanças. Paulo Arantes, ao tratar desse padrão, recorreu à ideia de materialidade brasileira. O encontro do crítico com essa matéria teria se dado, segundo o filósofo, na escrita da peça. Após o Golpe de 1964 e da derrota do campo popular, a nova matéria descoberta e expressa na peça exigiu um exercício de reformulação do crítico. Segundo Arantes, essa reformulação só chegaria a ser concluída nos ensaios de Schwarz de fins da década de 1980. Assim como Otsuka, Arantes destacou os fios de continuidade entre o conteúdo da peça e as questões contemporâneas, considerando mesmo uma anomalia nacional a repetição dos fatos na história. Durante o debate, as questões de atualização da peça predominaram no público, principalmente voltada à questão dos bonecos que, originalmente, figurariam escravos na peça. Tomando a palavra, Roberto Schwarz ressaltou que os bonecos seriam aqueles sujeitos situados abaixo da luta de classes, os quais “levariam pancada e pronto”. O desfecho da peça em que um dos bonecos se torna homem revidando uma “bofetada final” seria a expressão de um desejo imaginário que, justamente pelo fato de ser inverossímil, poderia reter algum valor estético.