Giovanna Bem Borges[1]
A Segunda Guerra Mundial é um dos acontecimentos mais estudados do século XX. Entretanto, como aponta Aleksiévitch (2016), a maior parte do que conhecemos sobre a guerra foi escrito por homens e para homens, que a consideram implícita ou explicitamente como um fenômeno masculino por excelência. Nesse sentido, o trabalho de Svetlana Aleksiévitch (2016) é particularmente relevante, pois ela foi uma das pioneiras em contestar a visão predominantemente masculina que se tinha sobre a Segunda Guerra Mundial. Em “A guerra não tem rosto de mulher”, publicado originalmente em 1985, a jornalista bielorrussa entrevistou centenas de mulheres que serviram nas forças armadas soviéticas nas mais diversas especialidades militares e produziu um relato praticamente inédito que colocava em xeque a visão que até então se tinha do conflito. Nas suas palavras,
Já aconteceram milhares de guerras – pequenas e grandes, famosas e desconhecidas. E o que se escreveu sobre elas é ainda mais numeroso. Mas… foi escrito por homens e sobre homens, isso ficou claro na hora. Tudo o que sabemos da guerra conhecemos por uma “voz masculina”. Somos todos prisioneiros de representações e sensações “masculinas” da guerra. Das palavras “masculinas”. Já as mulheres estão caladas. […] Até as que estiveram no front estão caladas. Se de repente começam a lembrar, contam não a guerra “feminina”, mas a “masculina”. Seguem o cânone. E só em casa, ou depois de derramar alguma lágrima junto às amigas do front, elas começam a falar da sua guerra, que eu desconhecia (ALEKSIÉVITCH, 2016, p. 11-12).
Estima-se que 1 milhão de mulheres serviram nas forças militares soviéticas, das quais pelo menos metade atuaram diretamente em combate (MENEGOTTO, 2018). Contudo, apesar da participação feminina no conflito ser utilizada pela propaganda como exemplo do quão avançadas eram as condições sociais na União Soviética, que declarou ainda nos anos 1930 que a “questão histórica da mulher foi resolvida” (SENNA, 2017, p. 262), o que se pôde observar na prática era algo bastante diferente – quanto mais próximo do fim da guerra, mais a imagem da médica e da enfermeira ganharam destaque na propaganda estatal, substituindo progressivamente a antiga imagem da heroína militarizada. Assim, “a partir de 1944, no mais tardar, a imagem limitada das mulheres como donas de casa dedicadas à família e mães passou a dominar a propaganda estatal, e isso contribuiu significativamente para a discriminação social contra veteranas” (MENEGOTTO, 2018, p. 119) de modo que “quanto mais distantes do combate as mulheres estivessem durante a guerra, mais elas foram valorizadas ao seu fim” (MENEGOTTO, 2018, p. 119).
Dessa forma, a partir do referencial teórico dos estudos de gênero, o intuito dessa pesquisa é discutir as relações de gênero na Segunda Guerra Mundial, especialmente na antiga União Soviética, a partir das memórias das mulheres soviéticas que serviram no front. Tomando como base sobretudo o trabalho de Svetlana Aleksiévitch, “A guerra não tem rosto de mulher” (2016), foi realizado de modo complementar um levantamento bibliográfico sobre o tema a fim de mapear as principais produções sobre o assunto.
Um ponto que chama a atenção nos dados levantados é que todas as produções brasileiras são extremamente recentes, com a mais antiga datando de 2017. Devido a maior parte das produções estarem concentradas na literatura, o foco dos trabalhos é sobretudo na questão da memória e do relato, analisando-os a partir do recorte e da categoria de gênero. Outro ponto observado é que todos eles dialogam diretamente com a obra de Svetlana Aleksiévitch, “A guerra não tem rosto de mulher”, publicada no Brasil pela editora Companhia das Letras em junho de 2016, relação que não é tão proeminente nas publicações em inglês, por exemplo.
De imediato, é possível perceber que as produções estrangeiras são consideravelmente mais antigas, e no geral são mais focadas nas áreas das Relações Internacionais e da Ciência Política. Ainda que haja trabalhos sobre o tema desde os anos 1990, a produção começa a aumentar mais significativamente a partir de 2013, o que talvez possa ser explicado pelo interesse redobrado no assunto após a reedição do livro de Aleksiévitch[2], que foi traduzido e relançado ao redor do mundo a partir de 2012 e atingiu seu apogeu em 2015, ano em que recebeu o prêmio Nobel de literatura. Outro fator que pode ter impactado os resultados é a maior consolidação acadêmica do tema, bem como a tradução de várias fontes importantes que até então eram inacessíveis ao público anglófono. É importante apontar que devido à barreira linguística e às dificuldades de acesso às produções dos antigos países que compunham a União Soviética é possível que isso se configure como um limitador da análise, considerando que a maioria das produções selecionadas são de países e/ou pesquisadores anglófonos.
Após a seleção e o recorte das partes mais tematicamente relevantes de cada trabalho, eles serão separados em até então três principais eixos temáticos: 1) Memória e trauma; 2) Representação e gênero; e 3) Violência. Através de uma perspectiva de histórias cruzadas, que se preocupa “não só em captar as particularidades de um determinado acontecimento histórico, como também seus cruzamentos” (POSSAS, 2020, p. 159), serão buscadas intersecções entre os resultados, tendo em mente suas diferentes abordagens e seus diferentes recortes. A técnica utilizada para a organização dos dados será a análise de discurso, enfatizando-se o aspecto da memória por se tratar do testemunho das veteranas de guerra, como já mencionado. Luisa Passerini (2011, p. 7) entende
a memória como forma de subjetividade – e esse termo implica necessariamente a intersubjetividade, já que a memória narrativa de que trato só se constitui como diálogo, como troca entre sujeitos diferentes. Por consequência, a dimensão na qual essa memória se situa compreende sempre dois polos: um individual e um coletivo, que interagem e se influenciam mutuamente.
Nesse sentido, há uma relação dialética entre a memória individual e a coletiva, na qual a memória coletiva é formada e ao mesmo tempo formadora das memórias individuais, sendo sempre passível de transformação de acordo com as necessidades do presente (PASSERINI, 2011). Logo, “[…] há uma permanente interação entre o vivido e o aprendido, o vivido e o transmitido. E essas constatações se aplicam a toda forma de memória, individual e coletiva, familiar, nacional e de pequenos grupos.” (POLLAK, 1989, p. 9). Dessa forma, a memória, elaborada através do discurso, está em constante processo de reconstrução e reelaboração conforme a época histórica e a linguagem são atualizadas (PASSERINI, 2011), de modo que se evidencia seu caráter como “um fenômeno construído […] [que implica um] trabalho de organização” (GONÇALVES, 2020, p. 69), ainda mais evidente no caso da memória coletiva e/ou nacional. Como Michael Pollak (1992) indica, esse trabalho de organização é realizado primordialmente em prol de interesses políticos e, portanto, é constante alvo de disputa entre grupos sociais antagônicos.
[…] a memória expressa uma relação de poder, que hierarquiza uma sociedade em todos os seus aspectos, sejam políticos, culturais, e de classe. Detêm o poder aqueles que conseguem manipular os usos da memória e seus registros que oficializam os fatos históricos, em um processo que ele chama de “memória reciclada”. Do mesmo modo, Pollak fala sobre “memória enquadrada”, em que se publica aquilo que é conveniente ou que é permitido ser divulgado de acordo com os interesses dos grupos detentores de poder político (GONÇALVES, 2020, p. 69-70).
A partir dessa perspectiva, de acordo com Rita Caregnato e Regina Mutti, a análise de discurso
[…] trabalha com o sentido e não com o conteúdo do texto, um sentido que não é traduzido, mas produzido; pode-se afirmar que o corpus da AD é constituído pela seguinte formulação: ideologia + história + linguagem. A ideologia é entendida como o posicionamento do sujeito quando se filia a um discurso, sendo o processo de constituição do imaginário que está no inconsciente, ou seja, o sistema de ideias que constitui a representação; a história representa o contexto sócio-histórico e a linguagem é a materialidade do texto gerando “pistas” do sentido que o sujeito pretende dar. Portanto, na AD a linguagem vai além do texto, trazendo sentidos reconstruídos que são ecos da memória do dizer. Entende-se como memória do dizer o interdiscurso, ou seja, a memória coletiva constituída socialmente; o sujeito tem a ilusão de ser dono do seu discurso e de ter controle sobre ele, porém não percebe estar dentro de um contínuo, porque todo o discurso já foi dito antes (CAREGNATO; MUTTI, 2006, p. 680-681).
Em vista disso, como Eni Orlandi (1994, p. 56) escreve, “a Análise de Discurso considera que o sentido não está já fixado a priori, como essência das palavras, nem tampouco pode ser qualquer um: há determinação histórica do sentido”, pois um discurso sempre é realizado a partir de condições específicas. Por isso, é preciso ter em mente que um texto não existe fechado em si mesmo, porque ele está inserido em um contexto histórico e social que não pode ser desconsiderado durante a análise. Logo, nenhum dizer é neutro porque todo discurso é marcado ideologicamente (CAREGNATO, MUTTI, 2006). Como Orlandi explicita,
A significância […] é um movimento contínuo determinado pela materialidade da língua e da história. Necessariamente determinado por sua exterioridade, todo discurso remete a outro discurso, presente nele por sua ausência necessária. Há o primado do interdiscurso (o dizível, a memória do dizer) de tal modo que os sentidos são sempre referidos a outros e é daí que tiram sua identidade, sua realidade significativa. A interpretação é sempre regida por condições de produção específicas que, no entanto, aparecem como universais, eternas. É a ideologia que produz o efeito da evidência, e da unidade, sustentando-se sobre o já-dito, os sentidos institucionalizados, admitidos como “naturais” (ORLANDI, 1994, p. 57).
Dessa forma, além de analisar o trabalho de Aleksiévitch pelo valor histórico dos testemunhos que ela coleta, é importante considerar o próprio texto que ela produziu como um documento historicamente situado. Como Catherine Baker (2020) salienta, o livro, produzido durante a Guerra do Afeganistão com o intuito de questionar a memória oficial da “Grande Guerra Patriótica”, só pôde ser amplamente circulado quando a glasnost começou. Assim, a autora aponta que o rosto “não-feminino” da guerra[3] serve aqui como uma metáfora não só para o “lado sombrio” da Vitória que permaneceu oculto nas narrativas heroicizantes do pós-guerra, mas também para a resistência de Aleksiévitch à crescente militarização que ocorreu no final dos anos 1970 com o envolvimento soviético na Guerra do Afeganistão. Esse propósito é admitido em alguma medida pela própria Aleksiévitch:
Devia escrever um livro sobre a guerra que provoque náuseas e que faça a própria ideia de guerra parecer repugnante. Louca. Os próprios generais ficariam nauseados… Essa lógica “feminina” deixou meus amigos baratinados (ao contrário das minhas amigas). […] Os homens se escondem atrás da história, dos fatos e a guerra os encanta como ação e oposição de ideias, diferentes interesses, mas as mulheres são envolvidas pelos sentimentos. E mais: desde a infância, os homens são preparados para que, talvez, tenham que atirar. Não se ensina isso às mulheres… elas não se aprontaram para fazer esse trabalho… E elas lembram de outras coisas, ou lembram de outra forma. São capazes de ver o que está escondido para os homens. (ALEKSIÉVITCH, 2016, p. 20).
Por isso a importância da categoria de gênero para invocar esse sentimento de estranhamento. Ao longo do livro, Aleksiévitch utiliza como recurso narrativo a contraposição das categorias de “menina” e “soldado” como identidades não só contraditórias, mas socialmente incompatíveis (ao menos normativamente), salientando dessa maneira a tragédia nacional do que foi a guerra e os perigos da militarização, bem como de suas terríveis consequências, tanto emocionais, como psíquicas e físicas (BAKER, 2020). Assim,
Os testemunhos das mulheres […] transmitem exatamente essa tensão entre ‘a dor do apagamento discursivo’ e os medos das mulheres de admitir seu status como veteranas no meio da ‘dissociação popular da vida familiar e da experiência feminina no front’ na sociedade soviética pós-guerra (BAKER, 2020, p. 83, tradução nossa)[4].
Como Elizabeth Jelin (2002) aponta, em um contexto militar a representação é, quase por definição, a autorrepresentação masculina. As mulheres enquanto sujeitos aparecem como “não-representáveis”, na medida em que
O modelo de gênero presente identifica a masculinidade com a dominação e a agressividade, características exacerbadas na identidade militar, e uma feminilidade ambivalente, que combina a superioridade espiritual das mulheres (inclusive as próprias ideias de ‘Pátria’ e de ‘Nação’ estão feminilizadas) com a submissão e a passividade frente aos desejos e ordens dos homens. Os rituais do poder no cenário público (saudações militares, desfiles etc.) têm um caráter performativo, no qual se desdobra sem nuances a dualidade entre o ator/poder masculino, por um lado, e a passividade/exclusão feminilizadas da população ou audiência, por outro (JELIN, 2002, p. 101, tradução nossa)[5].
Logo, ao priorizar as experiências e os testemunhos femininos em seu trabalho, Aleksiévitch não só desafiou a narrativa oficial da guerra, mas também questionou em alguma medida as relações de gênero soviéticas ao deslocar os marcos interpretativos do passado a outras questões e outros sujeitos. Como Jelin (2002, p. 111, tradução nossa)[6] observa, “as vozes das mulheres contam histórias diferentes das dos homens, e dessa maneira se introduz uma pluralidade de pontos de vista. Essa perspectiva também implica o reconhecimento e legitimação de ‘outras’ experiências além das dominantes […].” Nas palavras de Aleksiévitch,
Quando as mulheres falam, não aparece nunca, ou quase nunca, aquilo que estamos acostumados a ler e escutar: como umas pessoas heroicamente mataram outras e venceram. Ou perderam. Qual foi a técnica e quais eram os generais. Os relatos femininos são outros e falam de outras coisas. A guerra “feminina” tem suas próprias cores, cheiros, sua iluminação e seu espaço sentimental. Suas próprias palavras. Nela, não há heróis nem façanhas incríveis, há apenas pessoas ocupadas com uma tarefa desumanamente humana. E ali não sofrem apenas elas (as pessoas!), mas também a terra, os pássaros, as árvores. Todos os que vivem conosco na terra. Sofrem sem palavras, o que é ainda mais terrível (ALEKSIÉVITCH, 2016, p. 12).
Assim, no processo de pensar a história a partir de diferentes sujeitos ocorre uma transformação nos sentidos do passado que se redefinem e reescrevem a história (JELIN, 2002) e é desse ponto que surge a inspiração para todo o trabalho de Aleksiévitch (não apenas esse, mas também em seus outros livros)[7]: contar não a história de grandes acontecimentos e grandes heróis, mas do cotidiano, das pessoas “pequenas” que viveram e sobreviveram a eles. E explorar tais detalhes faz parte da pretensão dessa pesquisa. Nesse sentido, podemos destacar que uma análise crítica sobre a Segunda Guerra Mundial é importante não só pelo seu impacto na historiografia, mas também pelas funções políticas que a memória dela exerceu e continua exercendo. Assim, o recorte de gênero também se faz especialmente relevante porque coloca em xeque a versão higienizada e revisada do fenômeno que ainda é propagada, mas que não necessariamente corresponde à realidade. Essas experiências passam por tentativas diretas ou indiretas de deslegitimar o discurso feminino a partir do qual as ex-combatentes narram suas vivências, insistindo que a versão “correta” era a visão masculina, supostamente neutra, e não as “fantasias de mulher” das narrativas femininas.
* Este texto não expressa necessariamente as opiniões do Boletim Lua Nova ou do CEDEC.
REFERÊNCIAS
ALEKSIÉVITCH, Svetlana. A Guerra Não Tem Rosto de Mulher. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
BAKER, Catherine. Svetlana Alexievich’s Soviet Women Veterans and the Aesthetics of the Disabled Military Body: Staring at the Unwomanly Face of War. In: BAKER, Catherine (Org.). Making War on Bodies: Militarisation, Aesthetics and Embodiment in International Politics. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2020.
CAREGNATO, Rita; MUTTI, Regina. Pesquisa Qualitativa: análise de discurso versus análise de conteúdo. Contexto Enfermagem, Florianópolis, out./dez. 2006, v. 15, n. 4, p. 679-84.
GONÇALVES, Joyce. Lembranças de Mulheres em Armas: relatos memorialísticos sobre o front. Literatura e Autoritarismo, [S. l.], n. 23, mai. 2020, p. 63-74. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/LA/article/view/42448. Acesso em: 20 jul. 2022.
JELIN, Elizabeth. Los trabajos de la memoria. Madrid: Siglo XXI, 2002.
MENEGOTTO, Fernanda. A Face Feminina da Guerra: Svetlana Aleksiévitch e Elizabeth Wein. Versalete, Curitiba, v. 6, n. 10, jan./jun. 2018, p. 116-139. Disponível em: http://www.revistaversalete.ufpr.br/edicoes/vol6-10/7%20A%20face%20feminina.%20Fernanda%20Menegotto.pdf. Acesso em: 18 jul. 2022.
ORLANDI, Eni. Discurso, imaginário social e conhecimento. Em Aberto, Brasília, v. 14, n. 61, jan./mar. 1994, p. 52-59.
PASSERINI, Luisa. A Memória Entre Política e Emoção. São Paulo: Letra e Voz, 2011.
POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, 1989, p. 03-15.
POSSAS, Lídia. História Oral, Tempo Presente e Estudos de Gênero. In: GOMES, Angela de Castro (Org.). História Oral e Historiografia: questões sensíveis. São Paulo: Letra e Voz, 2020, p.159-180.
SENNA, Thaiz Carvalho. A Questão Feminina na Rússia e Suas Respostas: análise por meio da lei do desenvolvimento desigual e combinado. Marx e o Marxismo, [S. l.], v. 4, n. 7, p. 258-280, fev. 2017. Disponível em: <http://www.niepmarx.blog.br/revistadoniep/index.php/MM/article/view/180>. Acesso em: 07 nov. 2020
[1] Mestranda em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP-Marília), especialista em História da Guerra pela Universidade Dom Alberto e bacharela em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Email: giovannabem.gbb@gmail.com
[2] O livro foi publicado pela primeira vez em inglês em 1988, três anos após o lançamento em russo, sob o título “War’s unwomanly face” pela editora soviética Progress Publishers, que era baseada em Moscou e se dedicava a traduzir produções soviéticas para línguas estrangeiras, especialmente o inglês. Embora não tenham sido encontrados dados conclusivos sobre o assunto, há indícios de que o livro inicialmente não tenha feito muito sucesso, possivelmente devido à censura ao qual foi imposto nas primeiras edições.
[3] A autora faz uma espécie de trocadilho com o título em inglês do livro, “War’s Unwomanly Face”, que em uma tradução literal significaria “O rosto não feminino da guerra”.
[4] Original: “The women’s testimonies […] convey this very tension between ‘the pain of discursive erasure’ and women’s fears of admitting their veteran status amid ‘the popular dissociation of family life and female front experience’ in post-war Soviet society.”
[5] Original: “El modelo de género presente identifica la masculinidad con la dominación y la agresividad, características exacerbadas en la identidad militar, y una feminidad ambivalente, que combina la superioridad espiritual de las mujeres (inclusive las propias ideas de «Patria» y de «Nación» están feminizadas) con la sumisión y pasividad frente a los deseos y órdenes de los hombres. Los rituales del poder en el escenario público (saludos militares, desfiles, etc.) tienen un carácter performativo, en el que se despliega sin matices la dualidad entre el actor/poder masculino, por un lado, y la pasividad/exclusión feminizada de la población o audiencia por el outro”
[6] Original: “Las voces de las mujeres cuentan historias diferentes a las de los hombres, y de esta manera se introduce una pluralidad de puntos de vista. Esta perspectiva también implica el reconocimiento y legitimación de «otras» experiencias además de las dominantes […]”
[7] A jornalista tem 5 livros que fazem parte de uma coleção denominada Vozes da Utopia: “A guerra não tem rosto de mulher” ([1985] 2016) e “As últimas testemunhas” ([1985] 2018), que contam a Segunda Guerra Mundial através da perspectiva de mulheres e crianças, respectivamente; “Meninos de zinco” ([1991] 2020), sobre a Guerra do Afeganistão; “Vozes de Tchérnobil” ([1997] 2016), sobre o desastre nuclear; e “O fim do homem soviético” ([2013] 2016), sobre o fim da União Soviética. Todos utilizam o relato oral como principal fonte e foram publicados no Brasil pela editora Companhia das Letras.
Fonte Imagética: Svetlana Alexievich. Photo taken during September 2016 visit to Cornell University. 26 jan 2018. Disponível em <https://cornellpress.manifoldapp.org/read/6ba28985-f1a8-470f-9c03-feef6fe8ea2a/section/697f6b7b-9045-4c44-84a0-53cd094f8765/resource/bab754dd-66f6-4815-9234-17bd095ba743>. Acesso em 20 mar 2023.