A retórica em Mary Wollstonecraft: apropriação e inovação do conceito de tirania

Por Camila M. Corvisier, Hannah L. Ramos e João Pedro G. Balanco. A Teoria Política, bem como outras áreas de conhecimento acadêmico, sempre foi majoritariamente marcada por trabalhos masculinos, ainda que as mulheres tenham produzido trabalhos filosóficos e políticos ao longo da história (BERGÈS, COFFEE, 2016). Mais recentemente, figuras femininas e seus trabalhos têm sido resgatados, recuperando uma parte esquecida – pois obliterada – da tradição filosófica e política. Parte da justificativa para este ensaio reside, assim, na recuperação da figura de Mary Wollstonecraft e de seu pensamento enquanto filósofa e arguta observadora da política de seu momento.

Ceticismo, política e “a questão da postura adequada frente a um tirano”

Por João Paulo de Castro Bernardes. Acredito não ser impreciso, ou ousado, afirmar que, desde a publicação da clássica obra de Richard H. Popkin, em 1960, os estudos sobre o ceticismo desfrutaram de um importante revigoramento. Isso se deu, sobretudo, com a recuperação historiográfica e filosófica do pensamento cético moderno que tal obra promoveu, o qual teria sido bastante negligenciado nos anos subsequentes ao Iluminismo (NETO et alli, 2009, p. 1).

O que Isaiah Berlin tem a nos dizer (via Vico)?

Por Ronaldo Tadeu de Souza. Reunido em Estudos sobre a Humanidade, conjunto de textos que Berlin exibe uma densa erudição – tratando de Maquiavel e a história da ciência, teoria política e Herder, romantismo e Herzen – o ensaio O Divórcio entre as Ciências e a Humanidades é a lembrança de que em assuntos envolvendo seres humanos, como as artes, a literatura, a história, a nação a cultura, a moral, a religião, a linguagem e a política, são eles, e hoje elas, o núcleo existencial mesmo ao qual se deve concentrar nossas atenções. Berlin estava a admoestar sobre o destino das ciências naturais em face às ciências humanas no decurso da sociedade moderna.

Breve discussão sobre consumo e fronteiras simbólicas

Por Gabriel H. Baldan Nunes. A contribuição de autores como Marshall Sahlins, Pierre Bourdieu, Mira e Bertoncello, Arjun Appadurai e Michel Foucault é inquestionável para a compreensão de questões relacionadas ao tema “Consumo e fronteiras simbólicas”. Considerando o caráter atemporal do assunto, é possível averiguar esses dois aspectos tanto na sociedade moderna quanto na contemporânea. Os estudos acerca dessa temática permitem que a antropologia responda a indagações que vão desde os motivos pelos quais as pessoas atribuem valores a certas coisas, e a outras não, e até mesmo sobre o papel cultural envolvendo o consumo.

A mulher na recepção da sociologia no Brasil: um estudo a partir de Tobias Barreto, Tito de Castro e Florentino Menezes

Por Ivan F. Barbosa, Anna Kristyna Barbosa e Moisés Cruz Souza. Tobias Barreto, Tito Lívio de Castro e Florentino Teles de Menezes são nomes pouco conhecidos na história do pensamento sociológico no Brasil. São intelectuais à margem do cânone e que tiveram uma influência não muito marcante nos desenvolvimentos subsequentes desta disciplina no país. O estudo atento das suas obras, no entanto, pode nos levar a questões de pesquisa instigantes e a uma compreensão mais aprofundada a respeito do desenvolvimento do pensamento especializado sobre a sociedade brasileira e a maneira como esse pensamento se relaciona com os poderes dominantes em cada época e contexto.

Do antipartidarismo ao antipetismo

Por Allegra Levandoski. A ascensão da extrema direita brasileira é um fenômeno recente, que atrai os olhares de analistas das mais diferentes áreas. O intuito é o mesmo: compreender e identificar possíveis causas que explicam essa transformação da política nacional, mas também, como um deputado federal do “baixo clero” se tornou presidente da República.

John Milton e o Republicanismo

Por Gabriel de Matos Garcia. Há certa controvérsia a respeito da relação entre John Milton e o republicanismo. Em sentido “prático”, apenas tardiamente Milton se posicionou ao lado dos republicanos durante os turbulentos acontecimentos da Inglaterra de seu tempo. Como destacado por Dzelzainis, “sempre que os republicanos eram levados à oposição pelos eventos – o expurgo do exército do ‘Long Parliament’ em dezembro de 1648, o regicídio, a dissolução do ‘Rump’, a elevação de Cromwell a Protetor – Milton se apegava aos poderes constituídos” (DZELZAINIS, 2016, p. 325) . Milton se posicionou de forma manifestamente republicana apenas poucos meses antes da Restauração promovida por Carlos II, já em meados de 1660.

Luís Felipe Miguel: Desafios da democracia no capitalismo periférico

Por Sérgio Mendonça Benedito. No último dia 30 de março de 2023 o fórum permanente Democracia, Direitos e Desenvolvimento (3D) promoveu, em parceria com o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) e o Centro Internacional Celso Furtado (CICEF), a primeira mesa de discussão intitulada Desafios da Democracia no Capitalismo Periférico. O convidado para a abertura dos debates foi o professor da Universidade de Brasília (UnB) Luís Felipe Miguel, que lançou recentemente a obra Democracia na Periferia Capitalista (Autêntica, 2022). A mesa contou com a mediação de San Romanelli Assumpção (IESP-UERJ).

O que as mulheres falam quando falam de água?

Por Camila Fernandes e Camila Pierobon. Neste texto, apresentamos os principais argumentos que mobilizamos no artigo” Cuidar do outro, cuidar da água: gênero e raça na produção da cidade”, publicado na Revista Estudos Avançados (v. 37, n. 107). Partimos da constatação empírica de que a água é distribuída desigualmente pela cidade do Rio de Janeiro e pela região metropolitana. Dessa constatação, elaboramos a seguinte pergunta: quais os efeitos de classe, raça e gênero que o fornecimento diferencial de água produz na vida dos moradores de periferias urbanas? Foi para responder a esta questão que nos juntamos para escrever o artigo.

O materialismo histórico como ciência revolucionária: Florestan Fernandes e o marxismo no pós-Revolução burguesa no Brasil

Por Matheus de Carvalho Barros. Neste texto apresento sinteticamente um artigo de minha autoria, e de mesmo título, publicado recentemente na revista Cadernos de Campo (Unesp). Ele foi fruto de pesquisa desenvolvida na graduação em Sociologia (UFF), cujo resultado foi a monografia Um condenado da terra nas trilhas do materialismo histórico: Florestan Fernandes e o marxismo. Naquele momento pesquisei a presença do marxismo em diferentes momentos da trajetória política e intelectual de Florestan Fernandes, sobretudo com ênfase em sua fase dita “madura”. O artigo deriva do terceiro capítulo do meu trabalho monográfico.