Desvendando a herança autoritária: a influência das transições democráticas no Brasil e no Chile nas relações civis-militares e no cenário político atual

Por Luan Homem Belomo. As relações civis-militares representam um campo complexo que examina a interação entre as forças armadas e as autoridades civis de um Estado, aspecto fundamental para a consolidação e a manutenção da democracia. No contexto da América Latina, especificamente, no Brasil e no Chile, essa relação carrega o peso de transições democráticas marcadas por pactos e pela persistência de legados autoritários. No cenário atual, ambos os países enfrentam desafios distintos, mas interconectados, que evidenciam a dificuldade de superar completamente o passado militar e de estabelecer um controle civil que seja robusto e inequívoco sobre as Forças Armadas.
A Comissão da ONU sobre a Síria acolhe com satisfação a abertura demonstrada pelo governo interino para receber visitas ao país e estabelecer futuras colaborações, conforme a conclusão da última visita.

O Boletim Lua Nova republica a nota traduzida da Comissão da ONU sobre a Síria, publicada originalmente em 25 de março de 2025 e disponível no site da United Nations Human Rights Watch. Junto à nota, confira a entrevista concedida pelo presidente da Comissão, professor Paulo Sérgio Pinheiro, a nossa equipe editorial. Agradecemos ao professor por sua gentil contribuição.
Anauê!: Os escolhidos por Deus

Por Tabatha Rodrigues. No ano de 1932, nasceu no Brasil o movimento que se tornaria o principal propagador das ideias fascistas na história do país: o Integralismo. Liderado por Plínio Salgado, escritor modernista influente na cena política e cultural paulista, o Integralismo foi, em essência, uma releitura nacional do movimento político liderado por Benito Mussolini – ainda era fascismo, mas com um toque abrasileirado.
Vigiar e punir, 50 anos: um livro eficaz como uma bomba e bonito como fogos de artifício

Por Acácio Augusto. Hoje, o nome de Michel Foucault goza de grande prestígio nas universidades em todo o planeta, com particular impacto nas Américas, do sul ao norte. Li em algum lugar, não me lembro onde, que ele é o autor mais citado no mundo, segundo o índice do Google Scholar[2]. Há mais 360 mil citações nos últimos 4 anos, quase um milhão e meio no total. “Discipline and punish”, assim, em inglês mesmo, está no topo com quase 120 mil citações[3]. Isso diz pouco (ou nada) sobre a importância e o impacto da obra e da ação do filósofo francês desde o pós II Guerra europeia no mundo. Encerra em si também uma espécie de ironia involuntária: os livros, ditos e escritos que destrincharam de forma tão contundente e mordaz as tecnologias de poder modernas e contemporâneas estão todos enquadrados no índice criado por uma big-tech que governa a produção contemporânea do saber dentro e fora da universidade. Uma universidade que, ao menos no Brasil (sabemos que não só), é totalmente governada pela lógica algorítmica e tem toda sua produção de saber presa em bancos de dados e submetidas a índices de medição operados por Inteligência Artificial (IA).
Empreendedorismo, empreendedorismos

Por Jacob Carlos Lima. No artigo “Sobre empreendedorismo e cultura do trabalho”, argumento que, da mesma forma que tivemos no Brasil, a partir de 1930, a construção de uma cultura do assalariamento marcada pela forte presença estatal na regulação das relações capital-trabalho, a partir da década de 1990, tivemos o início do desmonte dessa regulação e da cultura que a acompanhou. O trabalho formal, manifesto na relação salarial, tornou-se sinônimo de cidadania e de acesso a direitos sociais. A carteira profissional virou símbolo de bom comportamento, de pessoa de bem, do trabalhador. O ideário de um futuro estado de bem estar social, foi substituído pelo neoliberalismo, no qual o mercado é visto como elemento regulador das relações sociais e os direitos sociais, como custos a serem eliminados.
Guetos, estrutura básica e justiça social: reflexões a partir de Tommie Shelby

Por Thaís de Almeida Lamas. O livro Dark ghettos: injustice, dissent, and reform, de Tommie Shelby, publicado em 2016, é uma obra que analisa criticamente a questão dos guetos nos Estados Unidos. Shelby, filósofo político e professor na Universidade de Harvard, aborda os guetos urbanos como locais de injustiça estrutural, onde as condições de vida precárias são perpetuadas por sistemas sociais e políticos discriminatórios e injustos. A partir disso, o autor faz uma análise aprofundada nas raízes históricas e estruturais dos guetos, explorando fatores como racismo, desigualdade econômica e segregação urbana contribuem para as condições de vida nessas áreas. Shelby argumenta contra as representações simplificadas e estigmatizadas dos guetos, buscando assim, entender as experiências dos residentes a partir de uma perspectiva mais ampla e contextualizada. Além disso, também investiga as implicações éticas e políticas das injustiças presentes nos guetos, questionando as noções convencionais de responsabilidade individual e coletiva diante dessas questões.
“A vida como um dom, a maternidade como um bem, o amor como sacrifício”: a participação da mulher no Integralismo (1930 a 2020)

Por Alice Arbex. Durante as décadas de 1920 e 1930 no Brasil, o Integralismo, doutrina fundada pelo político e jornalista Plínio Salgado (1895-1975), projetou sua voz à nação com o Manifesto de 7 de Outubro de 1932 e oficializou sua luta por meio da criação de uma organização partidária, a Ação Integralista Brasileira (AIB). Com expressões marcadamente fascistas, o movimento tinha como missão somar as forças sociais e fundar o Estado Integral por meio de uma revolução espiritual, moral, intelectual e política. No século XXI, o neointegralismo reapareceu com novas roupagens, mas um interior comum, e organizou-se principalmente na chamada Frente Integralista Brasileira (FIB), reunindo os “patriotas da nossa terra” e a extrema-direita congregada em torno do líder Moisés Lima. O que mais interessa a este artigo, no entanto, são as mulheres integralistas: tanto as “patrícias” de 1930 quanto as modernas de 2020. Quais as similaridades e diferenças em relação ao papel que as mulheres ocupam hoje e ocupavam outrora dentro do movimento? De que modo contribuíram para a construção do Estado Integral e como se organiza sua militância atualmente?
Riscos e respostas das democracias latino-americanas

Por Hugo Borsani, Soraia Marcelino Vieira e Mariele Troiano. Nos últimos anos, a democracia na América Latina vem passando por diferentes processos. Desde a terceira onda de democratizações descrita por Huntington (1994), da qual vários países latino-americanos fizeram parte, a região vivenciou momentos de aberturas e inflexões. O contexto econômico, a ascensão de governos populistas de diferentes ideologias, a alternância das agendas progressistas e conservadoras e a sombra da autocracia têm sido algumas das características observadas nos últimos 50 anos.
El ascenso global de la ultraderecha, Javier Milei y la distopía del presente

Por Paulo Ravecca, Emiliano Robaina e Facundo Zannier. Mientras escribimos estas líneas, la CBC emite programas sobre cómo sería una invasión estadounidense a Canadá y sobre si ésta se convertirá, o no, en el estado 51, tal como lo desea—o manifiesta desear—Donald Trump. Los canadienses están viviendo una pesadilla de tintes surrealistas que no solamente lacera su autoestima nacional, sino que también pone en tela de juicio las narrativas que el mainstream académico y periodístico ha promovido sobre el país durante décadas. Canadá—ni tan a salvo ni tan diferente a esos países que se nombran con pena en los noticieros. Este trastocamiento del sentido de realidad tiene, sin dudas, repercusiones profundas.
Olhando para as medidas socioeducativas para desnaturalizar desigualdades raciais bastante explícitas, mas nem sempre percebidas.

Por Juliana Vinuto. Neste pequeno texto apresentarei de modo conciso os principais resultados de uma pesquisa que publiquei na Revista Brasileira de Ciências Sociais, ocasião em que discuti alguns modos de naturalização da seletividade penal-racial no que se refere a adolescentes que cumprem medida socioeducativa no estado do Rio de Janeiro. Gostaria de pensar como uma robusta articulação entre segurança pública, justiça juvenil e instituições de medida socioeducativa tem encarcerado, em sua maioria, adolescentes negros ao longo dos anos, mas isso não arranha a imagem pública de imparcialidade na punição direcionada a menores de idade.