Cem anos de A ideia de razão de Estado na história moderna
Por Bernardo Ferreira. Publicado em 1924, Die Idee der Staatsräson in der neueren Geschichte (A ideia de razão de Estado na história moderna), do historiador alemão Friedrich Meinecke, é um livro profundamente marcado pelo impacto da Primeira Guerra Mundial. No projeto inicial, em princípio intitulado Staatskunst und Geschichtsauffassung, Meinecke imaginava abordar as conexões entre as novas artes de governar surgidas a partir do Renascimento e a moderna concepção da história característica do historicismo. Para o historiador, a associação entre as artes do governo e o historicismo moderno decorreria de uma espécie de afinidade eletiva: em ambos os casos o pensamento seria levado a concentrar-se na individualidade da experiência e das situações, seja na reflexão sobre a particularidade dos interesses de cada Estado, seja na atenção dirigida à singularidade irredutível das vivências históricas.
Prudência política: das origens aos golpes de Estado
Por Eugênio Mattioli Gonçalves. Interessado no problema da razão de Estado, desenvolvi durante minha pesquisa de mestrado uma investigação sobre um de seus principais representantes: Gabriel Naudé. Frequentemente identificado como um dos maiores nomes da razão de Estado francesa do séc. XVII, o libertino é responsável por uma ‘teoria dos golpes de Estado’, que autoriza ao soberano mesmo as ações políticas mais extremas, sempre que este julgar necessário. Descumprir a lei, mentir e assassinar, diz o escritor, são escolhas legítimas por parte do príncipe quando este tiver como fim a proteção de seu Estado e de seu próprio poder. Assim, Naudé tece um longo elogio a episódios como a matança perpetrada por Carlos IX no Massacre de São Bartolomeu, justificando-a como uma ação “muito justa e muito notável” (Naudé, 1993, p. 110) para todo o país.