Cem anos de A ideia de razão de Estado na história moderna
Por Bernardo Ferreira. Publicado em 1924, Die Idee der Staatsräson in der neueren Geschichte (A ideia de razão de Estado na história moderna), do historiador alemão Friedrich Meinecke, é um livro profundamente marcado pelo impacto da Primeira Guerra Mundial. No projeto inicial, em princípio intitulado Staatskunst und Geschichtsauffassung, Meinecke imaginava abordar as conexões entre as novas artes de governar surgidas a partir do Renascimento e a moderna concepção da história característica do historicismo. Para o historiador, a associação entre as artes do governo e o historicismo moderno decorreria de uma espécie de afinidade eletiva: em ambos os casos o pensamento seria levado a concentrar-se na individualidade da experiência e das situações, seja na reflexão sobre a particularidade dos interesses de cada Estado, seja na atenção dirigida à singularidade irredutível das vivências históricas.
Nozick e a crítica à noção de “justiça distributiva”
Por Caio Motta. Anarquia, Estado e Utopia (1974), de Robert Nozick, é amplamente reconhecido como um dos textos mais importantes da filosofia política do século XX. Sua relevância se mantém, não apenas pelo rigor filosófico, mas também porque suas conclusões morais e políticas desafiam as posições predominantes entre os filósofos políticos acadêmicos, especialmente aqueles inclinados a teorias distributivas de justiça. Paradoxalmente, o rigor intelectual que torna a obra de Nozick amplamente reconhecida também é o principal motivo pelo qual tantos se sentem compelidos a refutá-la.
50 anos de Anarquia, Estado e Utopia: Robert Nozick e a coragem de mudar de ideia
Por Julia Sichieri Moura. Há 50 anos Robert Nozick publicava o livro Anarquia, Estado e Utopia (1974). Conforme nos mostra Thomas Nagel no prefácio da edição de 2013, o livro foi escrito em um período de transformação e ebulição teórica no âmbito da filosofia moral e política estadunidense e no contexto de uma geração de acadêmicos e acadêmicas influenciados pelos escritos de John Rawls sobre justiça social e além do contexto político da época (NAGEL, 2013).
Retrocesso democráticos no governo Bolsonaro (2019-2022): Tensões e disrupturas entre burocracia e ala política dentro do Ministério do Meio Ambiente
Por Nicolas Bortolatto Garcia Costa. O incentivo à democratização em diversos países é um fenômeno relativamente recente na história política. Conforme relata Huntington (1991), entre 1974 e 1990, houve um crescimento no número de regimes democráticos ao redor do globo. Entretanto, esse processo, longe de ser linear[2], é resultado de diversas tensões dentro de cada democracia. Assim, apesar de alguns países se democratizarem, líderes autocratas (eleitos via voto popular) também começaram a surgir nesses regimes. Esse fator provoca uma corrosão no modelo democrático vigente, permitindo que o autocrata se aproprie do poder. O modo escolhido contemporaneamente para isso não envolve mais golpes repentinos, como no passado, mas sim, ao assumir o poder, o autocrata promove uma erosão das bases institucionais e realiza a ampliação gradual de seus poderes.
Gaza, um desafio moral
Por Reginaldo Nasser. Desde 07 de outubro de 2023, a partir dos massacres liderados pelo Hamas que causaram a morte de mais de mil israelenses, entre militares e civis, a ação militar israelense, na sequência, colocou-nos diante de um processo histórico sem precedentes. Do alto de sua longa experiência na luta contra o racismo nos EUA, a ativista Angela Davis não poderia definir melhor o momento em que passamos a viver: “A Palestina é um teste moral para o mundo”.
Relato de Evento: Lançamento do Livro “O Segundo Círculo: Centro e Periferia em Tempos de Guerra”
Por Amanda Rigo Pradella, Andréia Fressati Cardoso e Carlos Eduardo Landim. Refletir sobre a gravidade e a multidimensionalidade da crise que enfrentamos, associando-a à ideia de um inferno dantesco, pode ser tão impactante quanto cruelmente realista. É o que propõem André Singer, Bernardo Ricupero, Cícero Araújo e Fernando Rugitsky, organizadores do livro O Segundo Círculo: Centro e Periferia em Tempos de Guerra (Editora Unicamp, 2024),. O livro foi lançado em evento no dia 30 de outubro na Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), e contou com transmissão no Youtube. O evento foi uma iniciativa conjunta do CEDEC e do Cenedic.
Breves considerações sobre o centenário de “A ideia de razão de Estado na história moderna”, de Friedrich Meinecke
Por Sérgio Mendonça Benedito/ O conceito de razão de estado (RE) emergiu no discurso político italiano no decorrer do século XVI, primeiro na linguagem verbal e posteriormente em obras escritas. Foi apenas em 1589 que o jesuíta piemontês Giovanni Botero dedicou um inédito tratado à locução (sob o título de Della ragion di stato), argumentando a respeito do que ela implica em um governo tido como ótimo do ponto de vista prático e moral. A partir de então foram várias décadas de polêmica em torno do conceito, em que se disputava o seu sentido (objetando as definições alheias), questionava-se seu conteúdo (que práticas conformariam a “boa” ou a “má” RE), difamava-se Maquiavel por ter supostamente inventado uma razão de estado “tirânica” e “irreligiosa”, entre outros aspectos. Este debate se manteve ativo até aproximadamente o fim da quarta década do século XVII, quando esta literatura submergiu em detrimento das novas teorias do Estado e do contrato social, como de Thomas Hobbes. Por certo, a RE não deixou de ser mencionada ou discutida em uma ou outra obra; no entanto, não existia mais aquele ímpeto polêmico, ou tratados cujos títulos incluiam “razão de estado” de modo a salientar a sua centralidade.
Entrevista com Douglas Barros
Entrevistado: Douglas Rodrigues Barros – Filósofo, Ensaísta e Crítico Cultural. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo-Unifesp. Autor dos livros, Lugar de Negro, Lugar de Branco?: Esboço para uma crítica à metafísica racial, editora Hedra; Guy Debord. Antimanual de Leitura, editora Sobinfluências Edições; e Hegel o Sentido do Político, editora Lavra Palavra. Está lançando este mês o importante e polêmico O Que É o Identitarismo? pela editora Boitempo. Douglas Rodrigues Barros é também psicanalista e intervém constantemente no debate intelectual e político com artigos para diversos meios de comunicação.
Trabalho de cuidado, violência e desigualdades: O G20 e o empoderamento econômico feminino como ferramenta de combate à violência baseada em gênero em pauta
Por Murilo Santos. Em 3 de julho de 2024, a Presidência da República enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei da Política Nacional de Cuidados (PL 2.762/2024), resultado de um Grupo de Trabalho que envolveu membros de 20 ministérios, sociedade civil organizada, academia e de governos estaduais e municipais (Câmara dos Deputados, 2024). Apesar da morosa tramitação do projeto no Poder Legislativo, a articulação de uma política pública de caráter nacional focada na diminuição do desproporcional “fardo do cuidado” que recai sobre as mulheres é inédita no país. A proposta também visa combater um dos principais pilares estruturantes da violência baseada em gênero, que é a desigualdade econômica.
Eleições 2024: a reeleição para além das emendas
Por Sergio Simoni e Nara Salles. Balanços sobre eleições municipais no Brasil são sempre temerários. São mais de 5500 disputas independentes, que visam eleger uma prefeita e de 9 a 55 vereadores. É verdade que nem toda unidade é igual. Os municípios variam em gênero, número e grau. Podemos dividi-los, por exemplo, entre capitais estaduais e o resto. Ou enfatizar o G103, o grupo de cidades que tem mais de 200.000 eleitores e que, portanto, exige maioria absoluta para eleição de prefeitos. Outros poderiam lembrar que é importante também considerar pólos regionais, municípios que têm influência em regiões específicas.