Josnei Di Carlo[1]
“[…] a proliferação dos ‘pseudoacontecimentos’ pré-fabricados […] decorre do simples fato de os homens, na realidade maciça da vida social atual, não viverem acontecimentos. Porque a própria história assombra a sociedade moderna como um espectro, surge uma pseudo-história construída em todos os níveis do consumo da vida, para preservar o equilíbrio ameaçado do atual tempo congelado.”
Guy Debord[2]
1
Na passagem do século XX para o XXI, o sucesso da trilogia cinematográfica Matrix levou Gangrena Gasosa, em seu Sarava Metal, a cantar que “Eu não entendi/ Matrix”[3]. A ironia é atual na medida em que o campo democrático e, principalmente, o Partido dos Trabalhadores (PT) não entenderam que não há como criar uma oposição dentro da Matrix bolsonarista. Precisam miná-la para impedir que a memória volte a ser recalcada em nome do pragmatismo[4]. Consequentemente, a espoliação e a violência podem ser sentidas novamente como estruturantes e não como vitimismo de quem tem seu lugar na sociedade determinado por ela e “opinião” de estudiosos da história do Brasil.
2
O bolsonarismo perverte a realidade concreta porque são as relações internas de seu discurso que provam a validade de seus argumentos. Sua retórica é implacavelmente lúdica. “O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas” – continua Johan Huizinga – “absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da ‘vida quotidiana’”[5]. Portanto, o bolsonarismo descarta a realidade concreta por ela não ser produto do seu enquadramento da vida social. A retórica autorreferente impõe o simulacro. Alçado ao cargo de diretor do Centro de Artes Cênicas da Fundação Nacional de Artes (Funarte) por Bolsonaro, o diretor de teatro Roberto Alvim sintetiza essa retórica em um post de 20 de junho em sua página do Facebook: “Quando um sujeito me processa por falar em guerra cultural, o que ele está fazendo é, exatamente, guerra cultural”[6]. A reação às suas palavras é a prova que ele precisa para convertê-las em um pseudoacontecimento. Uma mentira torna-se a verdade se o afetado por ela a desmentir. O bolsonarismo impõe as regras do jogo político enquanto seus adversários são reativos. O simulacro torna-se real se for imperioso desmentir cada mentira difundida pelo agente que o administra.
3
Não há como representar o bolsonarismo alegoricamente por ele já ser uma alegoria. Em grego, allegoría é “dizer alguma coisa diferente do sentido literal”. O termo refere-se a uma figura de linguagem em que se representa uma coisa para dar a ideia de outra[7]. Com a cena de coroação em Terra em Transe, Glauber Rocha fez uma alegoria do autoritarismo brasileiro. Em tom histérico e olhar siderado, Porfírio Diaz (Paulo Autran) discursa falando em “tradição”, “ordem”, “amor”, “harmonia” e “civilização” sem obliterar sua ação política orientada pela “força”[8]. O poder absoluto se apresenta dentro de uma moldura cordial, nos termos de Sérgio Buarque de Holanda[9]. Tornar o uso de uma caneta em espetáculo é a síntese da alegoria bolsonarista. A trivialidade de uma Bic contrasta com um projeto antinacional e antipopular. Oferece-se um símbolo para se retirar direitos e garantias constitucionais. Ao destacar que iria trocar a caneta francesa pela brasileira Compactor, após a crise diplomática com a França, o site de humor The piauí Herald lembra que não há mais “como ironizar a realidade quando o ocupante do cargo mais alto da República transforma a própria realidade num exercício de ironia”[10]. Assim, uma alegoria do bolsonarismo se realiza por mimese.
4
Para o bolsonarismo, não são os cidadãos que participam do jogo político, mas as reações mapeadas na Internet. Por causa do ambiente virtual, elas podem crescer exponencialmente com o uso de robôs e ser enviesadas pelos algoritmos das plataformas e redes sociais. Estima-se que 30% dos perfis no Twitter sejam falsos. Muitos deles são administrados por bots, que, programados, simulam interações humanas. “Para o uso político, eles têm chamado cada vez mais atenção. Muitas vezes, curtem e” – esclarece Thiago Rondon – “comentam em fotos, em outras, levantam até um assunto nas redes sociais, reagindo da maneira que seus programadores desejam”[11]. O YouTube tem de manter os usuários por mais tempo em sua plataforma para ficarem expostos ao maior número de anúncios que o mantém. Vicia-os, portanto, em nome do lucro. Os algoritmos organizam o conteúdo e criam demanda para novos vídeos. As recomendações para os usuários são geradas combinando suas interações e informações com os dados dos vídeos que assistiram. Os produtores de conteúdo têm acesso às métricas e informações sobre sua audiência. Cria-se, destarte, um incentivo para a criação de material bizarro, conspiratório e radical. Ao agregá-lo em suas pautas, a direita colocou-o no centro do debate público e conquistou a hegemonia. Analisando mais de treze mil canais de extrema direita, Jonas Kaiser notou que o YouTube “conecta diversos canais que poderiam estar mais isolados sem a influência do algoritmo, ajudando a unir a extrema direita”[12]. Na gramática bolsonarista, a vontade popular expressa a soberania dessa inteligência artificial. A democracia, aqui, afasta-se dos procedimentos para se orientar por comentários de plataformas e redes sociais. A concepção minimalista sua foi substituta por uma minionista. O bolsonarismo critica a representação política por administrar a pseudoparticipação política.
5
Se as fake news fossem espontâneas, seus resultados seriam imprevisíveis. Entre 16 de agosto e 25 de outubro de 2018, as agências de checagem catalogaram 123. Apesar de a Internet permitir a produção e a distribuição descentralizadas de conteúdo, as fakes news do período eleitoral tinham um padrão: 104 beneficiavam a candidatura de Bolsonaro[13]. Em vez de travar uma batalha discursiva, elas bombardearam qualquer comunicação dos cidadãos com o pluralismo de ideias. De um lado, a eficiência do ataque se mede pela crescente bipolaridade do campo político; de outro, o enquadramento maniqueísta do mundo social retroalimenta as fake news. A ação política do bolsonarismo está marcada pelo solipsismo por se dar conforme suas regras do jogo político. Na eleição presidencial de 2018, as propostas de governo se tornaram excessivamente impalpáveis. Em vez de os candidatos orientarem suas campanhas em torno de ideias, tiveram como norte as fake news, mesmo que tenha sido para desmenti-las. A principal vitória do bolsonarismo deu-se ao fazer o campo político se estruturar em torno de sua narrativa sobre o mundo social. Não é esquizofrênico em razão do simulacro que administra ter substituído a realidade concreta para todos os atores políticos.
6
O “mito” é um problema menor do que a mitologia. Bolsonaro é o meme político que passou a se identificar com o conjunto de valores que projeta as sombras que passaram a ser as imagens consumidas no Brasil. Sua habilidade reside no fato de ter se tornado o representante de um arco temático heterogêneo que se inicia com o revisionismo histórico, passa pelo politicamente incorreto[14] e moralismo evangélico para chegar à racionalidade neoliberal[15]. O bolsonarismo pode, sim, descartar Bolsonaro para preservar esse conjunto de valores.
7
Em 27 anos na Câmara dos Deputados, Bolsonaro representava os interesses de militares e policiais. Representando um segmento bem demarcado da sociedade brasileira, seus discursos e falas tinham uma amplitude maior por conta da centralidade da segurança pública neles. Pelo tema, então, atingia moradores das periferias urbanas afetados pela violência. Esse foi seu modus operandi na eleição presidencial de 2018 e é o mesmo na Presidência da República. Seus discursos e falas são direcionados a um núcleo duro, podendo atingir outros segmentos sociais por ondas concêntricas. A viralização pode se dar através da mobilização desse núcleo ou do engajamento provocado por um ou mais temas. A vitória de Bolsonaro foi um viral. Compreende-se sua queda de popularidade no governo[16] por precisar do núcleo duro para levar adiante as reformas neoliberais. Se gerar emprego e renda em um cenário de crise econômica, sua popularidade crescerá por ondas concêntricas, contribuindo para a reafirmação do conjunto de valores que representa. A queda de popularidade de Bolsonaro não indica enfraquecimento do bolsonarismo. Afinal, o pragmatismo impede qualquer enfrentamento ao simulacro que se mantém como a verdade sobre o mundo social. Nas palavras de Lula, em entrevista recente, “o Brasil é totalmente diferente da Bahia”[17]. Portanto, não são esses setores sociais que devem nortear a ação política. Daí a incapacidade da esquerda em mobilizar valores contrários ao bolsonarismo para dar consequência a eles[18].
8
Na gramática bolsonarista, direitos são privilégios e privilégios são direitos adquiridos pelos méritos de quem estruturou o Estado brasileiro para atender a seus interesses. O fato de a crítica burguesa ao Estado ser verossímil para setores populares é a prova mais eloquente do novo estágio do capitalismo. “A teoria só se realiza num povo na medida em que é” – para Marx – “a realização das suas necessidades”[19]. Com o bolsonarismo, elas se realizarão como estelionato. Assim, as reformas a atacar direitos são apresentadas como benéficas, apesar de visarem universalizar a precarização do trabalho e da vida.
9
O bolsonarismo é antiglobalista na medida em que o Brasil possa realizar a reprodução do capitalismo gore desimpedido de regulações. O globalismo pode ser tomado como o combate “ao derramamento de sangue explícito e injustificado” – começa Sayak Valencia Triana ao definir esse capitalismo – “frequentemente misturados com a precarização econômica, ao crime organizado, à construção binária do gênero e aos usos predatórios dos corpos” (tradução minha)[20]. Quando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, critica a globalização econômica por ela ter passado a se orientar pelo marxismo cultural está lamentado o fato de a exploração capitalista ter se tornada ainda mais pudica por causa da responsabilidade social e ambiental[21]. O mercado não pode ser orientado por leis humanas. O capitalismo gore tem de ser regido por um Deus do Velho Testamento para reproduzir-se. O bolsonarismo compreendeu que a espoliação e a violência são imanentes ao capitalismo no Brasil desde a colonização, porém a governança global, ao procurar tornar asséptica a exploração capitalista, passou a exigir o controle do atavismo escravagista da burguesia brasileira. Nicolau Sevcenko lembra que, após a Abolição, a sociedade foi deixando de tolerar a visão das brutalidades físicas. “Por isso os desnudamentos, humilhações e espancamentos são feitos no interior da Casa de Detenção” – continua – “ao contrário das cerimônias públicas de açoitamento, tão típicas da sociedade escravista”. Em sua analogia, “ninguém mais suporta ver um boi sendo morto a marteladas, mas também ninguém dispensa um bom filé, aromático e fumegante: melhor então não ver o boi”. Destarte, “a ordem social aparece igualmente como uma coisa dada por si”, conclui[22]. O bolsonarismo é a superação do recalque burguês. Daí o preâmbulo de Bolsonaro na abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU ser a parte mais sincera de seu discurso: “Obrigado a Deus pela minha vida, pela missão de presidir o Brasil e pela oportunidade de reestabelecer a verdade e o que é bom para todos nós” (grifo meu)[23]. Enquanto o globalismo é a internacionalização do capitalismo asséptico, Bolsonaro conclama por autodeterminação em defesa da acumulação sádica do capital.
10
No bolsonarismo, portanto, a realidade concreta tem de ser abatida constantemente como o albatroz pelos marinheiros no célebre poema de Charles Baudelaire:
Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio a singrar por glaucos patamares.
Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.
Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado![24]
[1] Doutor em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador colaborador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO/UFSC).
Notas:
[2] DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, p. 130, 1997.
[3] GANGRENA GASOSA. “Eu não entendi Matrix”. 2011. (3min7s). Disponível em: <https://youtu.be/HAyqFGhEY5o>. Acesso em: 25 set. 2019.
[4] Cf. MIGUEL, Luís Felipe. “Democracia e memória”. Blog da Boitempo, São Paulo, 23 nov. 2018. Disponível em: <https://blogdaboitempo.com.br/2018/11/23/democracia-e-memoria>. Acesso em: 25 set. 2019.
[5] HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2007, p. 33.
[6] ALVIM, Roberto. “20 jun. 2019, 13h58”. Disponível em: <https://www.facebook.com/roberto.alvim.9/posts/3332445166781753>. Acesso em: 25 set. 2019.
[7] CEIA, Carlos. “Alegoria”. E-Dicionários de Termos Literários, Lisboa. Disponível em: <http://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/alegoria>. Acesso em: 25 set. 2019.
[8] Terra em transe. Direção Glauber Rocha. Rio de Janeiro: Mapa Filmes do Brasil, 1967. On-line (108 min38s). Disponível em: <https://youtu.be/zYQecb9C0g4?t=6179>. Acesso em: 25 set. 2019.
[9] Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque. “O homem cordial”. In: Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, p. 139-151, 1995.
[10] THE PIAUÍ HERALD. “Bolsonaro, pare de roubar nossos empregos!”. The piauí Herald, Rio de Janeiro, 30 ago. 2019. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/herald/2019/08/30/the-piaui-herald-bolsonaro-pare-de-roubar-nossos-empregos>. Acesso em 25 set. 2019.
[11] FERRAZ, Luiza. “A maioria dos seguidores de Bolsonaro é fake? Entenda”. Tilt, São Paulo, 11 mai. 2019. Disponível em: <https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2019/05/11/fake-followers-audit-aplicativo-mostra-a-porcentagem-de-perfis-fake.htm>. Acesso em: 26 set. 2019.
[12] CÓRDOVA, Yasodara. “Como o YouTube se tornou um celeiro da nova direita radical”. The Intercept Brasil, Rio de Janeiro, 10 jan. 2019. Disponível em: <https://theintercept.com/2019/01/09/youtube-direita>. Acesso em: 26 set. 2019.
[13] MACEDO, Isabella. “Das 123 fake news encontradas por agências de checagem, 104 beneficiaram Bolsonaro”. Congresso em Foco, Brasília, 26 out. 2018. Disponível em: <https://congressoemfoco.uol.com.br/eleicoes/das-123-fake-news-encontradas-por-agencias-de-checagem-104-beneficiaram-bolsonaro>. Acesso em: 27 set. 2019.
[14] Cf. DI CARLO, Josnei; KAMRADT, João. “Bolsonaro e a cultura do politicamente incorreto na política brasileira”. Teoria e Cultura, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 55-72, jul./dez. 2018.
[15] Cf. DI CARLO, Josnei. “Da educação à doutrinação, da realidade ao simulacro, do bolsonarismo ao totalitarismo”. Boletim Lua Nova, São Paulo, 16 mai. 2019. Disponível em: <https://boletimluanova.org/2019/05/16/da-educacao-a-doutrinacao-da-realidade-aosimulacro-do-bolsonarismo-ao-totalitarismo>. Acesso em: 25 set. 2019.
[16] PEREIRA, Felipe. “Aprovação de Bolsonaro cai 16 pontos na região Sul, diz Ibope”. UOL, São Paulo, 25 set. 2019. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/09/25/sul-e-regiao-em-que-bolsonaro-mais-perdeu-aprovacao-16-pontos-a-menos.htm>. Acesso em: 26 set. 2019.
[17] ROVAI, Renato. “Íntegra da entrevista à Fórum: Lula é um gigante”. Fórum, Santos, 22 set. 2019. Disponível em: <https://revistaforum.com.br/politica/integra-da-entrevista-a-forum-lula-e-um-gigante>. Acesso em: 26 set. 2019.
[18] FACHIN, Patricia. “A oposição aos valores do bolsonarismo e a incapacidade de oferecer alternativas. Entrevista especial com Antonio Martins”. Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, 18 set. 2019. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/592681-a-oposicao-aos-valores-do-bolsonarismo-e-a-incapacidade-de-oferecer-alternativas-entrevista-especial-com-antonio-martins>. Acesso em: 26 set. 2019.
[19] MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, p. 152, 2005.
[20] TRIANA, Sayak Valencia. “Capitalismo gore y necropolítica en México contemporáneo”. Relaciones Internacionales, Madri, n. 19, p. 84 [83-102], fev. 2012.
[21] Cf. ARAÚJO, Ernesto. “About me”. Metapolítica 17, Brasília, s.d. Disponível em: <https://www.metapoliticabrasil.com/about>. Acesso em: 27 set. 2019.
[22] SEVCENKO, Nicolau. A revolta da vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Cosac Naify, p. 117-118, 2013.
[23] BOLSONARO, Jair Messias. “Assista à íntegra do discurso de Jair Bolsonaro na ONU”. 24 set. 2019. (31min27s). Disponível em: <https://youtu.be/7OfUQd45ETw>. Acesso em: 27 set. 2019.
[24] BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 111, 1985.
Referência imagética: Gabe.